09/03/2019

Śiva Sūtras de Vasugupta / capítulo 3

३- आणवोपाय [āṇavopāya] Terceiro Despertar [Método do Jīva]

1- आत्मा चित्तम् ॥ १॥ [ātmā cittam] ॥ 1॥
आत्मा [ātmā] Self individual* चित्तम् [cittam] mente*
O Self individual é a mente (constituída por buddhi, ahaṃkāra e manas) .
        Kṣemarāja: Cittam (mente no sentido de antaḥkaraṇa) é aquilo que é tocado pelo desejo por objetos dos sentidos, consiste em buddhi (intelecto), ahaṃkāra (senso do eu, ego), e manas (mente comum). Está sempre envolvido na reflexão, apropriação, e construção de pensamentos sobre os objetos. Essas atividades são realizadas respectivamente por buddhi, ahaṃkāra e manas. Esse mesmo citta é ātmā ou aṇu (o eu empírico, limitado). Ātmā é derivada da raiz ātman relacionada ao alento e ao movimento, significa o self, o princípio da vida e do sentimento. Devido à ignorância primordial de sua natureza real que é Cit (pura consciência transcendente), move-se constantemente e passa por várias formas de existência, prendendo-se a sattva, rajas e tamas. É por isso que é conhecido como ātmā ou aṇu (ser limitado).
         "Ātmā definido, antes, como "A Consciência que é onisciente e onipotente (caitanyan) é - o Ser ou a verdadeira natureza da realidade, foi assim definido com a intenção de expor sua natureza inerente e essencial. Agora, entretanto, a definição está sendo dada principalmente do ponto de vista de sua aparência na limitação. Esta definição é adequada à sua condição de limitação (āṇava daśā). Portanto, não há inconsistência entre a definição anterior e a posterior. Cit ou consciência universal durante o curso da manifestação se reduz a citta que consiste de buddhi, manas e ahamkara. A citta fica condicionada por seu desejo pelo prazer dos objetos dos sentidos. O constituinte de buddhi é principalmente sattva. o de manas é rajas e o de ahaṃkāra é tamas. Usando buddhi, manas e aharhkara, ele se move (atati) de uma forma de existência para outra. Citta é aṇu ou ātmā, ou seja, o eu individual neste contexto. Portanto, āṇavopāya está envolvido com buddhi, manas e ahaṃkāra."

2- ज्ञानं बन्धः ॥ २॥ [jñānaṃ bandhaḥ] ॥ 2॥
ज्ञानम् [jñānam] conhecimento produzido por citta* बन्धः [bandhaḥ] escravidão*
O conhecimento gerado pela mente (do ser limitado) é uma fonte de escravidão.
        Kṣemarāja: Os processos mentais relacionados com buddhi e ahaṅkāra que são cheios de prazer, dor e ilusão e manifestação de diferenças (dualidades), pertinente aos modos acima, são o que constituem o conhecimento (jñāna) do self empírico (aṇu). Esse conhecimento (limitado) é a fonte da escravidão. Sendo limitado por tal conhecimento, este self empírico (aṇu) fica confinado no (saṁsāra). O Tantrasadbhāva diz: "Preso a sattva, rajas e tamas e sabendo apenas o que os sentidos podem informar, o encarnado vagueia pela existência, movendo-se erraticamente."
A mesma ideia foi repetida nos seguintes versos de Spandakarika: "Sendo ligado pelo Puryaṣṭaka (corpo sutil) que surge dos tanmātras e de citta, o self empírico experimenta como uma criatura submissa prazer e dor que resultam das ideias que se originam do puryaṣṭaka e então ele se torna sujeito à existência transmigratória por causa da existência desse puryaṣṭaka. Eu, portanto, explicarei claramente o que causa a dissolução da existência transmigratória de tal indivíduo ". (Ill, 17-18). O Spandakārikā propõe os meios para a anulação desta existência transmigratória (saṁsāra).

3- कलादिनां तत्त्वानामविवेको माया ॥ ३॥ [kalādināṃ tattvānāmaviveko māyā] ॥ 3॥
कलादिनां [kalādinām] de kalā, etc * तत्त्वानाम् [tattvānām] princípios constituintes* अविवेकः [avivekaḥ] não discriminação * माया [māyā] māyā*
O yogin que não é capaz de possuir conhecimento indiferenciado (não dual) dos elementos, de kalā a pṛithvī (terra) que são a expansão da energia da ilusão (māyā śakti), apenas vive nesses elementos. 
        Kṣemarāja: Māyā é não discriminação (aviveka), isto é, considera idênticos aqueles que são considerados separados. "Aqueles" referem-se aos trinta e um elementos (tattvas) que começam de māyā tattva e terminam em pṛithvī tattva (terra) e são os trinta e um elementos existentes no mundo da ilusão. [No mundo da iluminação, existem cinco tattvas: śuddhavidyā, īśvara, sadāśiva, śakti e Śiva. Esses cinco elementos são puros. Os trinta e um elementos que constituem o saṁsāra, sendo cheios de ignorância, são impuros]. Saṁsāra começa com o elemento kalā e termina com a terra, sendo organizado na forma de Kañcukas (revestimentos de Māyā) e corpos sutis e densos. Em outras palavras, Māyā é apenas uma extensão da ignorância primordial da Realidade. Então, descendo da sua própria natureza real, primeiro há māyā e os cinco kañcukas, que são seis coberturas que vedam sua verdadeira natureza. Então há puryaṣṭaka, que é composto dos cinco tanmātras (elementos sutis), manas, buddhi e ahaṁkāra. Depois, há os cinco órgãos do conhecimento, os cinco órgãos da ação e os cinco elementos grosseiros.
        O Tantrasadbhāva diz: "A consciência do indivíduo empírico é reduzida à eficácia limitada por kalā (limitações do ser), os objetos dos sentidos são exibidos a ele através de vidya (conhecimento limitado); ele é afetado emocionalmente por raga (desejo por coisas particulares); ele é dotado de órgãos de percepção, dos sentidos e dos órgãos de ação. Portanto, surge a escravidão devido a Māyā. Esta escravidão é terrível para ele (daratmakah).
        Em resumo, os guṇas, (sattva, rajas e tamas) dependem dela (māyā) e também as atividades corretas e más dependem dela. Imbuído deles, ele está o sujeito à escravidão e permanece ligado a eles. "Também no Spandakārikā, a mesma ideia foi expressa de outra maneira no verso seguinte: "Esses (essas emanações particulares do Spanda), sempre com a intenção de esconder a verdadeira natureza do experiente, empurram as pessoas de mente não iluminada (não desperta) para o terrível oceano da existência mundana, que é difícil de atravessar." (l, 20)

4- शरीरं संहारः कलानाम् ॥ ४॥ [śarīraṃ saṃhāraḥ kalānām] ॥ 4॥
शरीरम् [śarīram] no corpo (físico, sutil e causal)* संहारः [saṃhāraḥ] dissolução* कलानाम् [kalānām] das partes*
A dissolução das partes dos tattvas no corpo (físico, sutil e causal) deve ser realizada por Bhāvanā (contemplação).
        Kṣemarāja: Por Śarīra (corpo) entende-se o corpo denso composto pelos cinco elementos grosseiros, o corpo sutil (consistindo dos cinco tanmātras, manas, buddhi e ahaṃkāra) e o corpo mais alto ou causal que consiste em energia vital e mente, sutis, até samanā. Neste corpo (isto é, no corpo físico, sutil e causal) a dissolução tem que ser contemplada (dhyatavyah) de todas as partes constitutivas (kalās) do tattva terra até Śiva nas causas precedentes por Bhāvanā ou pelo processo de pensar na combustão etc. (Deve ser acrescentado como a parte restante da sutra).
Como foi dito no Vijñānabhairava: "Deve-se contemplar sucessivamente por meio de Bhuvanādhvā etc., desde o grosseiro até o sutil, e do sutil até o causal, até que finalmente a mente esteja completamente dissolvida." (Verso 56)
Além disso: "Deve-se pensar que o corpo do yogin está sendo queimado por Kālāgni que surge da ponta do pé direito. Finalmente, há a percepção da luz de Śānta, ou seja, na qual não há o menor traço de diferença (dualidade)". (Verso 52)
Dessa maneira, há a descrição da dissolução em todos os āgamas. Portanto: "O samāveśaḥ (completa absorção na própria natureza essencial) que ocorre por meio de Uccāra, Karaṇa, Dhyāna, Varṇa e Sthānakalpanā é conhecido como āṇava samāveśaḥ". (Mālinīvijaya II, 21).

