॥ पातञ्जलयोगशास्त्र ॥ - pātañjalayogaśāstra - ॥ तृतीयोऽध्यायः ॥ - tṛtīyo'dhyāyaḥ -
॥ विभूति-पादः ॥ - vibhūti-pādaḥ - 3º Capítulo: Vibhūti Pāda
Cinco etapas (aṅgas) para o yoga foram explicadas; (agora) dhāraṇā será explicado.
1- देशबन्धश्चित्तस्य धारणा ॥१॥
deśabandhaścittasya dhāraṇā ॥1॥
धारणा [dhāraṇā] dhāraṇā (concentração)* बन्ध [bandha] é a fixação* श्चित्त [citta] da mente* देश [deśa] em um (único) ponto do espaço*
1- Dhāraṇā é a fixação da mente (citta) em um ponto no espaço.
(Vyāsa): Dhāraṇā consiste em fixar ou confinar a mente no círculo do umbigo, ou no lótus do coração, ou no centro refulgente da cabeça, ou na ponta do nariz ou da língua, ou em pontos relevantes do corpo, ou em qualquer objeto externo, por meio das modificações da mente.
2- तत्र प्रत्ययैकतानता ध्यानम् ॥२॥
tatra pratyayaikatānatā dhyānam ॥2॥
तत्र [tatra] naquele (dhāraṇā)* एकतानता प्रत्ययै [ekatānatā pratyaya] com fluxo uniforme de modificações mentais (pratyaya)* ध्यान [dhyāna] (é chamado) dhyāna ou meditação*
2- O estado de concentração (dhāraṇā), com fluxo uniforme de modificações mentais (pratyaya), é chamado dhyāna ou meditação.
(Vyāsa): Sendo contínuo o fluxo das modificações mentais relativas ao mesmo objeto de meditação (pratyaya), ié. não sendo interrompido por qualquer outro conhecimento ou pensamento, é conhecido como dhyāna ou meditação. ["... Se o fluxo de conhecimento em dhāraṇā pode ser comparado à sucessão de gotas semelhantes de água, em dhyāna é contínuo como o fluxo de óleo ou mel. Esse é o significado da palavra "contínuo". Quando o fluxo mental é contínuo, parece que uma única ideia está presente na mente."] (S.H.Aranya).
3- तदेवार्थमात्रनिर्भासं स्वरूपशून्यमिव समाधिः ॥३॥
tadevārthamātranirbhāsaṃ svarūpaśūnyamiva samādhiḥ ॥3॥
तद् एव मात्र अर्थ [tad eva mātra artha] quando só o objeto (da meditação)* निर्भास [nirbhāsa] brilha (na mente)* एव शून्य स्वरूप [eva śūnya svarūpa] como se ela estivesse ausente de si mesma* समाधि [samādhi] (esse estado é chamado de) samādhi ou absorção*
3- Quando só o objeto da meditação brilha na mente, como se ela estivesse ausente de si mesma, esse estado é chamado de samādhi ou absorção.
(Vyāsa): Quando o estado de meditação (dhyāna) se torna tão profundo que somente um único objeto se mantém, suprimindo, por assim dizer, todos os vestígios de pensamento racional, é conhecido como Samādhi.
4- त्रयमेकत्र संयमः ॥४॥
trayamekatra saṃyamaḥ ॥4॥
त्रय [traya] os três (dhāraṇā, dhyāna e samādhi)* एकत्र [ekatra] (quando são realizados juntos) juntos* संयम [saṃyama] (sobre o mesmo objeto constituem) o saṃyama*
4- Esses três (dhāraṇā, dhyāna e samādhi) quando são realizados juntos sobre o mesmo objeto, constituem o saṃyama.
(Vyāsa): As três formas de prática, quando direcionadas ao mesmo objeto, são chamadas de saṃyama. Elas recebem o nome técnico no yoga de saṃyama.
5- तज्जयात्प्रज्ञालोकः ॥५॥
tajjayātprajñālokaḥ ॥5॥
जय तत् [jaya tat] com o domínio do (saṃyama)* आलोक प्राज्ञा [āloka prajñā] vem a luz do conhecimento supremo (prajñā)*
5- Com o domínio do saṃyama, vem a luz do conhecimento supremo (prajñā).
(Vyāsa): Ao dominar o saṃyama, brilha a luz do conhecimento que emana da concentração. Quando o saṃyama fica firmemente estabelecido, o conhecimento alcançado em samādhi fica cada vez mais puro. ["O conhecimento adquirido em Samadhi melhora se o samyama for aplicado passo a passo. Em outras palavras, à medida que o saṃyama é praticado em relação a objetos cada vez mais sutis, o conhecimento fica cada vez mais claro. A aquisição de conhecimento a respeito dos tattvas foi mencionada anteriormente no Livro I. Neste Livro, o método de aquisição de poderes irrestritos e outros tipos de conhecimento pela aplicação do saṃyama é mencionado principalmente. Conhecimento e poderes sobrenaturais são adquiridos através da concentração. Se a faculdade de conhecer for direcionada a apenas um objeto com total exclusão de outros objetos, o conhecimento final desse objeto certamente será obtido. Como a faculdade de conhecer flutua, isto é, move-se constantemente de um objeto para outro, o conhecimento pleno de qualquer um deles não é adquirido. A faculdade de conhecer e o cognoscível aproximam-se particularmente em samādhi porque os dois não parecem estar separados. Esta é uma característica do samādhi. A luz do conhecimento aqui referida denota a iluminação alcançada em samprajnata-yoga e não o conhecimento supranormal do mundo cósmico (vide III. 26) etc. Refere-se principalmente ao conhecimento final de (ié. Samapatti) nos tattvas grahya, grahana e grahita, que é um passo para a realização de kaivalya. Conhecimento sobrenatural diferente deste, por exemplo. conhecimento de objetos minúsculos ou distantes, é realmente um impedimento para kaivalya e não atende pelo nome de prajñā ou conhecimento supremo."] (S.H.A.).
6- तस्य भूमिषु विनियोगः ॥६॥
tasya bhūmiṣu viniyogaḥ ॥6॥
तस्य [tasya] ele [saṃyama]* भूमि विनियोग [bhūmi viniyoga] (deve ser aplicado) gradualmente aos estágios (da prática)*
6- O saṃyama deve ser aplicado gradualmente aos estágios (da prática).
(Vyāsa): O saṃyama tem que ser praticado em relação ao estágio imediatamente superior ao atingido. Aquele que não domina os estágios inferiores, não pode alcançar os estágios mais elevados do saṃyama, pulando os estágios intermediários. Sem eles, como se pode obter a plena luz do conhecimento? Tal conhecimento é atingível apenas pelo yoga. Aquele que atingiu um estágio mais elevado pela graça de Deus não precisa praticar o saṃyama em relação aos estágios inferiores. O Yoga é, por si só, o único guia que pode mostrar qual estágio está próximo ao atual estágio. Como isso é possível é explicado no seguinte lema: “O yoga é conhecido pelo yoga, e o próprio yoga leva ao yoga. Aquele que permanece firme no yoga é bem aventurado". ["O primeiro estágio do samprajñāta-yoga é grāhya-samāpatti (imersão nos objetos do conhecimento), o segundo é grahaṇa-samāpatti (imersão nos órgãos de recepção) e o terceiro é grahītṛ-samāpatti (imersão no receptor); o estágio mais alto é o viveka-khyāti ou a iluminação discriminativa. O estágio mais alto não pode ser alcançado de uma só vez e só pode ser alcançado depois de atingir a perfeição nos estágios anteriores, um após o outro... " (S.H.A)].
7- त्रयमन्तरङ्गं पूर्वेभ्यः ॥७॥
trayamantaraṅgaṃ pūrvebhyaḥ ॥7॥
त्रयम् [traya] os três (dhāraṇā, dhyāna e samādhi)* अङ्ग अन्तर् [aṅga antar] (são) membros internos* पूर्व [pūrva] (em relação) aos anteriores*
7- Os três (dhāraṇā, dhyāna e samādhi) são membros internos em relação aos anteriores.
(Vyāsa): Dhāraṇā, dhyāna e samādhi, esses três são mais internos em relação a saṃprajñāta-yoga do que yama, niyama, etc.
8- तदपि बहिरङ्गं निर्बीजस्य ॥८॥
tadapi bahiraṅgaṃ nirbījasya ॥8॥
अपि तद् [api tat] (no entanto) mesmo estes* अङ्ग वहिर् [aṅga bahir] (são) membros externos* निर्वीज [nirbīja] (em relação) ao nirbīja (samādhi sem sementes)*
8- No entanto, mesmo estes são membros externos em relação ao nirbīja (samādhi sem sementes).
(Vyāsa): Estas, ié. as três práticas mencionadas anteriormente como internas, são externas, no que diz respeito à concentração sem sementes, porque o (samādhi) sem sementes é alcançado quando essas três também suprimidas.
9- व्युत्थाननिरोधसंस्कारयोरभिभवप्रादुर्भावौ निरोधक्षणचित्तान्वयो निरोधपरिणामः ॥९॥
vyutthānanirodhasaṃskārayorabhibhavaprādurbhāvau nirodhakṣaṇacittānvayo nirodhapariṇāmaḥ ॥9॥
निरोध संस्कार व्युत्थान [nirodha saṃskāra vyutthāna] a supressão das impressões latentes de flutuação* अभिभव प्रादुर्भाव निरोध [abhibhava prādurbhāva nirodha] e o aparecimento das latências do estado suprimido* क्षण चित्त अन्वय निरोध परिणाम [kṣaṇa citta anvayaḥ nirodha pariṇāma] (que ocorrem) a cada momento de vacuidade (do estado suprimido) na mente é a mutação do estado suprimido da mente*
9- A supressão das latências (saṃskāra) de flutuação e o aparecimento das latências do estado suprimido (nirodha) que ocorrem a cada momento de vacuidade do estado suprimido na mente, é a mutação do estado suprimido da mente (nirodha-pariṇāma).
