11/09/2020

Mandukya Upanishad - Capítulo 3


गौडपादियकारिकायामद्वैताख्यं तृतीयं प्रकरणम् ॥ ३॥
gauḍapādiyakārikāyāmadvaitākhyaṃ tṛtīyaṃ prakaraṇam ॥ 3॥

Capítulo III - Advaita Prakarana - A Não-Dualidade

1- उपासानाश्रितो धर्मो जाते ब्रह्मणि वर्तते । प्रागुत्पत्तेरजं सर्वं तेनासौ कृपणः स्मृतः ॥ १॥
upāsānāśrito dharmo jāte brahmaṇi vartate । prāgutpatterajaṃ sarvaṃ tenāsau kṛpaṇaḥ smṛtaḥ ॥ 1॥
धर्मः [dharmaḥ] o jīva* उपासना-आश्रितः [upāsanā-āśritaḥ] que se entrega à devoção (upāsanā)* जाते ब्रह्मणि-वर्तते [jāte brahmaṇi-vartate] pensa se relacionar ao Brahman que supõe tê-lo criado* / तेन [tena] logo* असौ [asau] ele é* स्मृतः [smṛtaḥ] considerado* कृपणः [kṛpaṇaḥ] de intelecto limitado* प्राक् [prāk] porque pensa que antes* उत्पत्तेः [utpatteḥ] da criação* सर्वम् [sarvam] tudo* अजम् [ajam] era da natureza do não nascido* 
1- O Jīva que se entrega à devoção (upāsanā) pensa se relacionar ao Brahman que supõe tê-lo criado. Ele é considerado de intelecto estreito porque pensa que antes da criação tudo era da natureza do não nascido.
2- अतो वक्ष्याम्यकार्पण्यमजाति समतां गतम् । यथा न जायते किञ्चिज्जायमानं समन्ततः ॥ २॥
ato vakṣyāmyakārpaṇyamajāti samatāṃ gatam । yathā na jāyate kiñcijjāyamānaṃ samantataḥ ॥ 2॥
अतः [ataḥ] portanto* वक्ष्यामि [vakṣyāmi] agora descreverei* अकार्पण्यम् [akārpaṇyam] aquela realidade (brahman) que é livre de limitações* अजाति [ajāti] não nascida* समताम् गतम् [samatām gatam] e que é sempre a mesma* यथा-न-जायते-किञ्चित् [yathā-na-jāyate-kiñcit] e da qual nada nasce* जायमानम् [jāyamānam] embora pareça manifestar-se* समन्ततः [samantataḥ] em formas infinitas*
2- Portanto, agora descreverei aquela realidade (Brahman) que é livre de limitações, não nascida e que é sempre a mesma; e da qual nada nasce, embora pareça manifestar-se em formas infinitas.
3- आत्मा ह्याकाशवज्जीवैर्घटाकाशैरिवोदितः । घटादिवच्च सङ्घातैर्जातावेतन्निदर्शनम् ॥ ३॥
ātmā hyākāśavajjīvairghaṭākāśairivoditaḥ । ghaṭādivacca saṅghātairjātāvetannidarśanam ॥ 3॥
आत्मा [ātmā] o ātman* जीवैः [jīvaiḥ] manifesta-se na forma de jīva (self individual)* इव [iva] assim como* आकाशवत् [ākāśavat] o espaco (ākāśa)* घट-आकाशैः [ghaṭa-ākāśaiḥ] existe na forma de espaço (ākāśa) confinado num jarro* उदितः [uditaḥ] diz-se (da mesma forma)* घट-आदि-वत् [ghaṭa-ādi-vat] como o espaço da panela (é Ākāśa confinado)* हि [hi] também* संघातैः [saṃghātaiḥ] se diz que as formas grosseiras (os corpos)* जातौ [jātau] são criadas (a partir do ātman)* च [ca] e* एतत्-निदर्शनम् [etat-nidarśanam] essa é a ilustração (da manifestação de Brahman)* 
3- O Ātman manifesta-se na forma de Jīva(s) (Self individual), assim como o Ākāśa existe na forma de espaço confinado num jarro. Como o espaço da panela é o Ākāśa confinado, também se diz que os corpos são criados a partir do Ātman. Essa é a ilustração da manifestação de Brahman.
4- घटादिषु प्रलीनेषु घटाकाशादयो यथा । आकाशे सम्प्रलीयन्ते तद्वज्जीवा इहाऽऽत्मनि ॥ ४॥
ghaṭādiṣu pralīneṣu ghaṭākāśādayo yathā । ākāśe sampralīyante tadvajjīvā ihā''tmani ॥ 4॥
यथा [yathā] assim como* घट-आदिषु [ghaṭa-ādiṣu] quando os potes são, etc* प्रलीनेषु [pralīneṣu] são quebrados* घट-आकाश-आदयः [ghaṭa-ākāśa-ādayaḥ] o espaço encerrado no pote* संप्रलीयन्ते [saṃpralīyante] funde-se* आकाशे [ākāśe] no ākāśa* तद्वत् [tadvat] da mesma forma* जीवाः [jīvāḥ] o(s) jīva(s)* इह-आत्मनि [iha-ātmani] (funde(m)-se) agora no ātman)*
4- Quando os potes são quebrados, o espaço encerrado no pote, funde-se no Ākāśa, da mesma forma o(s) Jīva(s) funde(m)-se no Ātman.