5- नाडीसंहार-भूतजय-भूतकैवल्य-भूतपृथक्त्वानि ॥ ५॥ [nāḍīsaṃhāra-bhūtajaya-bhūtakaivalya-bhūtapṛthaktvāni] ॥ 5॥
नाडीसंहार [nāḍīsaṃhāra] dissolução do fluxo de prana nos canais sutis* भूतजय [bhūtajaya] o controle sobre os elementos* भूतकैवल्य [bhūtakaivalya] a retirada da mente a partir dos elementos* भूतपृथक्त्वानि [bhūtapṛthaktvāni] separação dos elementos*
(O Yogin deve produzir) a dissolução (da energia vital) nos canais sutis, a conquista dos elementos brutos, o afastamento (de sua mente) dos elementos brutos (e) a separação dos elementos brutos (por meio de Bhāvanā).
        Kṣemarāja: Esses métodos devem ser realizados pelo yogin através do Bhāvanā, contemplação (isso deve ser adicionado ao sutra para garantir seu sentido). O yogin deve dissolver o saṁhāra (energia vital) que flui nos canais sutis e que transportam prāṇa, apāna, etc., no suṣumnā, canal do meio, cuja natureza é o fogo de udāna por meio do modo prāṇa - apāna, ié. interrompendo seu fluxo externo e interno reunindo-os no canal do meio.
        O Svacchandatantra diz: "Deve-se inspirar pela esquerda (narina) e expirar pela direita." Isso traz a limpeza dos nāḍīs (canais) e do nāḍī médio, que é o caminho para a liberação. Inspirando, expirando e retendo a respiração, diz-se que há três tipos de prāṇāyāma; todos são comuns e externos. Existem também três tipos de prāṇāyāma internos. Para o interno é necessário executar a expiração (recaka), a inspiração (pūraka) e a retenção (kumbhaka) sem tremor. Assim, os três prāṇāyāmas internos devem ser realizados ". (VII, Verso 294-296).
        A conquista dos elementos como terra, etc. significa controle sobre eles por meio de dhāraṇā. Como foi dito no mesmo livro: "Concentração no elemento ar, no dedo do pé esquerdo; no elemento fogo, no meio do umbigo; no elemento terra, na garganta; na água, na úvula, no ākāśa (éter) no topo da cabeça. Diz-se que essas concentrações produzem todos os poderes sobrenaturais "(VII 299-300) 
Bhūta-kaivalya significa pratyāhara ou a retirada da mente dos elementos. Como já foi dito no mesmo livro: "A transição do prāṇa do coração para o umbigo, e mantendo-o ali, a retirada da mente dos objetos dos sentidos e sua transição para o umbigo (pelo modo do pratyāhara). Este é o quarto prāṇāyāma "conhecido como o calmo ou tranquilo" (supraśāntaḥ) "(VII, 297). O significado do verso é que deve haver transição do prāṇa do coração para o umbigo, e retirada da mente dos objetos e sua transição também para o umbigo.
        Bhūtapṛthaktva significa separar a mente dos elementos e, assim, assumir a natureza do Self puro e livre. Como foi dito no próprio Svacchandatantra: "Ó deusa tendo perfurado todos os nós, como o coração, a garganta, etc. até o Unmanā pelos meios acima mencionados, e abandonando-os completamente, pode-se alcançar o estado da mais alta liberdade de espírito, isto é, estado Bhairava "(VII, 327) Bhuta-sandhana-bhuta-prhaktva-visva-samghattah que foi mencionado antes (em I, 20) acontece sem esforço no Śāmbhavopāya. Sob Āṇavopāya, tem que ser adquirido com esforço. Essa é a diferença.
6- मोहावरणात्सिद्धिः ॥ ६॥ [mohāvaraṇātsiddhiḥ] ॥ 6॥
मोहावरणात् [mohāvaraṇāt] um véu devido à ignorância* सिद्धिः [siddhiḥ] poder super-natural*
O poder super-natural é devido a um véu gerado pela ignorância.
        Kṣemarāja: Aquilo que ilude é moha; em outras palavras, é māyā. Em razão do véu gerado por esse moha, manifesta-se o poder sobre natural obtido por meio de dhāraṇā que aparece na forma de desfruto de diversas realidades (tattvas). Contudo, esse poder não denota a manifestação do mais alto tattva (Śiva). O Lakṣmīkaulārṇava diz: "O divino Senhor que é auto-existente, que não possui impressões residuais das vidas passadas, mas sendo iludido (por Sua própria māyāśakti) não percebe que Śiva está além de todas as construções mentais; que é a suprema morada (de todos); que não teve início e não terá fim e que está presente para todos os seres (como o seu Self mais profundo)".
        O que segue se aplica às pessoas cuja ilusão se desfez: "Deve-se recorrer à energia vital prāṇa (udāna) que está no meio entre as passagens do prāṇa e do apāna, e recorrer ao poder do conhecimento (jñāna-śakti), estabelecendo-se lá (ié. em jjñāna-śakti). Como a mais alta pulsação da consciência (Spanda ou vibração) que está além do sutil prāṇāyāma é obtida depois de abandonar o estado bruto da energia vital (prāṇāyāma bruto consistindo de puraka, recaka, kumbhaka), e também o prāṇāyāma sutil (que é interno, com udāna ascendendo dentro do susumna), este Supremo Spanda (Vibração) não mais permite a queda do aspirante.
        Deixando de lado até sons sutis sobrenaturais, etc., que são modos de sensação causados ​​pelos guṇas na Prakṛti e são experienciados pela mente, deve-se entrar no estado mais elevado com plena consciência do Self (sem qualquer construção mental). Diz-se que isto é pratyāhāra que corta o laço da existência transmigratória.
        A mais alta Realidade é onipresente e não pode ser meditada em qualquer forma objetiva. Transcendendo os atributos da mente, deve-se meditar na suprema consciência como a Luz experimentada em si mesmo como o pramata ou conhecedor. Isto é o que os sábios conhecem como dhyāna ou meditação. 
        Quando o supremo Self é sempre mantido na consciência pelo aspirante, isso é definido como o dhāraṇā que remove o nó da existência transmigratória. 
        Neste mundo, seja em si mesmo ou em todas criaturas, se alguém mantém a ideia de semelhança, ou seja, se alguém experimenta Śiva em tudo, como o Self, é conhecido como o mais elevado Samādhi ou perfeita concentração. '' (VIII, 11-18) 
        Portanto, o Mṛtyujit (Netratantra) diz, há samāveśaḥ (absorção) na mais alta realidade, também por dhāraṇā, etc., em um sentido superior, não meramente a manifestação de poderes super-normais limitados.
"O quinto sutra diz que prāṇāyāma, dhāraṇā, pratyāhāra e samādhi são todos āṇavopāya, todos kriya-yoga, práticas disciplinares que o aṇu ou o indivíduo (jīva) podem adotar e, por meio dessas práticas disciplinares, certos poderes sobrenaturais são obtidos.
O sexto sutra adverte que o indivíduo não deve visar a obtenção de tais poderes limitados e inferiores. Seu objetivo deve ser a auto-realização genuína que é, Realização de Siva. Em seguida, aponta que āsana, prāṇāyāma, pratyāhāra, dhāraṇā, dhyāna e samādhi, que são as técnicas usuais de yoga, devem ser tomadas em um sentido superior e não simplesmente como práticas mecânicas, disciplinares que estão no nível de āṇavopāya. Os níveis mais elevados dessas práticas pertencem a śāktopāya e o sutra sugere que āṇavopāya deveria levar a śāktopāya".
7- मोहजयात् अनन्ताभोगात् सहजविद्याजयः॥ ७॥ [mohajayāt anantābhogāt sahajavidyājayaḥ] ॥ 7॥
मोह [moha] ilusório, māyā* जयात् [jayāt] conquista* अनन्त [ananta] ilimitado, infinito* आभोगात् [ābhogāt] extensão* अनन्ताभोगात् [anantābhogāt] cuja extensão é ilimitada, ié. que pervade uma extensão ilimitada* सहजविद्या [sahajavidyā] conhecimento natural, inerente, imanente* जयः [jayaḥ] domínio*
Pela conquista da ilusória māyā, em sua extensão infinita, há o domínio do conhecimento natural e inerente da Realidade.
        Kṣemarāja: Pelar 'conquista' significa subjugação de moha (ilusão), isto é, de māyā, que é um vínculo que se estende até samanā, um vínculo de natureza da ignorância primordial. Por qual tipo de conquista? Através desse tipo de conquista que é ilimitada, ou seja, que se estende até à anulação dos vestígios residuais da ignorância. Por tal conquista há o domínio, ou seja, aquisição do conhecimento inerente definido no verso "Porque ela traz a investigação da característica sem começo de Śiva etc. ié. a Sua absoluta Liberdade ou Svātantrya".
        O domínio de sahaja vidyā ou conhecimento inerente tem sido falado no contexto de āṇavopāya porque até āṇavopāya deve terminar no Śāktopāya. Então, o Svacchanda Tantra, começa com "Ó abençoado, há uma rede infinita de laços alongando-se para samanā" e termina com os seguintes versos: "Abandonando a identificação do Self com vínculos existentes até Samanā vê a natureza essencial de si mesmo como consciência pura. Isso, no entanto, apenas equivale a inerência do Self (atmavyapti). A inerência em Śiva (Śiva-vyapti) é diferente disso, ié. de Ātmavyāpti - lit. inerência no Ser. Quando objetos desejados (arthas), como a onisciência, etc., são contemplados dentro de si mesmo, como algo que permeia tudo, há inerência em Śiva. Isso se torna um meio eficaz para o desenvolvimento de caitanya ou consciência como Svatantrya (liberdade absoluta)"(IV, 434-435).
        Como foi dito no próprio Svacchanda: "Portanto, abandonando a consciência meramente pura ou simplesmente inerente ao Ser (ātma-vyāpti) (como a meta), devemos nos apegar ao vidyā tattva. Esse vidyā tattva deve ser conhecido como unmanā. Manas é apenas uma noção ou desejo. Esse tipo de conhecimento é apenas gradual, avançando passo a passo, por graus, enquanto unmanā é conhecimento de uma só vez e perene. Porque não há outro vidyā (conhecimento) como este, portanto é o mais alto vidya. Por este conhecimento, alcança-se as qualidades mais altas como onisciência, etc. simultaneamente. É chamado Vidyā, porque traz a investigação da característica sem começo de Śiva, Svātantrya-Śakti, porque traz o conhecimento do Self Superior e porque dissipa tudo o que não é o Self Superior. Estabelecido naquele (unmanā), pode-se manifestar a mais alta luz (luz da consciência - cit-jyoti) a mais alta causa (isto é, o Supremo Śiva é a fonte de toda manifestação)" (IV, 393-397).

8- जाग्रद्द्वितीयकरः ॥ ८॥ [jāgraddvitīyakaraḥ] ॥ 8॥
जाग्रत् [jāgrat] vigília, desperto* द्वितीय [dvitīya] o segundo, ou seja, o mundo* करः [karaḥ] um resplendor de luz*
(Ele é) aquele que está sempre desperto, ou seja, que está sempre unificado em unmana, para o qual o mundo aparece como sua refulgência de luz
        Kṣemarāja: Tendo obtido o śuddha-vidyām (o conhecimento puro) com total identificação com ele, o yogin permanece desperto (jagrat). Em relação ao seu próprio senso do Eu (o aspecto Aham que consiste no perfeito vimarśa), aquilo que aparece como segundo (a porção Idam ou Isto), ié. o mundo aparecendo como um objeto (para o Eu supremo), como sua refulgência de luz (o sentido é que o mundo aparece como sua própria luz). O Vijnanabhairava diz: "Onde quer que através dos sentidos a consciência do Senhor se manifeste, apenas consciência é o substrato dessa aparência. Percebendo isso, (o yogin) é dissolvido em Cit ou consciência (que é o substrato do universo) e, assim, experimenta toda a plenitude do ser, ié. há um aspecto completo de bhairava nele "(Verso 117).
O Sarvamangala também, diz: "Existem apenas duas entidades, śakti (energia, poder) e o possuidor daquela śakti. O possuidor da śakti é o grande Senhor (Śiva) e Sua śakti constitui o mundo inteiro ".

9- नर्तक आत्मा ॥ ९॥ [nartaka ātmā] ॥ 9॥
नर्तकः [nartakaḥ] dançarino no palco do mundo, ator* आत्मा [ātmā] self*
Aquele que percebe sua natureza espiritual essencial é o Self que é apenas o ator (no palco do mundo). 
        Kṣemarāja: Ele atua e dança ié. ele exibe em si mesmo, por seus movimentos lúdicos, variados papéis de sua vigília, etc., que são baseados em sua natureza essencial, que é ocultada internamente. Daí seu ātmā é (como) um dançarino ou ator. Como foi dito no verso de louvor proferido pela deusa na sétima seção do Naiśvāsatantra intitulado "Deusa e Deus como dançarino": "Em um aspecto Você é o Ser (ātmā) interior, um dançarino, (em outro aspecto) Você é o preservador de sua natureza essencial como o Ser Supremo."
        Bhaṭṭaśrīnārāyaṇa também diz em seu Stavacintāmaṇi: "Ó Siva, você produziu o drama dos três mundos que contém a verdadeira semente ou fonte (bīja) de tudo que foi manifestado. Tendo apresentado a parte introdutória do drama, Oh Hara, que poeta além de Você está apto a conduzi-lo à sua conclusão" (V 59).
        No Īśvarapratyabhijñā que contém a secreta doutrina de todos āgamas, também diz: "Quando o mundo inteiro está dormindo apenas o Supremo Senhor (paramaīśvaraḥ), aquele que põe em movimento o drama dançante ié. a transmigração cheia de miséria (saṁsāra), está desperto.