(Vyāsa): As impressões latentes (saṃskāra) das flutuações são características da mente. Elas não são da natureza da cognição, assim, na cessação da cognição, elas não desaparecem. Impressões latentes do estado suprimido (nirodha) da mente também são características da mente. Seus aparecimentos e desaparecimentos devem-se, portanto, à atenuação de impressões latentes de flutuação e acumulação de impressões latentes do estado suprimido, respectivamente; e elas ocorrem em uma mente no estado suprimido. Essa mudança das impressões latentes que ocorrem a cada momento na mesma mente é chamada nirodha-pariṇāma ou a mutação de um estado suprimido da mente. Naquele momento, a mente não tem nada além de impressões subliminares. Isso foi explicado em l.18.
10- तस्य प्रशान्तवाहिता संस्कारात् ॥१०॥
tasya praśāntavāhitā saṃskārāt ॥10॥
तस्य वाहिता प्रशान्त [vāhitā tasya praśānta] a continuidade da tranquilidade mental* संस्कार [saṃskāra] (é assegurada pelas) impressões latentes (em um estado suprimido)*
10- A continuidade da tranquilidade mental em um estado suprimido é assegurada pelas impressões latentes (saṃskāras).
(Vyāsa): Quando a competência é adquirida na arte de manter a mente em um estado suprimido (nirodha), as impressões latentes do estado suprimido da mente são estabilizadas, ié. a mente alcança um estado contínuo e imperturbável. Quando a impressão do estado suprimido fica fraca, ela é superada pela impressão latente do estado manifesto, ié. ocorre um estado de flutuação.
11- सर्वार्थतैकाग्रतयोः क्षयोदयौ चित्तस्य समाधिपरिणामः ॥११॥
sarvārthataikāgratayoḥ kṣayodayau cittasya samādhipariṇāmaḥ ॥11॥
क्षय सर्वार्थता [kṣaya sarvārthatā] eliminação da multidirecionalidade* उदय एकाग्रत चित् [udaya ekāgrata citta] e a promoção da uni direcionalidade da mente* समाधि परिणाम [samādhi pariṇāma] (chama-se) samādhi pariṇāma (mutação que leva à concentração da mente)*
11- A eliminação da multidirecionalidade e a promoção da uni direcionalidade da mente (chama-se) samādhi pariṇāma (mutação que leva à concentração da mente).
(Vyāsa): Atender a todos os objetos é uma característica da mente; uni direcionalidade também é uma característica da mente. A redução do hábito de cuidar de todos os objetos significa o desaparecimento dessa característica e o desenvolvimento da uni direcionalidade significa a emergência do estado uni direcionado da mente. É a mesma mente que tem essas duas características. A mente fica absorta sob a influência de sua própria ação, ié. o cerceamento de seu hábito de servir a todos e o crescimento de seu hábito de atender a um. Isso é conhecido como samādhi pariṇāma ou mutação que leva à concentração da mente.
12- ततः पुनः शान्तोदितौ तुल्यप्रत्ययौ चित्तस्यैकाग्रतापरिणामः ॥१२॥
tataḥ punaḥ śāntoditau tulyapratyayau cittasyaikāgratāpariṇāmaḥ ॥12॥
ततस् पुनर् [tatas punar] então novamente* चित्त प्रत्यय [citta pratyaya] (a transformação) da mente (na qual) o pratyaya atual (objeto em foco da concentração)* तुल्य शान्त उदित [tulya śānta udita] (que é exatamente) semelhante (ao pratyaya) seguinte (objeto que se eleva no momento seguinte)* एकाग्रता परिणाम [ekāgratā pariṇāma] (é chamada) ekāgratā pariṇāma (mutação do estado uni direcionado da mente)*
12- Então, novamente, a transformação da mente na qual o pratyaya atual é exatamente semelhante ao (pratyaya) seguinte é chamada ekāgratā pariṇāma (mutação do estado uni direcionado da mente).
(Vyāsa): Em uma mente no estado de concentração (samādhi), a modificação que apareceu anteriormente é a mesma que surge subsequentemente, ié. a modificação que se manifesta. Uma mente concentrada, quando ocorre uma perturbação, salta para o próximo pratyaya, segue-se uma sequência semelhante da mesma modificação. Esta é a mutação do estado uni direcionado da mente.
13- एतेन भूतेन्द्रियेषु धर्मलक्षणावस्थापरिणामा व्याख्याताः ॥१३॥
etena bhūtendriyeṣu dharmalakṣaṇāvasthāpariṇāmā vyākhyātāḥ ॥13॥
एतेन व्याख्यात परिणाम [etena vyākhyāta pariṇāmā] por estes (anteriormente) foram explicadas as (três) mutações* धर्म [dharma] (ié.) dos atributos essenciais* लक्षण [lakṣaṇa] das características temporais* अवस्था भूत न्द्रिय [avasthā bhūta indriya] e dos estados dos bhūtas (elementos) e dos indriyas (órgãos dos sentidos)*
13- Anteriormente foram explicadas as três mutações (pariṇāmā), ié. das qualidades essenciais (dharma), dos caracteres temporais (lakṣaṇa), e dos estados dos bhūtas e dos indriyas (ié. de todos os fenômenos conhecíveis).
(Vyāsa): "As três mudanças mencionadas anteriormente são de caracteres ou atributos essenciais (dharma), caráter temporal (laksana) e estado anterior e novo (avastha), da mente. Da mesma forma, há mudanças nas qualidades essenciais ou atributos temporais e estados temporais dos objetos de conhecimento e órgãos dos sentidos. Dessas mudanças, a supressão de estados flutuantes e o desenvolvimento do estado da mente (citta) suprimida (nirodha) são conhecidos como mudanças de atributos ... Por esta razão, sustenta-se que existe na realidade apenas um tipo de mutação que inclui as outras variedades, ou seja, mudança de características que abrange as demais mutações. O que é então essa mutação? É a manifestação de outra característica no desaparecimento da característica anterior de uma substância que permanece constante."
14- शान्तोदिताव्यपदेश्यधर्मानुपाती धर्मी ॥१४॥
śāntoditāvyapadeśyadharmānupātī dharmī ॥14॥
धर्मिन् अनुपाती धर्मा [dharmin anupātī dharma] o substrato (dharmin) é aquilo que continua a existir através de suas qualidades características* शान्त उदित अव्यपदेश्य [śānta udita avyapadeśya] (em todos os estados) passado, presente e futuro*
14- O substrato (dharmin) é aquilo que continua a existir através de suas qualidades características, em todos os estados: passado, presente e futuro.
(Vyāsa): "Característica (dharma) é a capacidade inerente de um objeto particularizado por sua função. Sua existência é inferida a partir dos diferentes resultados decorrentes de suas ações. Além disso, um objeto é visto possuir várias características. Destes, o que começou a funcionar é chamado de presente e é diferente daqueles que são passados ou inativos e futuros ou não manifestos. Mas quando uma característica está adormecida no substrato, com sua característica especial sendo não manifestada por falta de situação adequada, como pode ser percebida em algum momento, separada do próprio substrato? As características de um substrato são de três tipos, ié inativo ou passado, insatisfeito ou presente e não manifesto ou futuro. Destes, o que deixou de funcionar é dito ser quiescente, diz-se que o que está funcionando é insinuante ou emergente, e é imediatamente contíguo para e por trás daquilo que não se manifestou. Da mesma forma, o quiescente é contíguo e por trás do presente ou do emergente. Pode-se perguntar por que as características atuais não estão por trás daquelas do passado. A razão é que não há relação de "antes e depois" entre eles, como no caso do futuro e do presente. É por isso que não há nada contíguo ao passado e atrás dele, e o futuro está antes do presente..."
15- क्रमान्यत्वं परिणामान्यत्वे हेतुः ॥१५॥
kramānyatvaṃ pariṇāmānyatve hetuḥ ॥15॥
अन्यत्व क्रम [anyatva krama] a mudança na sequência* हेतु अन्यत्व परिणाम [hetu anyatva pariṇāma] é a causa da mudança nas transformações*
15- A mudança na sequência (de características) é a causa da mudança nas transformações.
(Vyāsa): Uma vez que uma característica dá origem a apenas uma mutação, a diferença nas mutações deve ser devida à mudança de sequência, por exemplo, poeira, torrão, um vaso, fragmento de vaso ou migalha são sequências de terra. A característica que segue outra característica é o seu krama ou sequência. O torrão desaparece e pote aparece - esta é a sequência de mudança de característica. Sequência de mudanças de tempo: O aparecimento de um pote a partir de seu estado potencial representa a transição temporal do não manifesto para seu estado atual, enquanto o desaparecimento do torrão de terra representa uma transição temporal do estado atual para o passado. Não há mais nenhuma sequência (nesta ordem) após o passado, e o passado não é antecedente de nenhum estado, assim não há nada depois dele; É por isso que apenas o presente e o futuro têm sequência. A sequência da mudança de estado também é semelhante; Por exemplo, um novo pote se torna velho ao longo do tempo. A velhice é apenas o resultado da sequência de mudanças que ocorre a cada momento, que se torna eventualmente perceptível na forma de velhice. [Deve-se notar que essa velhice não é um estado de decadência, mas apenas um estado relativo de existência como distinto do caráter característico e temporal - vide · III. 13]. Esta é a terceira (ideia de) mudança, diferenciada das mudanças de características e de caráter temporal. Essas sequencias só podem ser percebidas se houver uma diferença entre o objeto e suas características, etc. Em comparação a uma característica, outra característica pode ser seu substrato. Quando na análise final, as características (dharma) e o substrato (dharmin) são percebidos como idênticos, o substrato é chamado dharma, e a sequência de mutação existe sozinha. Uma mente tem dois tipos de características, ié. patente e latente. Destas, as patentes são aquelas que são percebidas (por exemplo, como cognição ou sentimento), enquanto os latentes são aqueles que simplesmente existem como subconscientes. Essas características subconscientes são sete em número e sua existência é estabelecida por inferência. "Estado suprimido, impressão latente de ação, impressão subliminar, mudança, vida, esforço e poder são as características subconscientes da mente."