5- यथैकस्मिन्घटाकाशे रजोधूमादिभिर्युते । न सर्वे सम्प्रयुज्यन्ते तद्वज्जीवाः सुखादिभिः ॥ ५॥
yathaikasminghaṭākāśe rajodhūmādibhiryute । na sarve samprayujyante tadvajjīvāḥ sukhādibhiḥ ॥ 5॥
यथा [yathā] assim como* एकस्मिन्-घट-आकाशे [ekasmin-ghaṭa-ākāśe] (ao contaminar) o espaço de uma panela* रजः-धूम-आदिभिः [rajaḥ-dhūma-ādibhiḥ] com fumaça ou sujeira, etc* युते-सर्वे-न संप्रयुज्यन्ते [yute-sarve-na saṃprayujyante] não contaminamos todas as outras panelas* तद्-वत् [tad-vat] assim também* सुख-आदिभिः [sukha-ādibhiḥ] a felicidade e a tristeza (de um jīva)* जीवाः [jīvāḥ] (não afeta a felicidade e a tristeza dos outros) jīvas* 
5- Assim como ao contaminar o espaço de uma panela com fumaça ou sujeira, não contaminamos as outras panelas, assim também a felicidade e a tristeza de um Jīva não afeta a felicidade e a tristeza dos outros Jīvas.
6- रूपकार्यसमाख्याश्च भिद्यन्ते तत्र तत्र वै । आकाशस्य न भेदोऽस्ति तद्वज्जीवेषु निर्णयः ॥ ६॥
rūpakāryasamākhyāśca bhidyante tatra tatra vai । ākāśasya na bhedo'sti tadvajjīveṣu nirṇayaḥ ॥ 6॥
रूप [rūpa] (embora) a forma* कार्य [kārya] a função* च [ca] e* समाख्याः [samākhyāḥ] o nome* भिद्यन्ते [bhidyante] sejam diferentes* तत्र तत्र वै [tatra tatra vai] aqui e alí* न भेदः-अस्ति [na bhedaḥ-asti] isso não implica nenhuma diferença* आकाशस्य [ākāśasya] no ākāśa (que é o mesmo em qualquer lugar)* तद्वत् [tadvat] do mesmo modo (equivalente)* निर्णयः [nirṇayaḥ] é a conclusão* जीवेषु [jīveṣu] em relação aos jīvas* 
6- Embora a forma, a função e o nome sejam diferentes aqui e ali, isso não implica nenhuma diferença no Ākāśa. A conclusão em relação aos Jīva(s) é equivalente.
7- नाऽऽकाशस्य घटाकाशो विकारावयवौ यथा । नैवाऽऽत्मनः सदा जीवो विकारावयवौ तथा ॥ ७॥
nā''kāśasya ghaṭākāśo vikārāvayavau yathā । naivā''tmanaḥ sadā jīvo vikārāvayavau tathā ॥ 7॥
एव [eva] como* घट-आकाशः [ghaṭa-ākāśaḥ] o espaço dentro de uma jarra* न [na] não* विकारःअवयवः [vikāraḥ avayavaḥ] é uma transformação ou uma parte* आकाशस्य [ākāśasya] do ākāśa (espaço infinito)* तथा [tathā] do mesmo modo* जीवः [jīvaḥ] o jīva* न-सदा-विकार-अवयवौ [na sadā-vikāra-avayavau] não é uma transformação ou uma parte* आत्मनः [ātmanaḥ] do ātman* 
7- Como o espaço dentro de uma jarra não é uma transformação nem uma parte do ākāśa, do mesmo modo o Jīva não é uma transformação nem uma parte do Ātman.
8- यथा भवति बालानां गगनं मलिनं मलैः । तथा भवत्यबुद्धानामात्माऽपि मलिनो मलैः ॥ ८॥
yathā bhavati bālānāṃ gaganaṃ malinaṃ malaiḥ । tathā bhavatyabuddhānāmātmā'pi malino malaiḥ ॥ 8॥
यथा [yathā] como* गगनम् [gaganam] o firmamento (céu)* बालानाम् [bālānām] para as crianças ingênuas* भवति [bhavati] parece estar* मलिनम् [malinam] sujo (núvens, etc)* मलैः [malaiḥ] por impurezas* तथा [tathā] da mesma forma* अबुद्धानाम् [abuddhānām] para os ignorantes* आत्मा-अपि [ātmā-api] o ātman também* भवति [bhavati] fica* मलिनः [malinaḥ] contaminado* मलैः [malaiḥ] por impurezas*
8- Como o céu, para as crianças ingênuas, parece estar sujo por impurezas, da mesma forma, para os ignorantes, o Ātman fica contaminado por impurezas.