10- रङ्गोऽन्तरात्मा ॥ १०॥ [raṅgo'ntarātmā] ॥ 10॥
रङ्गः [raṅgaḥ] palco* अन्तरात्मा [antarātmā] o Self interior, os aspectos sutis e causais que contêm a vida interior do indivíduo *
A alma interior constitui o palco (do Self que é o ator).
        Kṣemarāja: O lugar onde o Self se deleita com a intenção de exibir o drama do mundo é o raṅga ou o palco, ou seja, o lugar onde o Self adota os vários papéis. Antarātmā é a alma ou ser (jīvaḥ) que é interno em relação ao corpo físico. Essa [alma interior] de natureza e forma sutil (puryastaka rupa) é uma manifestação contraída cujo constituinte principal é o vazio ou o prana. [A palavra interior, isto é, jīva, é usada relativamente ao corpo externo]. Tendo plantado os pés nesse palco manifesta o drama do mundo por uma sucessão de movimentos (spanda) dos seus próprios sentidos internos.
       O Svacchandatantra diz "Entrando no puryaṣṭaka (corpo sutil) e movendo-se em todas as formas de existência, ele é conhecido como antarātmā (alma interior), preso pelos vestígios residuais do karma". (XI, 85)

11- प्रेक्षकाणीन्द्रियाणि ॥ ११॥ [prekṣakāṇīndriyāṇi] ॥ 11॥
प्रेक्षकाणि [prekṣakāṇi] espectadores* इन्द्रियाणि [indriyāṇi] os sentidos*
Os sentidos (do yogin) são os espectadores (de sua atuação).
      Kṣemarāja: Os sentidos, como os olhos, etc., do yogin, testemunham interiormente seu íntimo Self cheio do deleite em exibir o drama do mundo (saṁsāra). Pelo desenvolvimento do desempenho do drama, eles fornecem ao yogin a plenitude do êxtase estético em que o senso de diferença (dualidade) desapareceu. Como o Upanisad diz: "Algum homem sábio, desejando provar a imortalidade com olhos revertidos (isto é, introspectivamente), vê o Self imanente" (Katha II, 4, 1).
        "Assim, os órgãos cognitivos de um yogī percebem a natureza real do ser universal de um modo interno, não externo. E quando essa realidade do self é revelada por esses órgãos, então a diferença inerente (vibhāgam) é totalmente destruída e desaparece. Seus órgãos se enchem de alegria universal e independência absoluta (svātantrya)."
12- धीवशात्सत्त्वसिद्धिः ॥ १२॥ [dhīvaśātsattvasiddhiḥ] ॥ 12॥
धीवशात् [dhīvaśāt] através da inteligência espiritual superior* सत्त्व-सिद्धिः [sattva-siddhiḥ] realização da Luz interior do Ser*
Através da inteligência espiritual superior, há a realização da Luz do Self.
        Kṣemarāja: Dhī significa a inteligência proficiente na consciência (vimarśana) da natureza essencial. Através dela, há a realização da sattva que significa o sutil pulsar (spanda) interno da Luz do Ser. No drama também a atuação da condição mental interior é alcançada através do talento da inteligência (buddhi).
        "No comentário sobre este sutra também, há duplo sentido em Sattva e dhi. Sattva neste contexto não se refere ao constituinte de Prakṛti, mas o pulsar da perfeita consciência e dhi não significa mera inteligência, mas ṛtaṃbharā prajñā, despertar interior carregado de verdade. O yogin percebe o sattva (a luz da natureza essencial do Ser) através da dhī (a intuição espiritual)."

13- सिद्धः स्वतन्त्रभावः ॥ १३॥ [siddhaḥ svatantrabhāvaḥ] ॥ 13॥
सिद्धः [siddhaḥ] é alcançada* स्वतन्त्रभावः [svatantra-bhāvaḥ] o estado de ser livre, liberdade*
A liberdade é alcançada.
        Kṣemarāja: Siddhaḥ significa "alcançado, atingido"; svatantrabhāva significa 'Liberdade (svātantryam) que é da forma de conhecimento e atividade inerente (sahaja) e pode trazer todo o universo sob seu controle'. 
        Como foi dito por śrī Nāthapāda: "Deve-se recorrer ao Svātantrya Śakti (o poder da Liberdade Absoluta). Ela (Svatantrya Śakti) é Kālī, a Mais Alta (parā) Kalā, Śakti ou Poder. 
      O Svacchandatantra também, diz: "Todos os tattvas (36), todos os seres vivos, todos os mantras e as letras que são conhecidos; estão sempre sob o controle [do yogin] que se realizou como, não-diferente de, Śiva". (VII, 245).
14- यथातत्र तथान्यत्र ॥ १४॥ [yathātatra tathānyatra] ॥ 14॥
यथा [yathā] como* तत्र [tatra] lá no corpo* तथा [tathā] assim * अन्यत्र [anyatra] em outro lugar*
Como ele (o yogin) [pode manifestar a Liberdade] em seu próprio corpo, ele pode estar, também, em outro lugar.
        Kṣemarāja: Como o yogin pode revelar em seu próprio corpo esse poder de manifestação, [esse poder de manifestação] do sempre vigilante yogin, também, pode prevalecer em outros lugares.
        O Svacchanda diz: "Ele (o senhor dos yogins) anda livre no começo, no meio, até o fim". (VII, 260).
        O Spandakārikā também diz: "Esse princípio divino do Spanda deve ser cuidadosamente e fielmente estudado (pelo qual essa classe de órgãos e instrumentos (intelecto, ego, mente e sentidos), embora inconsciente atue como consciente adquirindo o poder de ir em direção a um objeto, mantendo-o em percepção e dissolvendo-o no próprio Ser). Essa liberdade do princípio do Spanda é natural e predominante em todos os lugares. "2 (1, 6-7).
15- बीजावधानम् ॥ १५॥ [bījāvadhānam] ॥ 15॥
बीज [bīja] semente, a fonte do mundo* अवधानम् [avadhānam] atenção (completa)*
Ele deve dar atenção total à Luz ativa da consciência, a fonte do mundo.
        Kṣemarāja: "Deve ser concedida ou prestada" (kartavyam), isso deve ser adicionado ao texto. Bījam significa a fonte do universo - a Luz ativa da consciência, a mais alta Śakti ou poder que é a causa do universo e cuja natureza consiste na cintilante e perfeita consciência do Self. 
       O Mrtyujit (Netratantra) diz: "Ela (Para Śakti) é a fonte de todos os deuses, e das várias Śaktis ou poderes, de muitas maneiras. Esta Matriz é da natureza do fogo e da lua. Dela procede tudo." (VII, 40V no Netratantra). "O yogin deve dirigir sua atenção para ParaŚakti, ié. manter a concentração mental na semente, constantemente."
16- आसनस्थो सुखं ह्रदे निमज्जति ॥ १६॥ [āsanastho sukhaṃ hrade nimajjati] ॥ 16॥
आसनस्थः [āsanasthaḥ] estabelecido no mais alto poder de Sakti* सुखम् [sukham] facilmente* ह्रदे [hrade] no lago, aqui - no oceano da imortalidade* निमज्जति [nimajjati] mergulhado*
Estabelecido no mais alto poder da divina Śakti, ele é facilmente absorvido no oceano da imortalidade.
        Kṣemarāja: Aquilo no qual (o yogin) se senta com um senso de plena identificação, com a unidade ou identidade, é asana ou assento. O "assento" nesse contexto é o poder supremo da Śakti. 'Ele senta lá' significa 'deixar todos os tipos de práticas superiores e inferiores envolvendo esforço como meditação, concentração etc., ele está sempre atento a esse Poder de maneira introvertida'. Sem fazer nenhum esforço, mergulhando (nimajjati) (ié. é identificado-se com o oceano da imortalidade) afogando todas as impressões da limitação do corpo etc. no mais primoroso oceano límpido da imortalidade (hrade) que tem a característica de brotar (ucchalatta yogini) e é a fonte da expansão do contínuo fluxo universal.
        O Mrtyujit (Netratantra) diz: "Nem meditar em algo acima de, nem no meio, nem em algo abaixo, nem na frente, nem atrás, nem em ambos os lados, nem em algo dentro do corpo, nem deve meditar em algo externo. não deve-se fixar o olhar no céu, nem em algo abaixo, nem fechar os olhos, nem manter os olhos abertos, nem piscar, nem meditar em algo como suporte (avalambam) (como imagem, figura etc.) nem sobre a negação do apoio [niralambam] nem sobre um suporte, repetidamente (salambam), nem sobre os sentidos, nem sobre os seres, nem sobre as percepções sensoriais como o som, o tato, o sabor etc. Deixando de lado todo suporte, tendo-se estabelecido em samadhi, só deve permanecer identificado com a mais alta realidade. Diz-se que é o estado mais elevado do Ser Supremo (parama-ātmanaḥ). Essa condição não tem nenhuma aparência externa, nada aparece ou se manifesta nesse estado. Se alguém alcança esse estado, não retorna mais (ié. ele é libertado da existência transmigratória.)" (VIII, 41-45).