16-परिणामत्रयसंयमाद् अतीतानागतज्ञानम् ॥१६॥
pariṇāmatrayasaṃyamād atītānāgatajñānam ॥16॥
ज्ञानम अतीत अनागत [jñāna atīta anāgata] o conhecimento do passado e do futuro* संयम त्रय परिणाम [saṃyama traya pariṇāma] (pode ser obtido) através do saṃyama sobre os três pariṇāmas (transformações de características, estado e condição)*
16- O conhecimento do passado e do futuro pode ser obtido através do saṃyama sobre as três pariṇāmas (transformações de características, estado e condição).
(Vyāsa): Quando o saṃyama é praticado sobre as mudanças de caráter, estado característico e temporal, os yogins adquirem conhecimentos relacionados ao passado e ao futuro. Já foi dito que uni direcionalidade, meditação e concentração no mesmo objeto, é saṃyama. Se as mudanças na característica, no caráter temporal e no estado de qualquer objeto puderem ser realizadas através do samyama, o conhecimento do passado e do futuro desse objeto seria revelado.
17- शब्दार्थप्रत्ययानामितरेतराध्यासात् सङ्करस्तत्प्रविभागसंयमात्सर्वभूतरुतज्ञानम् ॥१७॥
śabdārthapratyayānāmitaretarādhyāsāt saṅkarastatpravibhāgasaṃyamātsarvabhūtarutajñānam ॥17॥
अध्यास [adhyāsa] (devido à) sobreposição* शब्द [śabda] de palavra* अर्थ [artha] significado* प्रत्यय [pratyaya] e ideias* संकर इतरेतर [saṃkara itaretara] a confusão (ocorre) entre eles* संयम प्रविभाग तद् [saṃyama pravibhāga tad] (ao realizar) saṃyama (sobre a) distinção ente eles* ज्ञान रुत सर्व भूत [jñāna rūta sarva bhūta] (surge a) compreensão dos sons (produzidos por) todos os seres*
17- Devido à sobreposição de palavra, significado e ideia, a confusão ocorre. Ao realizar saṃyama sobre a distinção entre eles, surge a compreensão dos sons produzidos por todos os seres.
(Vyāsa): No que diz respeito a estes (palavra, objeto implícito e seu conhecimento), a vocalização refere-se apenas aos fonemas que constituem a palavra. Ouvir refere-se ao som da mesma. É um processo mental que articula os fonemas e os une. Fonemas sendo pronunciados sucessivamente e não estando presentes ao mesmo tempo, não formam uma palavra, mas simplesmente aparecem e desaparecem. Letras-sons individuais (fonemas) não possuem a natureza de uma palavra. Cada letra é parte constituinte de uma palavra e tem a possibilidade de expressar inumeráveis ideias quando associadas com outras assumindo inúmeras formas.
Assim dispostos por seu significado, os fonemas pronunciados um após o outro, são apresentados juntos ao intelecto como uma palavra, para indicar algo para o qual a palavra, assim formada, é o nome convencional. Se um homem transmitisse informações a outro, ele deveria se expressar por esses sons alfabéticos que, sendo ouvidos por outro e sendo sancionados pelo uso eterno, aparecem como algo real. Esse tipo de divisão de palavras e atribuição de significados diferentes cresce fora da convenção e eles passam a ser associados a coisas particulares.
A convenção aqui é a memória da identidade da palavra e da coisa identificada. Essa palavra é o objeto, e o objeto é a palavra - esse tipo de identidade na memória dá origem à convenção. Assim, a palavra, o objeto e a concepção do objeto estão conectados uns com os outros; a palavra "vaca", o objeto "vaca" e a concepção de vaca são identificados um com o outro. Aquele que conhece a distinção entre esses três é onisciente, isto é, conhece o significado de todas as palavras pronunciadas.
Cada palavra tem em si o poder de expressar uma ideia completa. Quando a palavra 'vṛkṣa' (árvore) é mencionada, isso implica que a árvore existe, na medida em que um objeto significado por uma palavra nunca pode deixar de existir. Da mesma forma, nenhuma ação é possível sem um ator.
Há uma distinção entre palavras, o objeto e a concepção. Para ilustrar isso, tome os seguintes exemplos. 'Svetate prasadah' ou 'O palácio brilha em branco' implica uma ação, enquanto as palavras 'Svetah Prasadah' ou 'uma mansão branca' significam um estado. Uma palavra, em essência, significa tanto uma ação quanto um estado, como, também, um conceito. Isso acontece porque o processo de clareamento é identificado com seu resultado, ou seja tornando branco. Quanto ao objeto branco, é o suporte tanto para a palavra quanto para a ideia. Como ele muda seu estado de forma independente, não vai com a palavra nem com a ideia. A palavra, seu objeto e a ideia são assim distintos. Ao praticar saṃyama nessa distinção, um yogin pode adquirir conhecimento do significado das palavras pronunciadas por todas as criaturas.
18-संस्कारसाक्षात्करणात्पूर्वजातिज्ञानम् ॥१८॥
saṃskārasākṣātkaraṇātpūrvajātijñānam ॥18॥
साक्ष करणा संस्कार [sākṣa karaṇa saṃskāra] pela percepção direta das impressões latentes* ज्ञान जाति पुर्व [jñāna jāti pūrva] (vem) o conhecimento dos nascimentos anteriores*
18- Pela percepção direta das impressões latentes (saṃksāras) vem o conhecimento dos nascimentos anteriores.
(Vyāsa): "As impressões latentes referidas neste sutra são de dois tipos, ié. aquelas que aparecem como vāsanā causando memória e (indiretamente) aflições, e as responsáveis pela fruição de ações certas ou erradas feitas em nascimentos anteriores. Como mudança, esforço, estado de supressão, poder, vida e impressões de ações virtuosas e viciosas, são características invisíveis de citta. Se saṃyama é praticado em impressões, elas são realizadas, e desde que tal realização não pode surgir sem uma ideia do lugar, tempo e causa do incidente em questão, o praticante yogin vem a saber do nascimento anterior. O conhecimento de nascimentos anteriores de outros também pode ser adquirido da mesma maneira ..."
19- प्रत्ययस्य परचित्तज्ञानम् ॥१९॥
pratyayasya paracittajñānam ॥19॥
प्रत्यय पर [pratyaya para] (pela percepção direta) dos pratyayas de outro* ज्ञान चित्त [jñāna citta] (vem) o conhecimento de (outras) mentes*
19- Pela percepção direta dos pratyayas de outro, vem o conhecimento de outras mentes.
(Vyāsa): Ao praticar saṃyama em noções (pratyayas da mente de outro) e, assim, realizando-as, o conhecimento de outras mentes pode ser adquirido.
20- न च तत्सालम्बनं तस्याविषयीभूतत्वात् ॥२०॥
na ca tatsālambanaṃ tasyāviṣayībhūtatvāt ॥20॥
च तद् सलम्बन [ca tad sālambana] mas o que sustenta (o pratyaya da mente do outro)* न अविषयिन् भूतत्व तस्य [na aviṣayin bhūtatva tasya] não é conhecido dele (por não ser objeto do saṃyama do yogin)*
20- Mas o que sustenta o pratyaya da mente do outro não é conhecido por não ser objeto do saṃyama do yogin.
(Vyāsa): No saṃyama referido no sutra anterior, o yogin conhece a natureza da noção (seja de apego ou paixão). É assim porque somente a natureza da modificação na mente da outra pessoa, e não o objeto no qual se baseia, surge no campo de observação do yogin.
21- कायरूपसंयमात्तद्ग्राह्यशक्तिस्तम्भे चक्षुःप्रकाशासंप्रयोगेऽन्तर्धानम् ॥२१॥
kāyarūpasaṃyamāttadgrāhyaśaktistambhe cakṣuḥprakāśāsaṃprayoge'ntardhānam ॥21॥
संयम तद् रूप काय [saṃyama tad rūpa kāya] ao realizar saṃyama sobre a forma (exterior) do corpo* स्तम्भ शक्ति ग्राह्य [stambha śakti grāhya] com a suspensão do poder de percepção* असंयोग प्रकाश चक्षुस् [asaṃyoga prakāśa cakṣus] (ocorre a) desconexão entre a luz e o olho* अन्तर्धान [antardhāna] e a invisibilidade (é alcançada)*
21- Ao realizar o saṃyama sobre a forma exterior do corpo, com a suspensão do poder de percepção, ocorre a desconexão entre a luz e o olho e a invisibilidade é alcançada.
(Vyāsa): Quando o saṃyama é praticado sobre a aparência (visível) do corpo, a propriedade de perceptibilidade possuída por ele torna-se inoperante. Quando essa propriedade é suprimida, o corpo deixa de ser um objeto de observação por outra pessoa, e o yogin pode, assim, permanecer invisível para os outros. Isto implica que outras faculdades pelas quais o corpo pode ser percebido, e.g. perceptibilidade auditiva, etc. também podem ser eliminadas.
22- सोपक्रमं निरुपक्रमं च कर्म तत्संयमादपरान्तज्ञानमरिष्टेभ्यो वा ॥२२॥
sopakramaṃ nirupakramaṃ ca karma tatsaṃyamādaparāntajñānamariṣṭebhyo vā ॥22॥
कर्म सोपक्रम च निरुपक्रम [karma sopakrama ca nirupakrama] o karma é rápido ou lento (na frutificação)* संयम तद् वा अरिष्ट [saṃyama tad vā ariṣṭa] praticando o saṃyama neles (no karma) ou nos presságios* ज्ञान अपरान्त [jñāna aparānta] o conhecimento prévio da morte é adquirido*
22- O karma é rápido ou lento na frutificação. Praticando o saṃyama no karma ou nos presságios, o conhecimento prévio da morte pode ser adquirido.