17- स्वमात्रनिर्माणमापादयति ॥ १७॥ [svamātranirmāṇamāpādayati] ॥ 17॥
स्वमात्रा [svamātrā] a medida da Consciência, ou seja, aquele aspecto da Consciência que condensa* निर्माणम् [nirmāṇam] produção, criação, fabricação, formação* आपादयति [āpādayati] efeitos, traz, produz*
Ele pode produzir formas de acordo com essa dimensão criativa da consciência na qual está estabelecido.
        Kṣemarāja: Svamātrā significa a dimensão relacionada à sua própria consciência criativa, isto é, o aspecto da essência da consciência que condensa De acordo com a dimensão da criatividade da Consciência, ele produz objetos ou seres como deseja, ié. manifesta as coisas que produz. O Svacchanda diz: "isso só existe como grosseiro, ó querido, devido ao seu desejo de parecer grosseiro. Isso aparece de maneira diferente, se seu desejo for de parecer sutil" (IV, 295).
        O Īśvarapratyabhijñā, diz: "Por causa do poder do pensamento criativo (vimarśaśakti), Ele faz com que ele mesmo se torne o objeto do conhecimento. O objeto não tem existência separada. Se Ele dependesse de um objeto (algo fora de Si mesmo) para a criação, sua liberdade absoluta seria violada". (l. 5, 15).
        Nos Āgamas, também, se diz: "Ó querido, aquele que conhece por meio do que provém da boca de seu guru que a água e o gelo são (essencialmente) o mesmo (é liberado). Para ele, não há nada mais a ser feito. O estado de ter um último nascimento lhe pertence (ié. ele não terá nenhum nascimento posterior), pois, tendo atingido a meta da existência, ele não necessita mais de saṁsāra ou transmigração.
        O mesmo ponto de vista foi exposto no seguinte verso do Spandakārikā: "Aquele que tem esse conhecimento ou compreensão e está constantemente unido (com o Ser Supremo) vê o mundo inteiro como um jogo (divino). Ele está libertado em vida (jīvanmuktaḥ), (sobre isso) não há nenhuma dúvida"(II, 5). "Quando o yogin adquire o poder de śuddha-vidyā, ele está estabelecido na Consciência Criativa e, de acordo com a medida dessa Consciência, ele pode criar criaturas e objetos (vedaka e vedya). A dúvida de que um objeto é inteiramente diferente do sujeito, como, então, o yogin pode criar um objeto, é infundada, pois a própria Suprema Consciência aparece como sujeito e objeto. Quando o poder da ParaŚakti é alcançado, não pode haver dificuldade em aparecer como Sujeito ou objeto, pois a consciência é ambos."
18- विद्याविनाशे जन्मविनाशः ॥ १८॥ [vidyāvināśe janmavināśaḥ] ॥ 18॥
विद्या [vidyā] Sahaja Vidya* विनशे [vinaśe] Tão solitário quanto a vidya não desaparece* जन्मविनाशः [janmavināśaḥ] há desaparecimento (da possibilidade) de outro nascimento*
Quando Suddha vidya é permanente, a possibilidade de outro nascimento [para o yogin] desaparece completamente.
        Kṣemarāja: Enquanto o sahaja ou suddha vidya não desaparecer, isto é, no caso de sua constante aparição como uma realidade emergente, a cessação do (outro) nascimento consistindo da multidão do corpo, dos sentidos, etc., cheios de miséria, e provocado pelas próprias ações (karma), juntamente com a cooperação da ignorância (na forma de āṇava e māyīya mala), é plenamente realizada.
        O Sri-Kanthi diz, "Se deixar o mundo com sua extensão de fenômenos aceitáveis ​​ou rejeitáveis, palha, folha, pedra, junto com os móveis e imóveis existentes, desde Śiva tattva até terra tattva, acompanhados de entidades positivas e negativas, meditando-se sobre todos como Śiva, (o yogin) não precisa passar por um novo nascimento."
        Também no Svacchanda está escrito: "A liberação de uma pessoa adquirida através de uma tradição de mestres espirituais é excelente e pura. Tendo-a experimentado, a pessoa se torna liberada enquanto viva, e depois de (morrer) não nasce novamente."

19- कवर्गादिषु माहेश्वर्याद्याः पशुमातरः ॥ १९॥ [kavargādiṣu māheśvaryādyāḥ paśumātaraḥ] ॥ 19॥
कवर्गादिषु [kavargādiṣu] grupo 'ka' e outros grupos de letras* माहेश्वरी-आद्याः [māheśvarī-ādyāḥ] Mahesvari e outras divindades* पशुमातरः [paśumātaraḥ] que são as mães dos seres limitados e empíricos*
Māheśvarī e outras divindades que atuam no grupo 'ka' e outros grupos de letras e que são as mães de seres limitados (tornam-se suas divindades governantes).
        Kṣemarāja: "Tornam-se suas divindades governantes", isso deve ser adicionado ao sutra. "Consta-se que essa Śakti ou Poder do Criador do mundo está intimamente unida a Ele - Ela se torna icchā (força de vontade) quando Ele quer criar. Observe, como Ela, apesar de uma, torna-se muitas. Ao anunciar categoricamente que "Este cognoscível é assim, e não o contrário" diz-se que ela é jñāna-śaktiḥ (o poder do conhecimento) neste mundo. Mas quando Ela aparece assim: "Que essa coisa se torne de tal natureza e então, ao fazer essa (coisa) assim" diz-se que Ela é kriya-śaktiḥ (o Poder de Ação).
        Sendo assim de dois tipos, ela (Śakti) passa por inúmeras mudanças de acordo com os objetos desejados, é como uma joia do pensamento (cintā-maṇiḥ) que concede ao seu possuidor todos os desejos. Então, quando ela assume o aspecto de mãe, ela é dividida de duas maneiras, nove maneiras, e quando se divide em cinquenta maneiras, torna-se portadora de uma grinalda (mālinī) de cinquenta letras (alfabeto sânscrito). Com a divisão de bīja e yoni, ela é de dois tipos. As vogais são consideradas como bīja (semente). Com ka e outras consoantes, diz-se que ela é yoni. Segundo a divisão dos grupos das consoantes, ela é de nove tipos. Nesse contexto, bija (a vogal) é chamada Śiva e yoni (a consoante) é chamada Śakti. Segundo a divisão de oito grupos de letras, há um grupo de oito divindades, como Mahesvari e outras. De acordo com a divisão letra por letra, ela brilha como cinquenta raios (de cinquenta letras). Também é indicadora dos Rudras, cujo número, também, é cinquenta. (Mālinīvijayatantra III, 5-13).
        Assim, conforme exposto no Mālinīvijayatantra, a Suprema Fala do Ser Supremo se expande, recorrendo às formas de icchā (vontade) jñāna (conhecimento) e kriyā (ação); [continuando a expansão] assume as formas de vogal e consoante, grupos de letras, letras pertencentes a esses grupos, Śiva, Śakti, Māheśvarī e outras divindades, ela se torna Mātṛkā na forma de letras de 'a' a 'ksa'. 
        Em todos os experimentadores, em diversos estados de conhecimento com construção de pensamento e conhecimento sem construtos, Ela realiza a aplicação de palavras grosseiras e sutis por meio da consciência interior. Através das divindades que presidem os grupos e as letras denotadas por esses grupos, ela exibe de várias maneiras maravilha, alegria, medo, atração, aversão etc., e ao ocultar a natureza independente e ilimitada da consciência, ela produz identificação com um contraído, condicionado e dependente corpo.

20- त्रिषु चतुर्थं तैलवदासेच्यम् ॥ २०॥ [triṣu caturthaṃ tailavadāsecyam] ॥ 20॥
चतुर्थम् [caturtham] O quarto estado de consciência* तैलवत् [tailavat] como azeite* त्रिषु [triṣu] nos três estados [de consciência] vigília, sono e sono profundo* आसेच्यम् [āsecyam] deve fluir*
O quarto estado (turya) [deve ser derramado] como óleo, de modo que ele permeie os outros três: vigília, sono e sono profundo.
        Kṣemarāja: Triṣu significa os três estados (vigília, sono e sono profundo). Caturtham, o quarto, significa a condição que consiste no elixir da bem-aventurança cuja natureza é a luz de suddha vidya (conhecimento puro). Tailavat significa "à medida que o azeite se espalha gradualmente e penetra cada vez mais em seus receptáculos", da mesma forma, o quarto deve ser derramado nos estados de vigília, sono e sono profundo. 
        Por meio do mecanismo de firme apreensão, ié. de atenção fixa no Ser, que é uma Testemunha (o yogin) também deve permear o estado intermediário com o elixir do turya (o quarto estado), que eclode nos pontos inicial e final onde existe a cessação de unmeṣa (exibição da manifestação universal), para que a tríade do estado de vigília, sonho e sono profundo possa adquirir a condição de completa identificação com ele (Turya).
        No sétimo Sutra sob a primeira Seção, declarou-se a existência do quarto estado cujo elixir que se difunde nos estados (de vigília, etc., no caso de alguém que está dedicado a obter firmemente a contínua consciência do grupo de poderes, ou simplesmente em alguém no qual ocorra espontaneamente esse Quarto Estado.
        No sutra l- 11, a dissolução da vigília e de outros estados foi demonstrada pelo método do haṭhapāka, (assimilação por meio da força ou obstinação) de acordo com a técnica do Śāmbhavopāya. Por meio do presente sutra, afirma-se que, pela técnica de firmeza apropriada do āṇavapāya, os três estados da vigília, etc., devem se tornar como a bainha de uma espada saturada com o elixir do turya [Assim como uma bainha é diferente da espada, mas pode segurá-la completamente dentro de si, então os três estados são diferentes do quarto, mas podem ser completamente saturados com o seu elixir]. Essa é a diferença entre esses sutras (l- 7, l-11 e o atual).

21- मग्नः स्वचित्तेन प्रविशेत् ॥ २१॥ [magnaḥ svacittena praviśet] ॥ 21॥
मग्नः [magnaḥ] mergulhando, imergindo* स्वचित्तेन [svacittena] com a própria mente* प्रविशेत् [praviśet] deve-se entrar*
Deve-se entrar nele [Turya] mergulhando com uma consciência do Eu interior sem construção mental. [Bhaskara lê svacitte em vez de svacittena e interpreta svacitte como svatmani - em seu Self essencial. Segundo ele, o sutra significa que se deve (mentalmente) mergulhar em seu Self essencial.]
        Kṣemarāja: O Mrtyujit (Netratantra) diz, começando com: "Deve-se abandonar o prāṇāyāma bruto e até o sutil interno, assim a suprema Vibração (spandanam) da consciência que está além do prāṇāyāma sutil é obtida", e terminando com: "entrar no estado mais alto com a mente como um conhecedor" (VIII, 12).
        De acordo com o processo apontado pelo Mrtyujit, deve-se, abandonar os métodos grosseiros como prāṇāyāma, meditação, concentração, etc., deve-se entrar (ou seja, mergulhar em Turya com a mente, ou seja, com uma consciência sem pensamentos cuja natureza é uma alegria interior introvertida da consciência do Eu. De que maneira? Mergulhando nele, ié. extinguindo a ideia do corpo, prana etc. como sendo o conhecedor (o próprio ser como testemunha) por meio de imersão nele mesmo, no elixir da bem aventurança da consciência (cit) em Turya.
        O Svacchandatantra diz: "Abandonando toda atividade mental, o yogin deveria unir-se a Śiva apenas com bodha, ié. uma consciência sem qualquer estrutura de pensamento (bodharūpeṇa). Então adquire o status de Śiva (isto é, identificado com Śiva) e o eu empírico limitado é libertado do oceano da existência transmigratória". (IV, 437)
        O Vijnanabhairava também diz: "Ó querido, quando mente, intelecto, energia vital e eu empírico limitado - estes quatro são dissolvidos completamente, então surge a natureza essencial Bhairava (o Ser Supremo)". (Verso, 138). A mesma ideia foi expressa no seguinte verso de louvor no Jnanagarbha: "Quando, ó mãe, depois de abandonar completamente todas as atividades mentais, surge uma condição esplêndida que liberta do apego às atividades sensoriais, então pela tua graça aquele estado supremo é realizado imediatamente. Nesse estado supremo chove o néctar do ilimitado e felicidade inigualável. Isso foi composto por Pradyumnabhattapada, um aluno de Kallata.

22- प्राणसमाचारे समदर्शनम् ॥ २२॥ [prāṇasamācāre samadarśanam] ॥ 22॥
प्राण [prāṇa] prāṇa, energia vital* समाचरे [samācare] de forma adequada e lenta disseminação* समदर्शनम् [samadarśanam] consciência de unidade*
Quando o prāṇa do yogin se propaga de forma adequada e lenta (então), ele tem consciência de unidade (Turya).
        Kṣemarāja: Prāṇasya significa "do prāṇa" consagrado pelo aroma de Śakti que é o esplendor de Śiva. 'Sam' em samācāre significa Samyak, isto é, pela força de agarrar firmemente o ser interior, na qual todos os nós (granthi) estão abertos, ié. desatados. 'Acare' significa espalhar-se lentamente para o exterior. Samadarśanam significa "consciência que percebe tudo uniformemente como um campo de consciência (Cit) e bem aventurança". Isso é o que ele experimenta como Consciência de Unidade (Turya). 
        O Ānandabhairava diz: "Desistindo das práticas costumeiras, deve-se recorrer ao não-dualismo que traz libertação. Então a sua atitude para com todos os deuses se torna a mesma, e também para todas as castas e as fases da vida. Ele considera todas as coisas iguais. Ele é livre de todos os vínculos". Portanto, foi dito no comentário sobre o Īśvarapratyabhijñā: "A verdadeira natureza do universo é alcançada por aqueles que se elevaram acima do conhecimento limitado de objetos externos, mesmo que buddhi e prana estejam ativos, eles têm a experiência de todo o universo como o Self."

23- मध्येऽवरः प्रसवः ॥ २३॥ [madhye'varaḥ prasavaḥ] ॥ 23॥
मध्ये [madhye] estágio intermediário* अवरः [avaraḥ] inferior* प्रसवः [prasavaḥ] geração, surgem (estados de consciência)*
No estágio intermediário, surgem estados mentais inferiores.
        Kṣemarāja: No caso do yogin que desfrutou do deleite de Turya (consciência transcendental) nos pontos inicial e final dos três estados comuns de consciência, surgem, na fase intermediária, os estágios inferiores da mente, característicos do curso normal da vida. 
        O Mālinīvijayatantra diz: "Mesmo quando alguém obtém alguma impressão do estado transcendental, se não está alerta, então os vināyakās (demônios) o induzem a prazeres transitórios. Portanto, aquele que deseja obter o estado mais elevado não deve ter nenhum apego por estes prazeres transitórios". Isso, também, foi citado anteriormente (ll- 10).

24- मात्रावप्रत्ययसन्धाने नष्टस्य पुनरुत्थानम् ॥ २४॥ [mātrāvapratyayasandhāne naṣṭasya punarutthānam] ॥ 24॥
मात्रा [mātrā] objetos* स्वप्रत्यय [svapratyaya] sobre a união da consciência do eu real* सन्धाने [sandhāne] dos perdidos* नष्टस्य-पुनः- उत्थानम् [naṣṭasya punaḥ-utthānam] subindo novamente*
Quando a consciência do eu real se une aos objetos, o estado transcendental da consciência [a identidade real] que desapareceu aparece novamente.
        Kṣemarāja: Mātrāsu significa união da real consciência do Eu com objetos. "Tudo o que é percebido através dos olhos, o que quer que se torne um objeto de consciência através da palavra, o que quer que a mente pense, o que quer que o intelecto determine, quaisquer coisas das quais o ego incorpore à consciência empírica, como um objeto de consciência, mesmo o que não existe (ou é apenas uma questão de imaginação ou fantasia), a Luz da Consciência ou Paramaśiva deve ser diligentemente investigada em tudo isso ". (XII, 163-164 no Svacchandatantra). 
        Assim, de acordo com o que foi apontado no Svacchandatantra, no caso do yogin que se torna consciente de que a sua natureza é um campo de Consciência (cit) sempre pensa em todos os casos na forma "Eu (aham) sou esse universo", há novamente o reaparecimento ou surgimento da sua própria natureza essencial, repleta da Bem-aventurança do (aparentemente) removido Turya, devido ao aparecimento de estados mentais inferiores, mencionados anteriormente. [Como o yogin não estava suficientemente atento, Turya ou o Quarto Estado se ocultou dele]. Em outras palavras, o yogin experimenta completa realização em sua identificação com o quarto estado de consciência. 
        O Svacchandatantra, também, diz: "começando com: 'Como a mente dos yogins à força move-se de um lado para outro (atrás de objetos de prazer)'; e terminando com: 'Cuja mente está repleta da Suprema Realidade, estável, totalmente satisfeita em todos os casos, sua mente não se desvia, mesmo quando ele passa por todos os tipos de circunstâncias. Onde quer que sua mente se mova, ele deve pensar em Śiva. Como tudo é Śiva, aonde mais sua mente irá? Na apreensão de todos os objetos, em todos os prazeres dos sentidos - em qualquer condição que o yogin possa se envolver, onde quer que ele possa investigar, não há lugar onde Śiva não exista. "(IV, 311-314 no Svacchandatantra).

25- शिवतुल्यो जायते ॥ २५॥ [śivatulyo jāyate] ॥ 25॥
शिवतुल्यः [śiva-tulyaḥ] semelhante a Śiva* जायते [jāyate] torna-se*
[O yogin] torna-se o próprio Śiva.
        Kṣemarāja: Com a intensa permanência no estado do Turya, ele alcança o estado de Turyātīta (que está além de Turya) e assim se torna igual a Śiva que é perfeitamente puro, absolutamente livre e um infinito campo de consciência e bem-aventurança. Enquanto o aspecto corporal não desaparecer, ele é semelhante a Śiva. Assim que o corpo expirar, ele se torna o próprio Śiva.
        O Kālikākrama diz o mesmo: "Portanto, tendo recebido sempre e indiscutivelmente da boca do guru os meios para a união com Śiva, [segundo os quais] "Deve-se contemplar Śiva sem qualquer pensamento, com dedicação inabalável e com total senso de identificação com Ele, até se tornar Śiva". Isso foi revelado pelo Senhor Bhairava.

26- हरीरवृत्तिर्व्रतम् ॥ २६॥ [harīravṛttirvratam] ॥ 26॥
शरीर [śarīra] corpo* वृत्तिः [vṛttiḥ] permanência* व्रतम् [vratam] voto*
A permanência no corpo é seu voto.
        Kṣemarāja: Como descrito antes, "A respeito do yogin que é como Śiva, ou seja, que vive com a consciência de que Eu (aham) sou Śiva", 'permanecer no corpo é seu voto como ato piedoso'. Em outras palavras, a observância regular de um ato piedoso no caso deste yogin consiste em estar envolvido na glorificação do Supremo sempre presente na forma da consciência da sua própria natureza essencial.
        O Svacchandatantra diz: "Como em fogueira bem acesa, a chama é vista no céu: assim, o Ser (ātmā), embora existindo no corpo e no prana, esta mesclado no estado de Śiva." (IV, 398). De acordo com isto, foi declarado que, embora, o yogin, estar imerso no estado de Śiva ainda exista no corpo, prana, etc., Nenhuma outra observância de um ato piedoso além da manutenção do corpo é apropriada para ele. 
        O Trikasāra diz: "O homem sábio é sempre marcado por mudrās que surgem do corpo. Diz-se que somente ele carrega mudrā. O restante das pessoas certamente carrega ossos"
        O Kulapañcāśikā também diz: "Os poderes superiores (marīcis) só conversam com aqueles que não colocam qualquer marca religiosa perceptível (liṅginam). Eles não se aproximam daqueles que colocam marcas visíveis 'de piedade', porque (tais Poderes Supremos) são muito ocultos e misteriosos (Eles aparecem apenas para alguém que tem realização interna e não acredita em uma demonstração de piedade, colocando uma marca externa.)"

27- कथा जपः ॥ २७॥ [kathā japaḥ] ॥ 27॥
कथा [kathā] conversa* जपः [japaḥ] murmúrio de mantra*
Sua conversa constitui um murmúrio de mantra.
        Kṣemarāja: Ele está sempre cheio da Suprema consciência do Eu (aham), como indicado no seguinte verso do Svacchandatantra: "Eu sou o mais alto Ser (haṃsaḥ); eu sou Śiva, a Causa Suprema", até mesmo sua conversação comum equivale ao murmúrio de um mantra. A consciência do Eu, o Supremo Poder (śaktiḥ), que é onisciente, pertence Àquele que é o maior Deus entre os deuses cuja natureza é a Mais Alta Consciência". Como se definiu no (kālikākrama), qualquer conversa, etc., do yogin que alcançou a consciência natural do Eu (ahaṁ-vimarśa), que consiste no grande Mantra, equivale a japa, cuja essência é a incessante repetição da consciência da deidade (devatā), que é o próprio Ser (ātmā).
        O Vijñānabhairavatantra, também, diz: "Essa contemplação que é feita repetidas vezes no estado mais elevado é japa. Tal Som espontâneo que soa por si mesmo no interior (do Eu) cuja natureza é um mantra constitui o objeto de japa. Este é o tipo de japa sutil que o iogue deve realizar."
        Esse texto também diz: "A respiração é exalada com o som 'Sa' e inalada novamente com o som 'ha'. Portanto, o indivíduo empírico (jīvaḥ) deve sempre repetir o mantra Haṁsa (eu sou Ele), dia e noite, 21.600 vezes. Tal japa da deusa (Gayatrl) foi prescrito, sendo bastante fácil para os sábios, mas difícil para os que não o são."

28- दानमात्मज्ञानम् ॥ २८॥ [dānamātmajñānam] ॥ 28॥
दानम् [dānam] presente, caridade* आत्मज्ञानम् [ātmajñānam] conhecimento do Self *
O conhecimento do Self (ātma) é o presente que ele [aquele que permanece no corpo] dissemina (a todo o mundo).
        Kṣemarāja: Como descrito anteriormente, ātma é consciência universal (caitanya) e jñānam significa sua realização. Dānam significa presente - derivado da raiz da 3ª conjugação, o significado correspondente seria - a natureza essencial perfeita é dada como um presente.
        A palavra dānam também pode ser derivada da raiz da segunda conjugação, que significa 'cortar, dividir'. Nesse sentido, dānam indica que a diferença entre Śiva e o universo é cortada em pedaços.
        A palavra dānam também pode ser derivada da raiz 'dai' da primeira conjugação; significando 'purificar', 'limpar'. Isto indicaria que māyā é purificada pelo conhecimento do Ser.
        A palavra dānam também pode ser derivada da raiz 'di' da 2ª conjugação, que significa 'preservar', sugerindo que a natureza de Siva adquirida por ele está bem preservada.
        O principal significado do Sutra é que o conhecimento do Self é disseminado por ele entre seus alunos. Foi dito com razão: "Os grandes Yogins que estão bem estabelecidos no kulācāra capacitarão as pessoas para a travessia do extenso oceano da existência transmigratória pela sua visão ou toque (Śaktipāta)."