(Vyāsa): O karma que frutifica como extensão da vida é de dois tipos, alguns que se frutificam rapidamente (sopakramaṃ) e outros que frutificam lentamente (nirupakramaṃ). Por exemplo, quando um pano molhado é espalhado, ele seca rapidamente, enquanto que se mantido enrolado demora mais tempo. O carma frutificante e veloz é como o fogo que, ventilado por todos os lados, consome a erva seca rapidamente; enquanto o carma frutificante lento é como o fogo aplicado gradualmente em diferentes lugares a um monte de grama, leva mais tempo para queimar. O karma de um período de existência que causa extensão de vida é, portanto, de duas variedades. Praticando Samyama neles o conhecimento do fim desta vida pode ser conhecido. Também pode ser obtido por presságios.
Os presságios são de três tipos - pessoais, elementares e divinos. O exemplo de presságios pessoais é não ouvir nenhum som de dentro do corpo ao fechar as orelhas, ou não ver qualquer luz refulgente nos olhos sendo fechados (pressionados pelos dedos). O exemplo de presságios elementares é ver os mensageiros do deus da morte, ou os fantasmas dos antepassados que partiram. Os presságios divinos são: ver os céus ou os siddhas (etéreos) subitamente, ou ver tudo ao contrário do que foi visto antes. Através de tais pressentimentos, chega-se a saber que a morte está próxima.
23- मैत्र्यादिषु बलानि ॥२३॥
maitryādiṣu balāni ॥23॥
मैत्री आदि [maitrī ādi] (através do samyama sobre) a amizade e outras virtudes similares* बल [bala] (obtém-se) o poder (infalível sobre elas)*
23- Através do samyama sobre a amizade e outras virtudes similares, obtém-se um poder infalível sobre elas.
Vyāsa): Amizade, compaixão e boa vontade são os três tipos de sentimentos recomendados. Destes, a força da amizade é adquirida através do cultivo de um sentimento de amizade para com uma pessoa feliz. Ao cultivar um sentimento de compaixão pelas criaturas infelizes, a força da compaixão é desenvolvida. Por um sentimento de prazer para com o virtuoso, a força da boa vontade é desenvolvida. A concentração resultante da contemplação desses sentimentos é chamada saṃyama e gera um poder infalível. A indiferença para com os pecadores não é objeto de contemplação; é por isso que não pode haver meditação sobre isso. Portanto, não é possível praticar saṃyama nele e nenhum poder pode ser adquirido através dele.
24- बलेषु हस्तिबलादीनि ॥२४॥
baleṣu hastibalādīni ॥24॥
बल [bala] (ao praticar saṃyama sobre) força* बल हस्ति आद [bala hasti ādi] força do elefante etc. (e de outros animais pode ser adquirida)*
24- Ao praticar saṃyama sobre força, a força do elefante e de outros animais pode ser adquirida.
(Vyāsa): Se o saṃyama é praticado sobre a força de um elefante, obtém-se o poder como aquele de um elefante. Similarmente, o poder do rei dos pássaros (garuda, filho de vinata) pode ser adquirido por saṃyama na força de garuda, e o poder do vento por saṃyama sobre a força de vāyu (senhor dos ventos), etc.
25- प्रवृत्त्यालोकन्यासात्सूक्ष्मव्यवहितविप्रकृष्टज्ञानम् ॥२५॥
pravṛttyālokanyāsātsūkṣmavyavahitaviprakṛṣṭajñānam ॥25॥
न्यास अलोक प्रवृत्ति [nyāsa āloka pravṛtti] focalizando a luz refulgente da percepção sensorial superior* ज्ञान सूक्ष्म व्यवहित विप्रकृष्ट [jñāna sūkṣma vyavahita viprakṛṣṭa] (adquire-se) o conhecimento dos objetos sutis ou ocultos ou situados a uma grande distância*
25- Focalizando a luz refulgente da percepção sensorial superior, adquire-se o conhecimento dos objetos sutis, ou ocultos, ou situados a uma grande distância.
(Vyāsa): A luz da percepção sensorial superior da mente já foi mencionada antes. Com sua ajuda, ou seja, através da propriedade sattvika, o yogin pode ver coisas que são muito sutis, ou ocultas à visão, ou afastadas.
26- भुवनज्ञानं सूर्ये संयमात् ॥२६॥
bhuvanajñānaṃ sūrye saṃyamāt ॥26॥
संयम सूर्य [saṃyama sūrya] através do saṃyama sobre o sol (plexo solar)* भुवन ज्ञान [jñāna bhuvana] vem o conhecimento do universo (centros cósmicos)*
26- Através do saṃyama sobre o sol vem o conhecimento do universo.
(Vyāsa): As regiões cósmicas são em número de sete ... Os yogins devem ver tudo isso praticando saṃyama na entrada solar (suryadvara) ou em qualquer outra região, até que tudo isso seja visto completamente. ["A palavra "sol" aqui designa o ponto no corpo conhecido como a entrada solar ... Ao determinar a entrada solar, primeiro suṣumṇā precisa ser especificado. O coração é o ponto de contato entre o Self e o corpo. Em outras palavras, a parte mais consciente do corpo é o coração. O peito é geralmente o centro do 'senso do Eu' (asmitā); portanto, a parte que é mais sensível e que tem o sentimento mais sutil é o coração. A corrente de sentimento sutil que flui do coração para o cérebro é o suṣumṇā. Suṣumṇā não deve ser procurado no corpo grosseiro, mas deve ser localizado apenas pela meditação ... de acordo com os antigos, um nervo particular subindo do coração é chamado suṣumṇā ... buddhi onipresente é limitado apenas pela ação dos sentidos. À medida que essas limitações desaparecem, o poder de buddhi continua aumentando e sobe das regiões mais altas para as mais altas ainda. Assim, a eliminação das armaduras de buddhi está relacionada com a sua chegada a diferentes lokas ou regiões."]. (S.H.A).
27- चन्द्रे ताराव्यूहज्ञानम् ॥२७॥
candre tārāvyūhajñānam ॥27॥
चन्द्र [candra] (praticando saṃyama) na lua (entrada lunar)* ज्ञानम् [jñāna] (vem) o conhecimento* व्यूह [vyūha] da ordem* तारा [tārā] sideral*
27- Praticando saṃyama sobre a lua (entrada lunar) vem o conhecimento da ordem sideral.
(Vyāsa): Pelo saṃyama na entrada lunar a disposição do sistema estelar será conhecida. ["Como o sol no último sutra se refere à entrada solar, então a lua aqui se refere à entrada lunar (não ao satélite). Mas eles não são exatamente da mesma natureza. Enquanto aqueles que viajam como um raio atravessando a região solar, alcançam brahmaloka, quem parte para a região lunar retorna à Terra. Como o sol é auto luminoso, o mesmo acontece com o conhecimento da entrada solar. Mas a luz da lua é reflexo. O poder de percepção necessário para conhecer um objeto luminoso é do tipo necessário para conhecer os sistemas estelares (luminosos). Pelo desenvolvimento do conhecimento que os sentidos alcançam, ié. pela competência no conhecimento de objetos grosseiros, o arranjo de regiões estelares pode ser conhecido. Desde que o Self sai do corpo por meio de uma das portas sensoriais, por ex. olho etc. e atinge a região lunar, tal passagem é chamada de lua (ou entrada lunar)."]. (S.H A).
28- ध्रुवे तद्गतिज्ञानम् ॥२८॥
dhruve tadgatijñānam ॥28॥
ध्रुव [dhruva] (pelo samyama) na estrela polar* ज्ञान [jñāna] (vem) o conhecimento* गति [gati] do movimento* तद् [tad] delas (das estrelas)*
28- Pelo samyama na estrela polar vem o conhecimento do movimento das estrelas.
(Vyāsa): Depois disso, praticando saṃyama na estrela polar que é imóvel, o movimento das estrelas deve ser conhecido. Por saṃyama no espaço etéreo (vazio) dos corpos celestes, seus movimentos devem ser conhecidos.
29- नाभिचक्रे कायव्यूहज्ञानम् ॥२९॥
nābhicakre kāyavyūhajñānam ॥29॥
नाभिचक्रे [nābhicakre] (praticando saṃyama) no cakra do umbigo* ज्ञान [jñāna] (vem) o conhecimento* व्यूह [vyūha] da composição* काय [kāya] do corpo*
29- Praticando saṃyama no cakra do umbigo, vem o conhecimento da composição do corpo.
(Vyāsa): A composição do corpo e o arranjo dos órgãos devem ser conhecidos pela prática do saṃyama no plexo do umbigo. Os humores são três em número, ié. vata (vento), pitta (bílis) e kapha (fleuma). Os sete elementos corpóreos são: rasa (quimo), rakta (sangue), mamsa (tecido muscular), medas (tecido adiposo), asthi (ossos e cartilagens) majja (medula óssea) e shukra (semen ou óvulo).
30- कण्ठकूपे क्षुत्पिपासानिवृत्तिः ॥३०॥
kaṇṭhakūpe kṣutpipāsānivṛttiḥ ॥30॥
कण्ठ कूपे [kaṇṭha kūpe] (praticando saṃyama) na cavidade da garganta* निवृत्ति [nivṛtti] (vem) a cessação* क्षुध् पिपासा [kṣudh pipāsā] da fome e da sede*
30- Praticando saṃyama na cavidade da garganta vem a cessação da fome e da sede.
(Vyāsa): Abaixo da língua estão as cordas vocais e a laringe, e abaixo dela está a traqueia. Quem pratica saṃyama na traqueia não é afetado pela fome e sede.
31- कूर्मनाड्यां स्थैर्यम् ॥३१॥
kūrmanāḍyāṃ sthairyam ॥31॥
कूर्म नाडी [kūrma nāḍī] (pelo saṃyama) no kūrma nāḍī (nāḍī tartaruga)* स्थैर्य [sthairya] (vem) a estabilidade*
31- Pelo saṃyama no kūrma nāḍi, vem a estabilidade.