29- योऽविपस्थो ज्ञाहेतुश्च ॥ २९॥ [yo'vipastho jñāhetuśca] ॥ 29॥
यो [yo] Aquele* अविपस्थः [avipasthaḥ] estabelecido no grupo das Śaktis* ज्ञाहेतुः [jñāhetuḥ] meio, instrumento de sabedoria* च [ca] de fato, realmente*
Aquele que está estabelecido no grupo das Śaktis (que adquiriu o domínio sobre as Śaktis) serve, de fato, como um instrumento de sabedoria.
        Kṣemarāja: Avipasthaḥ - (avi - pa - sthah) - 'Avi' significa 'animal'; 'pa' significa "protetor"; 'Avipa', portanto, significa o protetor dos animais, [divindades que protegem os indivíduos limitados (paśū), ié. Māheśvarī, etc., que presidem o grupo de letras como 'ka' etc., e que são paśūn-mātaraḥ (mães de indivíduos limitados)]. 'Sthaḥ' significa que ele está sentado lá, ciente de sua supremacia: ele brilha em toda a sua glória como o senhor daquelas Śaktis. 'Jñā' significa jñāna-śaktiḥ - o poder da sabedoria. Assim 'jñāhetuḥ' significa a fonte ou meio de sabedoria, ou seja, ele é competente para despertar seus alunos através de seu poder de sabedoria (jñāna-śaktiḥ). Como pode alguém que está sob a influência do śakti-cakra, mas que não é senhor de si mesmo, iluminar os outros? Com referência a 'yah' (quem) no sutra, a palavra 'sah' (ele) deve ser adicionada (para completar o sentido), resultando 'aquele que'. A palavra 'ca' neste sutra foi usada no sentido de "na verdade". 
        Uma vez que ele adquiriu o controle sobre o grupo das Śaktis, torna-se um instrumento para despertar o conhecimento, foi dito com razão no Sutra (lll- 28) que ele transmite o conhecimento do Ser (ātma). 
        Outros pontos de vista sustentam que o significado deve ser obtido através da análise das letras...

30- स्वशक्तिप्रचयो विश्वम् ॥ ३०॥ [svaśaktipracayo viśvam] ॥ 30॥
स्व [sva] seu* शक्ति [śakti] poder* प्रचयः [pracayaḥ] desdobramento, expansão* विश्वम् [viśvam] universo*
O universo é o desdobramento de seu poder.
        Kṣemarāja: Do ponto de vista das escrituras que sustentam que "o mundo inteiro é a Śakti de Śiva", esse mundo é apenas uma forma de Sua Śakti. "Seus poderes são o mundo inteiro, etc." o universo é um desdobramento (pracayaḥ) ou expansão (vikāsaḥ) de sua própria Śakti cuja natureza é Consciência (saṁvid). Em outras palavras, é o desdobramento de seu poder criativo (kriya-śakti). 
        O Mrtyujit diz: "Como o Senhor é Jñānamaya ou pura consciência e Seu jnana ou poder de consciência existe em numerosas formas, e como Ele salva os seres limitados e portanto ligados, é chamado Netra." (Netratantra IX, 12)
         O Kālikākrama também diz: "A consciência brilha em várias formas externas e internas. Não há existência de objetos sem consciência. Portanto, o mundo é simplesmente uma forma de consciência. Objetos não são conhecidos por ninguém sem consciência. É a consciência que assume as formas de objetos. É através da consciência que os objetos são determinados. Através da aplicação da afirmação e da negação, existe a divisão dos existentes como positivos ou negativos. A objetividade dos existentes através da operação da consciência é apenas uma forma da própria consciência. Como o conhecimento e o conhecido, ou seja, seus objetos são apreendidos juntos, são eles (conhecimento e seu objeto) um e o mesmo.

31- स्थितिलयौ ॥ ३१॥ [sthitilayau] ॥ 31॥
स्थिति [sthiti] manutenção (da manifestação)* लयौ [layau] reversão a um estado potencial*
A manutenção do estado manifestado e sua reabsorção são também um desdobramento de seu poder.
        Kṣemarāja: "Desdobramento de seu poder" deve ser adicionado ao sutra para completar o sentido. Sthiti ou manutenção (do mundo manifestado) significa aparência externa duradoura do universo que surgiu em conseqüência do kriya-śakti (poder criador), com relação aos vários experienciadores. Laya significa descansar no experienciador (Self) que é pura consciência. Esses dois (sthiti e laya) são apenas uma expansão de sua śakti ou poder criativo. Os vários objetos cognoscíveis que aparecem e finalmente retornam ao seu estado potencial são apenas uma forma de seu poder de consciência, caso contrário (isto é, sem assumir o poder da consciência), a apreensão do mundo seria impossível. 
        Portanto, no Kalikakrama 'através da dualidade existência e inexistência' refere-se apenas a sthiti e laya. Assim, "Aquele que experimenta essa consciência que é inteiramente pura, não depende de qualquer suporte (objeto) para existir e é da mesma natureza que a mais profunda consciência do Eu, é (jīvanmukta) liberado enquanto vivo; não há dúvida sobre isso."

32- तत्प्रवृत्तावप्यनिरासः संवेतृभावात् ॥ ३२॥ [tatpravṛttāvapyanirāsaḥ saṃvetṛbhāvāt] ॥ 32॥
तत्-प्रवृत्तौ [tat-pravṛttau] apesar da ocorrência de manifestações, etc.* अपि-अनिरासः [api-anirāsaḥ] sem intervalo ou mudança* संवेतृ-भावात् [saṃvetṛ-bhāvāt] por causa do estado do conhecedor*
Apesar da manutenção e dissolução do mundo ocorrendo uma após a outra, não pode haver ruptura na consciência do Yogin, por ele ser o sujeito conhecedor.
        Kṣemarāja: Apesar da ocorrência, isto é, da emergência da manifestação, etc., não pode haver uma ruptura ou uma mudança na consciência do Yogin por causa dele ser um conhecedor repleto da bem-aventurada consciência do quarto estado de consciência (Turya), pois se houver uma pausa no conhecimento, não há manifestação.
        Como já foi dito, no Kālikākrama: "Com o desaparecimento dos fenômenos provocados por avidya (ignorância), a natureza essencial da consciência não desaparece. Como a consciência é livre de aparição ou desaparecimento, não pode haver desaparecimento real do conhecimento. Considerando (inclusive) a própria avidya que se diz aparecer ou desaparecer figurativamente; Como se pode dizer que Ela (ié. samvit ou consciência) desaparece, se tem a natureza da permanência?
O mesmo ponto foi explicado nos seguintes versos do Spandakārikā: "Diz-se que existen dois estados nesse (princípio do Spanda): o estado de ação e o estado de criação. Dentre eles, o estado de ação é perecível, mas o estado de criação é imperecível", e "Somente o esforço que é direcionado à ação desaparece nesse (Turya). Quando esse (esforço) desaparece, só um tolo pensaria 'Eu desapareci'. Não há nunca cessação desse estado ou natureza interna que é a moradia do atributo da onisciência, por causa da não percepção de outro" (I, 14-16).

33- सुखासुखयोर्बहिर्मननम् ॥ ३३॥ [sukhāsukhayorbahirmananam] ॥ 33॥
सुख-असुखयोः [sukha-asukhayoḥ] de prazer e dor* बहिः-मननम् [bahiḥ-mananam] considerando como externo*
[Este Yogin] considera o prazer e a dor como algo externo.
        Kṣemarāja: Este Yogin considera o prazer e a dor nascidos do contato com objetos como um mero "Isto" - como algo externo a si mesmo como o azul etc., não como o povo comum considera, como algo pertencente ao próprio Eu.
        Quando o sutra lll- 30 diz que o universo é um desdobramento de sua śakti (poder criador), significa que todo o universo aparece impregnado pela sua consciência do Eu. Isso não significa que experiências particulares como prazer e dor sejam identificadas com sua consciência do Eu. Isto é o que este sutra pretende sugerir. Como pode o Yogin, cuja identificação com o corpo sutil com o sujeito já foi eliminada, ser afetado com prazer e dor?
        O mesmo foi dito no Pratyabhijñāsūtravimarśinī: "Aqueles que transcenderam o estado do sujeito limitado - e entraram no estágio de um sujeito real (Śiva) - não experimentam prazer e dor, mesmo quando são apresentados por suas respectivas causas. Em vez disso, o prazer e a dor não são produzidos em seus casos, pelas causas; prazer e dor estão ausentes no que lhes diz respeito. 
        Eles têm apenas a experiência da felicidade natural da suprema consciência. Esta verdade foi claramente exposta no seguinte verso de Spandakārikā: "Quando não há prazer nem dor, nem objeto, nem sujeito (limitado), nem estado de estupefação ou insensibilidade - é o estado da Realidade Absoluta." (l, 5)

34- तद्विमुक्तस्तु केवली ॥ ३४॥ [tadvimuktastu kevalī] ॥ 34॥
तत् [tat] disso: prazer e dor* विमुक्तः [vimuktaḥ] completamente livre* तु [tu] então* केवली [kevalī] isolado, estabelecido em seu real Self*
Estando completamente livre da influência do prazer e da dor, ele está absolutamente isolado (plenamente estabelecido em seu verdadeiro Self como pura consciência).
Kṣemarāja: 'Tat' do sutra significa (tabhyam), ié. de prazer e dor. 'Vi-muktah' significa especialmente liberto, ou seja, interiormente intocado mesmo pelos vestígios residuais (de prazer e dor). 'Kevali' significa alguém cujo conhecimento consiste em pura consciência. O Kālikākrama diz: "O Yogin deve obter o fruto do yoga destruindo a barreira da ilusão (a dualidade) fabricada pela multiplicidade de pensamentos baseados na cognição e em sensações como prazer, dor etc."

35- मोहप्रतिसंहतस्तु कर्मात्मा ॥ ३५॥ [mohapratisaṃhatastu karmātmā] ॥ 35॥
मोह [moha] ilusão* प्रतिसंहतः [pratisaṃhataḥ] destruído* तु [tu] mas* कर्मात्मा [karmātmā] envolvido em boas e más ações*
Mas aquele que é retraído por essa ignorância está envolvido em boas e más ações.
        Kṣemarāja: Moha deve ser interpretado, no sentido instrumental - mohena, ié., com ilusão, ignorância (ajñāna). Pratisaṁhataḥ significa “quem é retraído por essa ignorância, essa ilusão” (moha). Ele não é o experienciador de dor e prazer como é um yogin. Portanto, ele é aquele que está envolvido no karma (ação), ié., está sempre manchado com boas e más ações. 
        Também, o Kālikākrama diz: "Quando envolvido em avidya (ignorância) e devido ao uso de várias construções mentais, não se compreende imediatamente todos os tattvas (princípios) começando com Śiva como seu próprio Self, então estados bons e maus da mente aparecem; e sob o Influência de avidya, ampla miséria acumula-se sobre ele devido às más ações ".

36- भेदतिरस्कारे सर्गान्तरकर्मत्वम् ॥ ३६॥ [bhedatiraskāre sargāntarakarmatvam] ॥ 36॥
भेद [bheda] dualidade, diferença* तिरस्कारे [tiraskāre] remoção, desaparecimento* सर्ग-अन्तर [sarga-antara] reino natural, variedade de vida* कर्मत्वम् [karmatvam] outra criação*
Quando desaparece a dualidade, resulta (ao yogin) a capacidade de criar um reino natural diferente.
        Kṣemarāja: Bheda significa diferença ou dualidade apropriados para os experimentadores como, sakala, pralayakala etc. cujas naturezas estão relacionadas às identificações com seus respectivos receptáculos como corpo, energia vital, etc. Tiraskāre significa (no desaparecimento) quando há eliminação da dualidade existente devido ao surgimento da consciência que aparece aos experimentadores superiores denominados Mantra; Mantreśvara e Mantramaheśvara. Então aparece a capacidade de criar outro mundo de acordo com o seu desejo.
Assim, o Svacchandatantra tendo declarado (o seguinte) o desaparecimento da diferença ou dualidade no seu caso devido à semelhança com Svacchanda: "Com o triplo japa, o yogin se tornaria semelhante ao Svacchanda (Bhairava)", logo após disse: "Entre os deuses Brahma, Visnu e Indra, e, também, entre os siddhas, daityas e reis de serpentes, ele se torna o criador e o dissipador do medo por sua graça. Ele esmaga o orgulho do Kāla (tempo) e derruba até montanhas ". (VI, 54-55 no Svacchandatantra)

37- करणशक्तिः स्वतोऽनुभवात् ॥ ३७॥ [karaṇaśaktiḥ svato'nubhavāt] ॥ 37॥
करणशक्तिः [karaṇaśaktiḥ] o poder de criar* स्वतः [svataḥ] do seu próprio* अनुभवात् [anubhavāt] por experiência*
Pode-se perceber a capacidade de criatividade a partir da própria experiência.

        Kṣemarāja: O próprio poder criativo ou capacidade para criar diversas coisas extraordinárias está bem estabelecido a partir de sua própria experiência. Com essa intenção, o Pratyabhijna diz: "Portanto, do poder da concepção (avabhāsanāt - Jñānaśakti) e execução (Samullekha - Kriyāśakti) de acordo com o desejo da pessoa, isto é, o poder de conhecer e fazer (jñāna-kriye) de todos os seres vivos é claramente estabelecido. " (VI, 11 no Īśvarapratyabhijñā).
        Se esse (Yogin), com firme e forte determinação, deseja se manifestar mediante Vimarśa (Consciência do Eu), então, também aparece o estado de criação de coisas. Ele pode, de acordo com o seu desejo, também criar algo comum a todas as pessoas. 
        O Tattvagarbha diz: "Quando os Yogins brilham com manifesto poder de criatividade, sua falta de estabilidade e força é despedaçada de maneira firme e imediata, e então seu poder da vontade torna-se um Kalpataru (uma árvore que concede todos os desejos)".

38- त्रिपदाद्यनुप्राणनम् ॥ ३८॥ [tripadādyanuprāṇanam] ॥ 38॥
त्रिपद [tripada] dos três estados (manifestação, manutenção e reabsorção)* आदि [ādi] principal, proeminente* अनुप्राणनम् [anuprāṇanam] avivamento*
Dos três estados, deve-se vitalizar pelo principal (que é Svatantrya Śakti cheio de felicidade criativa)".
Kṣemarāja: Dos três estados: de manifestação (srsti), manutenção da manifestação (sthiti) e reabsorção (laya) - caracterizados pela orientação a objetos, apego aos objetos e assimilação interna dos objetos; o que é o principal é o estado chamado Turya (o estado transcendental) cuja bem-aventurança pervade os outros três (ou seja, vigília, sono, sono profundo). Essa felicidade transcendental, embora velada por Māya-śakti, aparece (por um instante) como um relâmpago na ocasião do desfrute de vários objetos de prazer. Portanto, embora essa felicidade apareça apenas por um instante nas várias ocasiões, deve-se vitalizar com ela. Anuprananam ou avivar-se significa vitalizar-se, seguindo cada vez mais a consciência da bem-aventurança existente no interior. Isto é, deve-se animar a si mesmo com essa vitalidade. 
        O mesmo foi dito no Vijñānabhairava: "Ela (parasakti) é uma felicidade que se pode experimentar, ela só pode ser conhecida quando alguém está liberto de todas as construções do pensamento. Ela é um estado do próprio Ser (Bhairava), daí ela é conhecida como Bhairavi, a Śakti do Bhairava. Ela é aquela cuja natureza essencial é cheia do deleite da unidade do universo. Ela deve ser conhecida essencialmente como a forma pura que preenche (impregna) todo o universo."...       
        No sutra Trisu caturtham (III, 20), foi dito que os três estados de vigília, sono e sono profundo deveriam ser vitalizados com o quarto estado; no presente sutra, foi dito que em todas as condições nos estados inicial, interveniente e final, em manifestação, manutenção da manifestação e dissolução, deveria haver uma vitalização da consciência com o elixir do quarto estado na maneira descrita acima. Este é o ponto especial sobre este sutra.

39- चित्तस्थितिवच्छरीरकरणबाह्येषु ॥ ३९॥ [cittasthitivaccharīrakaraṇabāhyeṣu] ॥ 39॥
चित्तस्थिति [cittasthiti] estados mentais* वत् [vat] como, semelhante* शरीर [śarīra] corpo* करण [karaṇa] órgãos dos sentidos* बाह्येषु [bāhyeṣu] externo*
Como no caso dos estados mentais, do mesmo modo, no caso do corpo, órgãos dos sentidos e coisas externas, deve haver vitalização com a bem-aventurança da consciência transcendental.
        Kṣemarāja: Assim como ele deve realizar a vivificação através do Turya com relação ao estado mental interno, deve-se praticar a interpenetração dos três estados pelo Turya. Embora a mente esteja voltada para fora durante a vida consciente do corpo, sendo acompanhada pelo (quarto), vai ficando gradualmente mais forte em cada estágio.
        O Vijnanabhairava diz: “Deve-se pensar em todo o universo ou em seu corpo como sendo cheio de bem-aventurança, ele, então, é imediatamente cheio da suprema bem-aventurança devido ao seu próprio Néctar”. Assim, enquanto o poder da bem-aventurada (Turya) se manifesta em todos os estados, ele se torna capaz de criar de acordo com seus desejos. Deste modo, em cada e todo estado da vida, a energia da independência absoluta (svātantrya śakti), que é preenchida com a suprema felicidade, dá-lhe tudo o que você deseja.
        E, inversamente, quando esse estado interno do Turya não é constantemente mantido com consciência, então a consciência do eu no corpo, a consciência do eu no puryaṣṭaka (corpo sutil) e a consciência do eu no prāṇa e śūnya existem e ele sente que está absolutamente incompleto. Então o desejo aparece nele.

40- अभिलाषद्बहिर्गतिः संवाह्यस्य ॥ ४०॥ [abhilāṣadbahirgatiḥ saṃvāhyasya] ॥ 40॥
अभिलाषात् [abhilāṣāt] desejo *बहिः-गतिः [gatiḥ-bahiḥ] extroversão* संवाह्यस्य [saṃvāhyasya] indivíduo empírico*
Por causa de um sentimento de desejo, há uma extroversão do indivíduo empírico que é levado de uma forma de existência para outra.
        Kṣemarāja: Um saṁvāhya é um ser limitado envolvido no karma que junto com os kañcukas (revestimentos de Māyā), o aparato psíquico interno, os sentidos externos, os tanmatras e os elementos grosseiros regidos pelo grupo das śaktis, são conduzidos de uma forma de existência para outra.
        Como descrito no Svacchandatantra com as palavras: "em tal caso, o desejo é a condição limitante e maculante", há extroversão por conta de āṇavamala conhecida como ignorância (avidyā) que consiste no sentimento de imperfeição. Bahirgatih ou extroversão significa que nele há sempre uma inclinação e interesse pelos objetos externos, e nunca uma atenção à natureza interior.
        O Kālikākrama diz: "Uma vez que a pessoa está envolvida em avidyā (ignorância primordial) e assim devido ao uso de construtos do pensamento, não compreende imediatamente todos os tattvas começando com Śiva como seu próprio Eu, portanto estados bons e maus da mente aparecem e sob a influência de avidyā, miséria intensa acumula-se devido a más ações. Por causa da falsa ideação (fantasias), são atormentados infernalmente e castigados por seus próprios vícios. Devido às idéias ilusórias, essas pessoas colhem o fruto de avidyā; elas adquirem um corpo que é produto de Māyā e tornam-se receptáculos da aflição."

41- तदारूढप्रमितेस्तत्क्षयाज्जीवसंक्षयः ॥ ४१॥ [tat ārūḍha pramitestatkṣayāt jīvasaṃkṣayaḥ] ॥ 41॥
तत् [tat] aquilo (estado turya)* आरूढ [ārūḍha] estabelecido* प्रमितेः [pramiteḥ] a consciência do yogin* तत् [tat] aquilo (o desejo, discutido no aforismo anterior)* क्षयात् [kṣayāt] remoção* जीव [jīva] o ser limitado* संक्षयः [saṃkṣayaḥ] remoção total*
Para o Yogin cuja consciência está firmemente estabelecida no quarto estado (turya), ocorre o fim do estado do indivíduo empírico com o fim do desejo.
        Kṣemarāja: 'Tat' significa 'o quarto estado' (Turya). 'Ārūḍhā' significa consagrado a, estabelecido. E, 'pramiteḥ' significa no caso desse yogin. Assim 'Tadārūḍhapramiteḥ' significa o yogin cuja mente está estabelecida naquilo (Turya). 'Tadkṣayāt' significa com o fim do desejo.  'Jīva-saṅkṣayaḥ' significa o kṣayā ou anulação do jīva (ser limitado), ié. do estado onde se considera o corpo sutil (puryaṣṭaka) como o verdadeiro experimentador (pramātṛ): "o Yogin aparece brilhantemente (sphurati) no estado de Experimentador real, que é Consciência pura".
        Isso também está no Kālikākrama: "Como alguém que vê certos objetos no sonho, mas não os vê quando acordado, da mesma forma, contemplando o Ātma, o yogin não vê o mundo como mundo (mas sim como a glória e o esplendor de Śiva). 
         Similarmente: Rejeitando modos mentais como existentes e não-existentes, recorrendo à posição intermediária entre os dois, renunciando às criações da imaginação como diferente e não-diferente por meio do não-dualismo, ele ( o yogin) que está sempre consagrado ao seu Eu essencial e tem a intenção de destruir a própria morte, e é dedicado ao estado de isolamento (kaivalya), pode atingir o estado de Nirvana". Kaivalyapadabhag (dedicado ao estado de isolamento) significa aquele que não pode ser carregado pelos seus sentidos (indriyas) e tanmātras.