(Vyāsa): Dentro do tórax, abaixo da traqueia, encontra-se uma estrutura tubular em forma de tartaruga, através do saṃyama, livra-se da inquietação, parecendo inerte como uma cobra ou uma iguana.
32- मूर्धज्योतिषि सिद्धदर्शनम् ॥३२॥
mūrdhajyotiṣi siddhadarśanam ॥32॥
मूर्धन् ज्योतिस् [mūrdhan jyotis] (praticando saṃyama) na luz coronal* दर्शन [darśana] (vem) a visão* सिद्ध [siddha] dos siddhas*
32- Praticando saṃyama na luz coronal, vem a visão dos siddhas.
(Vyāsa): No crânio há um pequeno orifício através do qual emana a luz refulgente. Praticando saṃyama nessa luz, os siddhas que se encontram no espaço entre a terra e o céu, podem ser vistos. ["A luz deve ser visualizada partindo do interior para trás da cabeça. Siddhas são uma espécie de devas ou seres aéreos"]. (S.H.A).
33- प्रातिभाद्वा सर्वम् ॥३३॥
prātibhādvā sarvam ॥33॥
वा [vā] e* प्रातिभाद्वा [prātibha] prātibha (insight intuitivo)* सर्वम् [sarvam] (vem o conhecimento) de tudo*
33- E, de pratibha (insight), vem o conhecimento de tudo.
(Vyāsa): Prātibha, ié. intuição (tāraka), é o estado do conhecimento que precede a obtenção do conhecimento discriminativo, como a luz da aurora que precede o nascer do sol. Por isso também, ou seja, quando o conhecimento prātibha é alcançado, o yogin tem uma percepção de tudo.
34- हृदये चित्तसंवित् ॥३४॥
hṛdaye cittasaṃvit ॥34॥
हृदय [hṛdaya] (praticando saṃyama) no coração* संविद् [saṃvit] (vem) o conhecimento* चित्त [citta] da mente (citta)*
34- Praticando saṃyama no coração, vem o conhecimento da mente (citta).
(Vyāsa): A morada de Brahma (o coração), em forma de lótus com uma pequena abertura, é a sede do conhecimento. Através do saṃyama, nela, surge a percepção de citta.
35- सत्त्वपुरुषयोरत्यन्तासंकीर्णयोः प्रत्ययाविशेषो भोगः परार्थत्वात्स्वार्थसंयमात्पुरुषज्ञानम् ॥३५॥
sattvapuruṣayoratyantāsaṃkīrṇayoḥ pratyayāviśeṣo bhogaḥ parārthatvātsvārthasaṃyamātpuruṣajñānam ॥35॥
भोग प्रत्यय अविशेष अत्यन्त असङ्कीर्ण पुरुष सत्त्व [bhoga pratyaya aviśeṣa atyanta asaṃkīrṇa puruṣa sattva] experiência é uma concepção que não distingue entre os absolutamente distintos puruṣa e o (buddhi) sattva* अर्थ पर [artha para] tal experiência existe para o outro (puruṣa)* संयम अर्थात्व ज्ञान पुरुष [saṃyama arthātva jñāna puruṣa] através do saṃyama sobre o que existe por si mesmo (puruṣa) vem o conhecimento sobre o puruṣa (self)*
35- Experiência é a concepção que não distingue entre as duas entidades extremamente distintas: puruṣa e buddhi sattva. Tal experiência existe para o outro (puruṣa). Através do saṃyama sobre o puruṣa, obtém-se o conhecimento sobre o puruṣa.
(Vyāsa): O buddhi-sattva é o senciente. Inseparavelmente associado a ele estão os guṇas rajas e tamas. Subjugando ou neutralizando a força dos outros dois, o buddhisattva passa a perceber a distinção entre buddhi e puruṣa. Puruṣa é completamente diferente, em natureza, de buddhi. Ele é consciência pura, distinta e absoluta. A concepção de duas entidades distintas (buddhisattva e puruṣa) como a mesma, é experiência (bhoga) e é atribuída a puruṣa, porque na realidade o que é visto ou experimentado é apresentado ao puruṣa por buddhi. A concepção da experiência ser de buddhi e, como ele está servindo a outro, é considerada como conhecível do vidente. Se uma concepção é formada dele (isto é, do puruṣa), que é distinta da experiência e nada além da consciência absoluta, e o samyama sendo praticado nele, então o conhecimento relativo ao puruṣa será adquirido. Puruṣa não é, no entanto, compreendido por essa concepção intelectual dele. Além disso, puruṣa é o conhecedor da concepção formada por ele. Foi dito, portanto, no Upaniṣad: "Por quem o conhecedor será conhecido?"
36- ततः प्रातिभश्रावणवेदनादर्शास्वादवार्ता जायन्ते ॥३६॥
tataḥ prātibhaśrāvaṇavedanādarśāsvādavārtā jāyante ॥36॥
ततस् जायन्ते प्रातिभ [tatas jāyante prātibha] então (do conhecimento do puruṣa) surge prātibha (intuição)* श्रावण [śrāvaṇa] (e os poderes super físicos) da audição* वेदना [vedanā] tato* आदर्श [ādarśa] visão* आस्वाद [āsvāda] paladar* वार्ता [vārttā] olfato*
36- Então (do conhecimento do Puruṣa) surge a intuição (prātibha) e os poderes super físicos da audição (śrāvaṇa), da visão (ādarśa), do tato (vedana), do paladar (āsvāda) e do olfato (vārttā).
(Vyāsa): De prātibha, insight super físico, é adquirido o conhecimento do sutil, do oculto, do remoto, do passado e do futuro. De śrāvaṇa, sons divinos tornam-se audíveis; de vedanā, o sentido divino do toque é percebido; de ādarśa, vem o sentido divino da luz; de āsvāda, vem a cognição do gosto divino, e de vārttā vem a cognição dos odores celestes. Estes sempre (inevitavelmente) surgem (com o conhecimento de Puruṣa).
37- ते समाधावुपसर्गा व्युत्थाने सिद्धयः ॥३७॥
te samādhāvupasargā vyutthāne siddhayaḥ ॥37॥
ते सिद्धि व्युत्थान [te siddhi vyutthāna] esses (siddhis) são poderes no estado de vigília* उपसर्ग समाधि [upasarga samādhi] (mas) obstáculos para o samādhi*
37- Esses siddhis são poderes no estado de vigília, mas obstáculos para o samādhi.
(Vyāsa): Os poderes adquiridos mencionados antes como a presciência, etc. tornam-se obstáculos para a realização do samādhi, porque eles se interpõem no caminho da realização da verdade última em uma mente absorta. Quando a mente está flutuando, são aquisições.
38- बन्धकारणशैथिल्यात्प्रचारसंवेदनाच्च चित्तस्य परशरीरावेशः ॥३८॥
bandhakāraṇaśaithilyātpracārasaṃvedanācca cittasya paraśarīrāveśaḥ ॥38॥
कारण बन्ध शैथिल्य [kāraṇa bandha śaithilya] (quando) a causa da junção enfraquece* च प्रचार चित्त संवेदन [ca pracāra citta saṃvedana] e os movimentos da mente conhecidos* अवेश पर शरीर [āveśa para śarīra] (o yogin pode) entrar em outro corpo*
38- Quando a causa da junção enfraquece e os movimentos da mente conhecidos, o yogin pode entrar em outro corpo.
(Vyāsa): Sendo agitada por natureza, a mente fica atada ao corpo por conta das impressões latentes de ações anteriores. Através do poder da concentração, os laços criados por ações anteriores desatam e os movimentos da mente tornam-se conhecidos possibilitando ao yogin remover a mente de seu próprio corpo e projetá-la no corpo de outra pessoa. Como uma abelha rainha que quando voa todas as abelhas a seguem, e quando ela se acalma, as outras fazem o mesmo, é assim que as energias sensoriais (indriyas) seguem a mente quando entram em outro corpo.
39- उदानजयाज्जलपङ्ककण्टकादिष्वसङ्ग उत्क्रान्तिश्च ॥३९॥
udānajayājjalapaṅkakaṇṭakādiṣvasaṅga utkrāntiśca ॥39॥
जय उदान [jaya udāna] ao domínar (a energia vital) udāna* उत्क्रान्ति च असङ्ग (utkrānti ca asaṅga) (obtém-se o poder) da levitação e de não entrar em contato* जल पङ्क कण्टक अदि (jala paṅka kaṇṭaka ādi) água lama espinhos etc.*
39- Ao dominar a energia vital udāna, obtém-se o poder da levitação e de não entrar em contato com água, lama e espinhos, etc.
(Vyāsa): A ação dos sentidos que expressam as forças vitais (prāṇas) é vida. Essa ação é quíntupla: Prāṇa tem movimento confinado à boca e ao nariz, sua ação se estende até o coração; Samāna distribui a energia da nutrição para todas as partes e sua esfera de ação é até o umbigo; Apāna é assim chamado porque elimina os resíduos e atua até as plantas dos pés; Udāna é a força vital com sentido ascendente e vai até a cabeça. A força vital vyāna está espalhada por todo o corpo. Destas forças, a principal é o prāṇa. O domínio sobre a força vital udāna elimina a possibilidade de imersão em água ou lama e garante a saída (através de archi e passagens similares) no momento da morte. Também faz com que a saída do corpo ocorra por deliberação.
40- समानजयाज्ज्वलनम् ॥४०॥
samānajayājjvalanam ॥40॥
जय समान [jaya samāna] pelo domínio da força vital (samāna)* ज्वलन [jvalana] (surge a) radiância (do fogo gástrico)
40- Pelo domínio da força vital samāna, surge a radiância do fogo gástrico.
(Vyāsa): O yogin que domina samāna pode gerar radiância no corpo e se tornar luminoso.
41- श्रोत्राकाशयोः सम्बन्धसंयमाद्दिव्यं श्रोत्रम् ॥४१॥
śrotrākāśayoḥ sambandhasaṃyamāddivyaṃ śrotram ॥41॥
संयम सम्बन्ध आकाश श्रोत्र [saṃyama saṃbandha ākāśa śrotra] pelo saṃyama na relação entre ākāśa (espaço) e a audição* श्रोत्र दिव्य [śrotra divya] (vem) a audição super física*
41- Pelo saṃyama na relação entre ākāśa e a audição, vem a audição super física.
(Vyāsa): Todos os poderes da audição e todos os sons residem em ākāśa. Diz-se que: “Como o sentido da audição de todos os seres tem relação com o mesmo elemento sonoro, ele está relacionado àquele único elemento''. É aquela audição condicionada que é o liṅga ou indicador do ākāśa, e a ausência de obstrução (vazio) também é mencionada como seu liṅga ou indicador. Além disso, descobre-se que uma coisa sem forma ou algo intangível não é obstruída por nada (assim, pode ficar em qualquer lugar); Então, a onipresença do ākāśa é estabelecida. Pela percepção do som, pode-se inferir a existência do órgão da audição. Aquele que é surdo não percebe o som, enquanto quem não é, o percebe. Somente o som é o objeto do órgão da audição. O yogin que pratica saṃyama na relação entre o órgão da audição e o ākāśa, desenvolve a audição super física.
42- कायाकाशयोः सम्बन्धसंयमाल्लघुतूल समापत्तेश्चाकाशगमनम् ॥४२॥
kāyākāśayoḥ sambandhasaṃyamāllaghutūla samāpatteścākāśagamanam ॥42॥
संयम सम्बन्ध काय आकाश [saṃyama saṃbandha kāya ākāśa] pelo saṃyama na relação corpo ākāśa (espaço)* च समापत्ति लघु तूल (ca samāpatti laghu tūla) ou pelo samāpatti (concentração) na leveza do algodão* गमन आकाश (gamana ākāśa) (vem a capacidade) de se movimentar no ākāśa (pelo espaço)*
42- Pelo saṃyama na relação entre o corpo e o espaço (ākāśa), ou pela concentração na leveza do algodão, vem a capacidade de se movimentar pelo espaço.
(Vyāsa): Onde quer que haja corpo, existe ākāśa, porque o vazio fornece espaço para o corpo. Pelo saṃyama sobre essa relação, o yogin se torna leve e pode se mover pelo espaço. Ou pela meditação sobre o algodão ou outras coisas leves como átomos, o yogin se torna leve. Ao se tornar leve, ele pode andar sobre a água e, em seguida, sobre teias de aranha e raios de luz. Depois disso, ele pode se mover para o espaço à vontade.
43- बहिरकल्पिता वृत्तिर्महाविदेहा ततः प्रकाशावरणक्षयः ॥४३॥
bahirakalpitā vṛttirmahāvidehā tataḥ prakāśāvaraṇakṣayaḥ ॥43॥
वृत्ति अकल्पिता बहिस् महाविदेह [vṛtti akalpitā bahis mahāvideha] (quando pelo saṃyama) uma flutuação não imaginária (pode ser realizada) fora (do corpo) é chamada mahāvidehā (grande desencarnado)* ततस् क्षय आवरण प्रकाश [tatas kṣaya āvaraṇa prakāśa] então é removido o véu sobre a iluminação*
43- Quando pelo saṃyama uma flutuação não imaginária pode ser realizada fora do corpo, é chamada de mahavideha (grande desencarnado). Por isso, é removido o véu sobre a iluminação (do buddhisattva).
(Vyāsa): A flutuação ou noção da mente quando concebida fora do corpo é chamada de fixidez desencarnada ou videhā dhāraṇā. Se esse dhāraṇā ou fixidez é causado por uma concepção externa da mente mantida dentro do corpo, ela é chamada kalpita (imaginada). Se, no entanto, a fixidez de uma mente, independente do corpo, estiver relacionada a uma concepção fora do corpo, ela é conhecida como akalpita (inimaginável ou atual). Entre estas, as flutuações relativas à fixidez do mahāvidehā devem ser praticadas com a ajuda da fixidez imaginada. Por tal fixidez inimaginável, a mente de um yogin pode entrar em outro corpo. Por essa fixidez, o véu sobre o senciente buddhi, na forma de kleśa (aflição), karma (ação) e triplo vipāka (fruição), originários de rajas e tamas, é removido. ["Quando através da prática de dhāraṇā em qualquer objeto externo (o onipresente ākāśa é o mais adequado) alguém contempla profundamente 'eu estou lá', e assim faz com que a mente permaneça lá, isto é, quando alguém realmente sente que está lá (e não dentro corpo), atinge-se a fixidez desencarnada. Quando a mente é sentida dentro e fora do corpo, é chamada de fixidez imaginária. Quando a mente, sendo liberta do corpo, ganha fixidez fora, ela é chamada de fixidez mahāvidehā. Assim, obtém-se a remoção do véu referido no comentário. O sentimento "eu sou o corpo" é o mais grosseiro dos véus sobre o conhecimento que é diluído ou destruído por esse saṃyama."]. (S.H.A)
44- स्थूलस्वरूपसूक्ष्मान्वयार्थवत्त्वसंयमाद्भूतजयः ॥४४॥
sthūlasvarūpasūkṣmānvayārthavattvasaṃyamādbhūtajayaḥ ॥44॥
संयम [saṃyama] (através) do saṃyama* स्थूल [sthūla] (na natureza) densa* स्वरूप [svarūpa] na forma essencial* सूक्ष्म [sūkṣma] na natureza sutil* अन्वय [anvaya] na inerência* अर्थवत्त्व [arthavattva] e no propósito (dos bhūtas)* जय [jaya] (vem) o domínio* बूत [bhūta] dos bhūtas (elementos)*
44- Através do saṃyama na natureza densa, na forma essencial, na natureza sutil, na inerência e no propósito dos bhūtas (elementos densos), obtêm-se o domínio sobre os elementos (bhūtas).
(Vyāsa): Destas cinco formas, as propriedades distintivas de cada um: som, terra, etc. e as propriedades como forma etc. são tecnicamente chamadas de 'densas'. Esta é a primeira forma dos bhūtas. A segunda é sua forma genérica, cada uma peculiar a si mesma. Por exemplo, a característica da terra é sua dureza natural, a liquidez da água, o calor do fogo, a mobilidade do vento, a onipresença do ākāśa. Essa segunda forma é chamada de atributo essencial. Esta forma genérica tem som, etc. como seus particulares. Tem sido dito a este respeito: "Estes (elementos) que pertencem à mesma classe ainda são distinguidos um do outro por propriedades específicas." Aqui (de acordo com a filosofia sāṃkhya) uma substância é um agregado de genéricos e específicos atributos. Esse agregado é de dois tipos - (i) em que a concepção da distinção de partes individuais desapareceu, ié. um corpo, uma árvore, uma manada, uma floresta; e (ii) em que as diferentes partes são indicadas por termos que mostram a distinção, ié. 'devas-e-homens', uma parte sendo devas e a outra parte homens. Os dois juntos formam um grupo. Na concepção do agregado, a distinção de partes individuais pode ou não ser mencionada, por exemplo, podemos dizer "um bosque de mangueiras", "uma reunião de brâmanes", ou "um mangueiral", uma reunião brâmanica'. Novamente a coleção é dupla - (i) aquela de que as partes existem quando separadas (yuta-siddhavayava) e (ii) aquela de que as partes não são separáveis (aytua-siddhavayava). 'Uma floresta', ou 'assemblage', é um grupo onde as partes são separadas umas das outras. Um corpo ou uma árvore ou um átomo, etc., é um todo do qual as partes não são separáveis. Patañjali diz que um objeto é uma coleção, cujas partes componentes diferentes não existem separadamente. Isso tem sido chamado de atributo essencial ou svarupa dos bhūtas. Agora, qual é a forma sutil dos bhūtas? A resposta é "tanmātra - a fonte dos bhūtas". Tem uma única parte (ié, final) que é um átomo. É uma substância composta (ayuta-siddhavayava) que consiste em qualidades genéricas e específicas. Todos os tanmātras são assim; esta é a terceira forma dos bhūtas. A quarta forma dos bhūtas relaciona-se com suas propriedades de manifestação (cognibilidade), atividade e retenção. Estes três, sendo semelhantes às modificações dos três gunas, foram descritos pela palavra inerência, ié. como suas qualidades inerentes. A quinta forma dos bhūtas é a objetividade. A experiência e a liberação delas são inerentes aos gunas e os gunas são inerentes aos tanmātras, bhūtas e objetos materiais. Por essa razão, tudo é objetivo. Ao praticar saṃyama no tattva formado por último, ou seja, nos cinco bhūtas que possuem as cinco formas, os aspectos apropriados das cinco formas podem ser realizados e subjugados. Ao subjugar as cinco formas, o yogin ganha domínio sobre os bhūtas. Como resultado disso, os bhūtas e os tanmātras seguem a vontade do yogin como uma vaca segue seu bezerro.
45- ततोऽणिमादिप्रादुर्भावः कायसम्पत्तद्धर्मानभिघातश्च ॥४५॥
tato'ṇimādiprādurbhāvaḥ kāyasampattaddharmānabhighātaśca ॥45॥
ततस् प्रादुर्भाव अणिम आदि [tatas prādurbhāva aṇima ādi] então (vem) a manifestação (dos poderes como) aṇima etc.* सम्पद् काय [saṃpad kāya] a perfeição do corpo* च अनभिघात तत् धर्मा [ca anabhighāta tat dharma] e a não obstrução de seus atributos*
45- Então, vem a manifestação dos poderes como aṇiman etc. a perfeição do corpo e a não obstrução de seus atributos.