42- भूतकञ्चुकी तदा विमुक्तो भूयः पतिसमः परः ॥ ४२॥ [bhūtakañcukī tadā vimukto bhūyaḥ patisamaḥ paraḥ] ॥ 42॥
भूत [bhūta] os cinco elementos brutos* कञ्चुकी [kañcukī] como um véu* तदा [tadā] então* विमुक्तः [vimuktaḥ] libertação do saṃsāra* भूयः [bhūyaḥ] supremacia* पति [pati] Śiva* समः [samaḥ] igual* परः [paraḥ] perfeito*
Então, com o fim do desejo, ele usa o corpo dos elementos grosseiros apenas como cobertura e ao ser liberado é soberano como Siva, a suprema realidade.
        Kṣemarāja: 'Tada', então, a partir da eliminação do desejo, jīva-saṅkṣaye significa 'fim da identificação do sujeito com o corpo sutil'. Assim, bhutakancuki significa 'aquele cujos elementos grosseiros que formam o corpo são como kañcukī, ou seja, como revestimento separado que nem sequer toca o estado do 'Eu'. Tal pessoa é totalmente liberada, e desfruta o Nirvana. Visto que ele é soberano (bhuyah) como Śiva, ou seja, possuidor da consciência do Senhor Supremo, ele é perfeito (purnah). De acordo com o sutra Sarira-vrttirvratam (111, 26), embora ele exista no corpo que para ele é como um mero invólucro, ele não é tocado nem mesmo por uma impressão residual da noção de que o corpo, é o verdadeiro experimentador ou conhecedor.
        O Kularatnamālā também cita: "Quando o excelente guru revela ao discípulo aquele mistério (da consciência divina), então ele (o discípulo) é indubitavelmente libertado naquele exato momento e depois permanece no corpo apenas como um instrumento. Quanto mais [tempo], então, o yogin [deve permanecer concentrado] no Mais Alto Brahma? Se ele está estabelecido no mais alto Brahman por um só momento, ele é libertado e liberta outras pessoas"
        No Mrtyujit também foi dito: "Se alguém percebe a Realidade mesmo pelo tempo de um piscar de olhos, ele é liberado imediatamente e não adquire outro nascimento". (VIII, 8). No Kulasāra também, a mesma ideia foi expressa no seguinte versículo: "Que eminência gloriosa desta verdade, Ó Divina, se alguém a tiver intelectualmente assimilado e a transmitir a outra (lit: para outra orelha), até aquela [que recebe] é liberada instantaneamente".

43- नैसर्गिकः प्राणसम्बन्धः ॥ ४३॥ [naisargikaḥ prāṇasambandhaḥ] ॥ 43॥
नैसर्गिकः [naisargikaḥ] natural* प्राण [prāṇa] a energia vital* सम्बन्धः [sambandhaḥ] conexão, associação*
Essa conexão com a força vital universal (prāṇa) e o corpo físico ocorre naturalmente porque o sopro vital é a própria vida.
        Kṣemarāja: A conexão ou associação (sambandhaḥ) da energia vital (prāṇa) com o corpo é natural, provém de nisarga ou natureza, cuja essência é a Liberdade Absoluta (Livre-arbítrio Absoluto) do Self (svātantrya). A suprema consciência, com desejo de manifestar diversidade no universo, inicialmente recorre ao princípio da contração, assume o estado de experimentador limitado (jīva) que é uma forma adotada por prāṇanā (energia vital universal) [para a manifestação, a consciência divina, inicialmente, se transforma em prana. Este prana é a força vital universal que traz tanto o sujeito (grahaka) quanto o objeto (grahya)], cuja essência é sphurattā ou a vibrante Luz da Consciência pura que manifesta o universo inteiro, mas em uma forma contraída ou limitada    (saṅkoca).
        Encontramos a mesma ideia expressa no Vājasaneyā: "Aquela Shakti (Poder Divino) que é a suprema, sutil, onipresente, absolutamente pura, auspiciosa, mãe do todo grupo de poderes (śakti), a suprema bem-aventurança, cuja natureza é o néctar que confere imortalidade, a senhora das mahāghorās (poderes terríveis que subjugam os seres limitados), a terrível (caṇḍā) pois oculta sua própria natureza essencial, e aquela que produz (kārikā) a manifestação (sṛṣṭi) e a reabsorção (saṁhāra) do universo. Ela, pela força, manifesta e retira o Tempo, que aparece como três fluxos ou correntes, ié. o tempo flui através dos canais sutis denominados Iḍā, Piṅgalā e Suṣumnā. O Tempo surge na forma de lua, sol e fogo, os quais representam o objeto cognoscível, o conhecedor ou sujeito e o conhecimento, respectivamente (trividham), e assume três aspectos: passado, presente e futuro.
        O Svacchandatantra também diz: "A energia vital aparece no indivíduo como prāṇa e apāna com a função de exalação e inalação. Existe dentro do tórax dos seres vivos, sempre transmitindo vida. Como ela transmite a vida é conhecida como prana." (VII, 25).
        O Svacchandatantra no seguinte versículo: "Diz-se, certamente, que a letra 'ha' é energia vital que ocorre por si mesma, automaticamente e tem a forma de um arado (na caligrafia Sarada, a letra 'ha' tem a forma de um arado cuja parte superior simboliza a exalação e a parte inferior simboliza a inalação)" (Ver IV, 257).
        Diz-se que ser o produtor da manifestação e da reabsorção na forma de emissão e preenchimento pertence à energia vital ou prāṇa porque está repleto do vigor e poder cuja natureza é o mais digno de adoração o Svacchanda (Bhairava) Absolutamente Livre. Então, foi dito corretamente: "O vínculo ou associação da energia vital com o corpo é natural"
        Portanto Bhatta kallata, a fim de confirmar a causalidade do prana disse no Tattvartha-cintamani - "A consciência é, em primeiro lugar, transformada em prana".

44- नासिकान्तर्मध्यसंयमात्किमत्र सव्यापसव्यसौषुम्णेषु ॥ ४४॥ [nāsikā antarmadhya saṃyamātkimatra savyāpasavyasauṣumṇeṣu] ॥ 44॥
नासिका [nāsikā] a energia do prāṇa (prāṇaśakti)* अन्तर्मध्य [antarmadhya] centro interno* संयमात् [saṃyamāt] intensa consciência* किमत्र [kimatra] a esse respeito, o que mais* सव्य [savya] direito* अपसव्य [apasavya] esquerdo* सौषुम्णेषु [sauṣumṇeṣu] o do meio*
Quando há energia vital nos três canais, mantendo a constante e perfeita consciência do Eu no aspecto interno da prāṇaśakti, então ele permanece sempre o mesmo. O que mais poderia ser dito a este respeito?
     Kṣemarāja: Nos principais de todos os canais prânicos, isto é, na esquerda (ida), direita (pingala) e na do meio, sushumna, flui o nāsikā ou prāṇaśakti. A palavra 'nāsikā' é derivada da seguinte maneira - 'nasale, ou seja, a que flui em ziguezague, ié. pranaśakti. 'Antar' significa o aspecto interno desta prāṇaśakti, ou seja, a consciência. 'Madhya 'significa o centro dessa consciência interior, ou seja, 'vimarśa' ou Consciência do Eu. Sendo a mais íntima de todas, essa é a Realidade principal ou central, a saber, a Suprema consciência do Eu. 
        De acordo com o verso seguinte do Kālikākrama, a consciência central do Eu é a mais elevada Śakti. "Daquele Deus que é maior que todos os deuses, e que é a suprema consciência em si, ou seja, prakāśa - a mais elevada, é a sabedoria de vimarśa ou Eu, é o supremo poder (śaktiḥ), que é onisciente, cheio de sabedoria."
        Usando o que foi expresso no Kālikākrama; Pelo samyama ou intensidade da consciência interna repetida daquela suprema consciência do Eu, existe (o que deve ser dito neste assunto) em todas as condições, radiante, mais elevado nirvyutthānaḥ-samādhiḥ, que brilha em todos os estados, sob todas as circunstâncias.
        O Vijñānabhairava diz: "A consciência da relação sujeito-objeto (grāhaka-grāhya) é comum a todos os seres encarnados. Os yogins têm, no entanto, essa distinção, de que estão sempre atentos a essa relação" (isto é, estão sempre atentos ao 'para-pramata', o sujeito metafísico sem o qual não pode haver tal coisa como um objeto", (verso - 106)".

45- भूयः स्यात्प्रतिमीलनम् ॥ ४५॥ [bhūyaḥ syātpratimīlanam] ॥ 45॥
भूयः [bhūyaḥ] uma e outra vez* स्यात् [syāt] existe* प्रतिमीलनम् [pratimīlanam] consciência do Divino tanto interna como externamente*
No caso deste yogin, há uma e outra vez a consciência do Divino tanto interna como externamente.
        Kṣemarāja: O yogin que está profundamente absorvido na consciência do Eu Superior (parayogabhiniviṣṭasya) tem um 'pratimīlana' [prati (novamente, em retorno) + mīlana (ato de fechar os olhos)] desse universo que surgiu da natureza essencial da consciência fundamental. 'Pratimīlana' significa tanto a percepção interior do Divino (nimīlana), e a percepção externa do Divino (unmīlana). Ele agora vê o universo repetidamente com uma consciência na qual os traços residuais da diferença desapareceram completamente (Vigalitabhedasamskaratmna). O yogin tem uma experiência na qual ele é internamente absorvido na Suprema Consciência Divina (nimīlana); novamente quando ele se volta para o universo, ele o experimenta da mesma forma que sua própria Consciência Divina essencial (unmīlana). A mesma ideia foi expressa no seguinte verso do Svacchanda-antra: "Ó Deusa, além do Samanā, há o estágio unmanā; a pessoa deve unir-se a si mesma. O eu unido a isso torna-se completamente idêntico a isso" (IV, 332).
     Novamente (no mesmo Svacchandatantra): "Assim como o fogo que se elevou puro e radiante do combustível não entra nele novamente, mesmo assim, o Ser que surgiu do Ṣaḍadhvā foi liberado de todo Āṇavamala, Kārmamala e Māyīyamala, etc., e está além de toda a inquietação e febre da vida. Embora ainda permaneça no mundo, ele não está vinculado a isto, ié. não é atraído para os prazeres do mundo, porque ele agora é soberanamente livre de todos os malas (limitações). e permanece perfeitamente puro ". (X, 371-372).
     Ao dizer 'bhūyaḥ syāt' (é novamente) a intenção do sutra-kara (compositor dos sutras) é esta - que o estado de Śiva deste yogin não é algo novo, mas sim sua própria natureza essencial. Somente por causa da perversidade das próprias construções mentais trazidas por Māyāśakti, o aspirante não foi capaz de reconhecê-lo, o tempo todo. Só se manifesta agora adotando os vários meios descritos neste livro. Que haja bem-estar (para todos)!


॥ इति ॥ ॥ iti ॥ ॥ Fim ॥





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