(Vyāsa): Destes (siddhis): Minimização (aṇimā) é aquele pela qual se pode reduzir o próprio tamanho ao de um átomo. Leveza (laghimā) é aquele pela qual se pode diminuir o próprio peso. O siddhi (mahimā) engrandecimento é aquele pelo qual se pode aumentar o tamanho ou a estatura. O siddhi (prāpti) esticamento do corpo é aquele pelo qual se pode tocar a lua com as pontas dos dedos. O poder (prākāmya) firmeza de intensão é aquele pelo qual alguém pode passar por terra sólida ou não pode ser imerso em água. O Poder (vaśitva) auto controle é aquele pelo qual se pode ter controle sobre os bhūtas e sua causa, ié. tanmatras, e não ser influenciado por outros. O poder (īśitva) supremacia é aquele pelo qual se pode controlar o aparecimento, o desaparecimento e a agregação dos bhūtas e objetos feitos a partir deles. O poder (kāmāvasāyitā) 'dominar seus desejos' é aquele pelo qual se pode controlar à vontade os bhūtas e sua natureza e suas permanências como desejado.
Yogins com tais poderes não os utilizam para perturbar a disposição do mundo, porque eles não podem ou não podem ir contra a vontade do Ser Único que criou essa disposição existente das coisas. Estas são as oito realizações. Os poderes sobrenaturais do corpo serão mencionados mais adiante.
Exemplo de não obstrução às características do corpo é a incapacidade da terra, através de sua dureza, de deter o funcionamento dos órgãos do corpo do yogin. Seu corpo pode atravessar uma pedra, a fluidez da água não molha o seu corpo, o fogo não pode queimá-lo, o vento soprando não o move e até ākāśa não obstrui nada que ele possa ocultar, assim pode desaparecer de vista, mesmo dos siddhas.
46- रूपलावण्यबलवज्रसंहननत्वानि कायसम्पत् ॥४६॥
rūpalāvaṇyabalavajrasaṃhananatvāni kāyasampat ॥46॥
संपद् काय [saṃpad kāya] a perfeição do corpo (consiste em)* रूप लावण्य बल संहननत्व वज्र [rūpa
lāvaṇya bala saṃhananatva vajra] forma (beleza) graça força dureza adamantina*
46- A perfeição do corpo consiste em beleza, graça, força e dureza adamantina.
(Vyāsa): Ser apresentável, cordial, cheio de força e resistente como diamante, é ter um corpo perfeito.
47- ग्रहणस्वरूपास्मितान्वयार्थवत्त्वसंयमादिन्द्रियजयः ॥४७॥
grahaṇasvarūpāsmitānvayārthavattvasaṃyamādindriyajayaḥ ॥47॥
संयम ग्रहण स्वरूप अस्मिता अन्वय अर्थवत्त्व [saṃyama grahaṇa svarūpa asmitā anvaya arthavattva] pelo saṃyama no processo cognitivo em seu caráter essencial no 'senso do eu' na qualidade inerente e na objetividade dos órgãos dos sentidos* जय दिन्द्रिय [jaya indriya] (vem) o controle sobre os sentidos*
47- Pelo saṃyama no processo cognitivo, em seu caráter essencial, no 'senso do Eu' (asmitā), na qualidade inerente e na objetividade dos órgãos dos sentidos, vem o controle sobre os sentidos.
(Vyāsa): Sons e outros (objetos perceptíveis), em seus aspectos gerais e particulares, são cognoscíveis. A percepção é a ação dos sentidos sobre objetos cognoscíveis. Os sentidos não são apenas receptores do aspecto geral. Porque, nesse caso, como pode um objeto (que não foi percebido pelos sentidos) ser refletido pela mente? Caráter Essencial - Um órgão é um objeto com partes inseparáveis consistindo das qualidades gerais e particulares do princípio senciente 'buddhi' (assim, esse tipo de "todo" é a natureza essencial de um órgão). A terceira forma é o princípio da individualidade caracterizado pelo 'senso do Eu' (sentimento de personalidade - asmitā). Os sentidos são as formas especializadas dessa aparência genérica. A quarta forma dos órgãos é sua qualidade perceptiva de senciência, mutação e retenção. Os órgãos juntamente com ahamkara (ou sentimento de individualidade) são as mutações da causa primária, pela ação dos três guṇas. A quinta forma dos órgãos inseparavelmente conectada com os guṇas é o propósito do Self. Ao praticar saṃyama sucessivamente nesses cinco aspectos dos órgãos e dominá-los um a um, o yogin desenvolve o poder de subjugar os órgãos dos sentidos.
48- ततो मनोजवित्वं विकरणभावः प्रधानजयश्च ॥४८॥
tato manojavitvaṃ vikaraṇabhāvaḥ pradhānajayaśca ॥48॥
ततस् (tatas) daí (vem a)* जवित्व मनस् (javitva manas) rapidez (como a) da mente* भाव विकरण (bhāva vikaraṇa) ação de órgãos independentes do corpo* च जय प्रधान (ca jaya pradhāna) e domínio sobre a matéria primordial*
48- Daí vem a rapidez como a da mente, ação de órgãos independentes do corpo e domínio sobre a matéria primordial (pradhāna).
(Vyāsa): A velocidade como a da mente significa que o corpo adquire a melhor velocidade possível de movimento. A ação dos órgãos, independente do corpo, significa sua ação (sem a necessidade da presença do corpo), em qualquer lugar ou tempo desejado, ou em qualquer objeto. O domínio sobre a causa primordial significa a subjugação das causas constituintes e suas modificações. Essas três realizações são chamadas madhu-pratika. Estes surgem da subjugação das cinco formas de órgãos.
49- सत्त्वपुरुषान्यताख्यातिमात्रस्य सर्वभावाधिष्ठातृत्वं सर्वज्ञातृत्वं च ॥४९॥
sattvapuruṣānyatākhyātimātrasya sarvabhāvādhiṣṭhātṛtvaṃ sarvajñātṛtvaṃ ca ॥49॥
ख्याति अन्यता मात्र सत्त्व पुरुष [khyāti anyatā mātra sattva puruṣa] (quem) discerne entre sattva (buddhi) e puruṣa* सर्वज्ञातृत्वं च अधिष्ठातृत्व सर्व भाव [sarva jñātṛtva ca adhiṣṭhātṛtva sarva bhāva] (adquire a) onisciência e supremacia sobre todos os seres*
49- Quem discerne entre buddhi e purusa, adquire a onisciência e a supremacia sobre todos os seres.
(Vyāsa): Quando buddhi sattva, liberto dos efeitos de rajas e tamas, atinge a perfeição e torna-se transparente, nesse extremo estado vasikara saṃjñā, a mente do yogin estabelecida no conhecimento da distinção entre buddhi sattva e puruṣa, adquire poder sobre todos fases da existência, isto é, todas as formas objetivas e subjetivas dos gunas aparecem diante de sua mente em uma variedade infinita. Onisciência significa conhecimento simultâneo das mutações dos gunas que permeiam tudo em seus estados de existência passados, presentes e futuros, e é chamado vivekaja jñana. Essa conquista é chamada viśokā e, ao adquirir isso, o yogin torna-se onisciente e livre de todas as aflições.
50- तद्वैराग्यादपि दोषबीजक्षये कैवल्यम् ॥५०॥
tadvairāgyādapi doṣabījakṣaye kaivalyam ॥50॥
वैराग्य अपि तद् [vairāgya api tad] por desapego mesmo dessa (conquista chamada viśokā)* क्षय बीज दोष कैवल्य [kṣaya bīja doṣa kaivalya] (e pela) destruição das sementes da aflição vem a liberação suprema (kaivalya).
50- Por desapego, mesmo dessa conquista chamada viśokā), e pela destruição das sementes da aflição, vem kaivalya, a libertação suprema.
(Vyāsa): Sobre a atenuação de aflições e ações decorrentes deles, o yogin percebe que o conhecimento discriminativo é apenas uma característica de buddhi, e que buddhi sattva é um entre os objetos a serem descartados e que o puruṣa é imutável, puro e diferente de sattva guna. Na obtenção de tal esclarecimento, o yogin começa a perder seu desejo por buddhi sattva, e as sementes da aflição, tornadas improdutivas como sementes torradas, morrem com sua mente. Quando elas (as sementes da aflição) desaparecem totalmente, o puruṣa não sofre da tríplice tristeza. Então os gunas, cujas mutações existem na mente como klesas e resultados das ações, tendo cumprido seu propósito, retornam ao estado não manifesto e, assim, estabelecem sua completa separação do puruṣa. Isso é libertação. Nesse estado o puruṣa não é senão a consciência 'metafísica' estabelecida em si mesma.
51- स्थान्युपनिमन्त्रणे सङ्गस्मयाकरणं पुनरनिष्टप्रसङ्गात् ॥५१॥
sthānyupanimantraṇe saṅgasmayākaraṇaṃ punaraniṣṭaprasaṅgāt ॥51॥
उपनिमन्त्रण स्थानिन् [upanimantraṇa sthānin] (quando) solicitado pelos seres celestes* अकरण सङ्ग स्मय [akaraṇa saṅga smaya] (que esse convite) não desperte apego ou orgulho* अनिष्ट प्रसङ्ग पुनर् [aniṣṭa prasaṅga punar] pois as consequências indesejáveis se repetem*
51- Ao ser convidado pelos seres celestes, que não desperte apego ou orgulho, pois as consequências indesejáveis se repetem.
(Vyāsa): Os yogins são de quatro classes - (1) Prathama-kalpika, (2) Madhu-bhumika, (3) Prajna-jyoti e (4) Atikrantabhavaniya. Destas, a primeira é dos envolvidos em práticas devocionais e nos quais os poderes sobrenaturais estão iniciando. As segunda é daqueles que atingiram a sabedoria ṛtaṃbharā, e a terceira é daqueles que dominam os bhutas e os órgãos, que retêm todos poderes que podem ser adquiridos e estão fielmente empenhados na busca de novas realizações. A quarta é daqueles que foram além da aquisição de realizações e cujo único objetivo restante é a eliminação da ação da mente. Daqueles que adquiriram a iluminação discriminativa (viveka-khyāti) são contemplados com os sete tipos superiores de insight (prajñā). Os seres celestes que residem em altas regiões, percebendo a pureza do intelecto daqueles que alcançaram a verdade imaculada Madhumati (estágio Madhu-bhumika), convidam-os, tentando-os com prazeres disponíveis em suas regiões da seguinte maneira: 'Oh Grande Alma venha e sente-se aqui e divirta-se. Aqui é maravilhoso ... Evitando o contato com os outros e o sentimento de orgulho da maneira acima, o yogin torna-se firme em sua contemplação, o que o levaria eventualmente ao objeto contemplado.
52- क्षणतत्क्रमयोः संयमाद्विवेकजं ज्ञानम् ॥५२॥
kṣaṇatatkramayoḥ saṃyamādvivekajaṃ jñānam ॥52॥
संयम क्षण तद् क्रम [saṃyama kṣaṇa tad krama] pelo saṃyama sobre kṣaṇa (momento) e sua sequência (krama)* ज्ञानम् विवेक ज [jñāna viveka ja] vem o conhecimento decorrente da discriminação*
52- Pelo saṃyama sobre kṣaṇa (momento) e krama (sua sequência), vem o conhecimento decorrente da discriminação (viveka jñāna).
(Vyāsa): Como o menor objeto é um átomo (ou partícula minúscula), o tempo mínimo é um momento. Em outras palavras, o tempo gasto por um átomo em movimento, deixando um ponto no espaço e alcançando o ponto adjacente, é um momento. O fluxo contínuo destes é krama ou sequência. Em tal sequência, não há um agregado real de momentos. Muhurta (uma medida de tempo cobrindo 48 minutos), dia, noite, etc. são todos agregados formados pela concepção mental. O tempo não é uma realidade substantiva, mas apenas um conceito mental, que entra na mente como um conhecimento verbal, mas para uma pessoa comum pode parecer algo real. O momento, no entanto, é relativo aos objetos e repousa sobre a seqüência, porque a seqüência é uma sucessão de momentos, que é chamada pelos yogins com o conhecimento do tempo como tempo. Dois momentos nunca estão presentes ao mesmo tempo. Não pode haver sucessão de dois momentos coexistentes, o que é impossível. Quando um momento posterior sucede um anterior sem interrupção, é criada uma sequência.
Por essa razão (o que chamamos) 'presente' é apenas um momento único, e um momento anterior ou posterior não existe. Assim, não há combinação do passado, presente e futuro. Aqueles que são passados e futuros devem ser explicados como inerentes às mutações, isto é, passado e futuro são apenas uma concepção geral de caráter mutável e não-manifesto, com o resultado de considerarmos as mutações ausentes como ocorrências em momentos passados ou futuros. Naquele momento presente, todo o universo está experimentando uma mudança, já que todas essas características - passado, presente e futuro - existem naquele momento presente. Praticando o samyama no momento e em sua sequência, é adquirido o conhecimento de suas características e daí flui o conhecimento do discernimento. [" ... Ao praticar samyama no momento (presente), isto é, na característica de um objeto que se transforma naquele momento e na sua sequência, ié. no fluxo de mutações que ocorre a cada momento, o conhecimento discriminativo é adquirido. Quando as mínimas mutações nas coisas e o seu fluxo são conhecidas, o poder mais sutil da discriminação é alcançado. O que está no próximo aforismo é o conhecimento discriminativo, e é o mesmo que a onisciência referida no sutra 49, atrás."]. (S.H.A).
53- जातिलक्षणदेशैरन्यतानवच्छेदात् तुल्ययोस्ततः प्रतिपत्तिः ॥५३॥
jātilakṣaṇadeśairanyatānavacchedāt tulyayostataḥ pratipattiḥ ॥53॥
ततस् प्रतिपत्ति [tatas pratipatti] dele (viveka jñāna) (vem) o discernimento* तुल्य अन्यता अनवच्छेद [tulya anyatā anavaccheda] de duas coisas comparáveis que não podem ser distinguidas* जाति लक्षण देश [jāti lakṣaṇa deśa] por classe característica temporal posição*
53- De vivekajaṃ jñānam, vem o discernimento de duas coisas comparáveis que não podem ser distinguidas por classe, característica temporal ou posição.
(Vyāsa): "...A noção sequencial de espaço correlacionada a outro momento do tempo é o meio de sua distinção ... entende-se que, embora classe, tempo e posição de dois átomos possam ser os mesmos, descobrindo a correlação de cada posição atômica no espaço para um diferente momento de tempo, a noção sequencial de tal posição no espaço pode ser conhecida por ser diferente, por um yogin avançado ... ["...A distinção em característica, forma, etc. é compreensível pela inteligência comum, mas a distinção da consideração de momentos (átomos de tempo) é percebida apenas pelo intelecto de um yogin ... No estado não manifesto, quando os gunas estão em equilíbrio, todas as distinções desaparecem ... A percepção dessa mudança momentânea é a forma mais sutil de cognição. Coisas mais sutis do que estas não podem ser percebidas, elas são assim não manifestas. Como uma coisa não manifesta não pode ser percebida, não há possibilidade de perceber qualquer diferença nela. Portanto, no estado não manifestado, que está na raiz das coisas, nenhuma diferença é imaginável."]. (S.H.A).
54- तारकं सर्वविषयं सर्वथाविषयम् अक्रमं चेति विवेकजं ज्ञानम् ॥५४॥
tārakaṃ sarvaviṣayaṃ sarvathāviṣayam akramaṃ ceti vivekajaṃ jñānam ॥54॥
इति विवेक ज ज्ञानम् तारकं [iti viveka ja jñāna tāraka] o conhecimento proveniente do discernimento é intuitivo* सर्व विषय सर्वथा विषय (sarva viṣaya sarvathā viṣaya) abrange todos os objetos e todos os tempos* च अक्रम [ca akrama] e não sequencial*
54- O Conhecimento proveniente do discernimento é intuitivo (tāraka), abrange todos os objetos e todos os tempos, e não tem sequência.
(Vyāsa): Taraka significa que o conhecimento vem da nossa faculdade inata e não depende de instrução alheia. 'Abrange todos objetos' indica que nada está fora de seu alcance. 'De todos os tempos' significa que todas as coisas do passado, presente e futuro, com todas as suas respectivas características, estão dentro do seu intuito. 'Não tem sequência' significa que todas as coisas são apresentadas ao intelecto no mesmo momento. Este discernente conhecimento é completo. Yoga pradipa ou a lâmpada do yoga é uma parte dela e se estende desde madhumati ou ṛtaṃbharā prajñā até os sete tipos de conhecimento supremo. ["...O conhecimento discriminativo é a conclusão do conhecimento. A luz do yoga é sua primeira parte. E, ṛtaṃbharā prajñā é o conhecimento discriminativo secundário. Após a realização do estágio Madhumati, e até que a mente seja dissolvida, a mente permanece cheia desse conhecimento."] (S.H.A.).
55- सत्त्वपुरुषयोः शुद्धिसाम्ये कैवल्यमिति ॥५५॥
sattvapuruṣayoḥ śuddhisāmye kaivalyamiti ॥55॥
साम्य (sāmya) (quando há) igualdade* शुद्धि (śuddhi) de pureza* सत्त्व [sattva] (entre) (buddhi) sattva* पुरुष [puruṣa] e o puruṣa* कैवल्य इति [kaivalyam iti] vem kaivalya*
55- Quando há igualdade de pureza entre buddhi-sattva e o puruṣa vem kaivalya (isolamento) .
(Vyāsa): Quando buddhi sattva é libertado de todas as impurezas de rajas e tamas, ocupando-se apenas com o discernimento discriminativo do puruṣa e, assim, adquire o estado onde as sementes da aflição se tornam torradas, então se torna semelhante ao puruṣa por conta de sua pureza. A ausência de qualquer imputação de experiência de prazer ou dor é a pureza do puruṣa. Nessa condição, onipotente ou não, dotado de conhecimento discriminativo secundário ou não, torna-se liberado. Quando a semente da aflição é queimada, nada mais é necessário para o cumprimento do supremo conhecimento espiritual. Já foi dito antes que vários poderes e conhecimentos são alcançáveis através da concentração. Falando do ponto de vista do avanço espiritual, pode-se dizer que, por meio do discernimento discriminativo, o processo de engano é interrompido e, depois disso, as aflições não surgem no futuro. Não haveria então fruição de ações por falta de aflições. Nesse estado, os gunas tendo cumprido seu objetivo, não se apresentam mais para serem testemunhados pelo puruṣa. Isso é conhecido como o estado de libertação do puruṣa. Então o puruṣa brilhando em sua própria luz se torna livre de impurezas e de todos os contatos. ["O maior objetivo espiritual é a completa cessação da miséria. Nas práticas para alcançar o progresso espiritual, o discernimento do conhecimento (intuitivo) e a obtenção de poderes sobrenaturais não são necessários, porque a completa aniquilação do sofrimento não pode ser efetuada por meio de conhecimentos ou poderes supranormais. A ignorância ou conhecimento errado é a causa raiz das aflições e pode ser destruída, apenas, pela iluminação discriminativa. Então citta deixa de funcionar e as misérias desaparecem de uma vez por todas. Essa é a mais alta realização espiritual."]. (S.H.A.).
(Aqui termina o capítulo sobre Poderes Super normais sendo a terceira parte dos comentários de Vyasa conhecido como Sāṃkhyapravacanasūtra sobre a filosofia do Yoga de Patañjali.)
Fontes / Links
Yoga Sutras - SanskritDocuments
Yoga Sutras of Patañjali - Wikipedia
Yoga Philosophy of Patañjali - Swami Hariharananda Aranya
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