9- मरणे सम्भवे चैव गत्यागमनयोरपि । स्थितौ सर्वशरीरेषु आकाशेनाविलक्षणः ॥ ९॥
maraṇe sambhave caiva gatyāgamanayorapi । sthitau sarvaśarīreṣu ākāśenāvilakṣaṇaḥ ॥ 9॥
मरणे [maraṇe] (o ātman) em relação à morte* संभवे [saṃbhave] e ao nascimento* च एव [and also] e também* गति-आगमनयोः [gati-āgamanayoḥ ] partida e chegada (à transmigração)* अपि स्थितौ [api sthitau] e à existência* सर्व शरीरेषु [sarva śarīreṣu] em todos os corpos* अविलक्षणः [avilakṣaṇaḥ] não é diferente* आकाशेन [ākāśena] do espaço da panela (ākāśa)* 
9- O Ātman, em relação à morte e ao nascimento, à transmigração, e à existência em todos os corpos, não é diferente do Ākāśa.
10-संघाताः स्वप्नवत्सर्वे आत्ममायाविसर्जिताः । आधिक्ये सर्वसाम्ये वा नोपपत्तिर्हि विद्यते ॥ १०॥
saṃghātāḥ svapnavatsarve ātmamāyāvisarjitāḥ । ādhikye sarvasāmye vā nopapattirhi vidyate ॥ 10॥
सर्वे [sarve] todos* संघाताः [saṃghātāḥ] os agregados (como o corpo)* विसर्जिताः [visarjitāḥ] são criados* स्वप्नवत् [svapnavat] como sonho* आत्म-माया [ātma-māyā] pela māyā do ātman* / न हि [na hi] certamente não* विद्यते [vidyate] há* उपपत्तिः [upapattiḥ] argumento (que prove sua realidade)* आधिक्ये [ādhikye] (sejam eles) superiores* वा सर्व-साम्ये [vā sarva-sāmye] ou equivalentes*
10- Todos os agregados (como o corpo) são criados, como sonho, pela Māyā do Ātman. Não há argumento, seja ele superior ou equivalente, que prove sua realidade.
1- रसादयो हि ये कोशा व्याख्यातास्तैत्तिरीयके । तेषामात्मा परो जीवः खं यथा सम्प्रकाशितः ॥ ११॥
rasādayo hi ye kośā vyākhyātāstaittirīyake । teṣāmātmā paro jīvaḥ khaṃ yathā samprakāśitaḥ ॥ 11॥
जीवः [jīvaḥ] o jīva* परः [paraḥ] (que é idêntico) ao supremo (brahman)* आत्मा [ātmā] é o ātmā (self ou alma)* रसादयः-ये हि कोशाः [rasādayaḥ-ye hi kośāḥ] com (cinco) kośas (invólucros, como o físico, o mental, etc.)* व्याख्याताः [vyākhyātāḥ] que foram descritos* तैत्तिरीयके [taittirīyake] na taittirīya (upaniṣad)* / तेषाम् [teṣām] o jīva* यथा खम् [yathā kham] que é como o ākāśa* संप्रकाशितः [saṃprakāśitaḥ] já foi explicado (na analogia do espaço)*
11- O Jīva que é idêntico ao Supremo Brahman, é o Ātman (Self ou Alma) com cinco invólucros que foram descritos no Taittirīya Upaniṣad. O Jīva que é como o Ākāśa, já foi explicado.
12- द्वयोर्द्वयोर्मधुज्ञाने परं ब्रह्म प्रकाशितम् । पृथिव्यामुदरे चैव यथाऽऽकाशः प्रकाशितः ॥ १२॥
dvayordvayormadhujñāne paraṃ brahma prakāśitam । pṛthivyāmudare caiva yathā''kāśaḥ prakāśitaḥ ॥ 12॥
प्रकाशितः [prakāśitaḥ] a descrição* द्वयोःद्वयोः [dvayoḥdvayoḥ] por pares* आकाशः [ākāśaḥ] como a do ākāśa* प्रकाशितम् [prakāśitam] que está* पृथिव्याम् [pṛthivyām] na terra* च एव उदरे [ca eva udare] e no estômago* परम् ब्रह्म [param brahma] (se aplica também) ao brahman supremo* यथा-मधु-ज्ञाने [yathā-madhu-jñāne] descrito no madhu brāhmaṇa (da bṛhadāraṇyaka upaniṣad) como estando tanto na região corpórea (adhyātma) quanto na superfísica (adhidaiva)* 
12- A descrição por pares, como a do Ākāśa, que está na terra e no estômago, se aplica também ao Brahman Supremo descrito no Madhu Brāhmaṇa (da Bṛhadāraṇyaka Upaniṣad), como estando tanto na região corpórea (Adhyātma) quanto na super-física (Adhidaiva).
13- जीवात्मनोरनन्यत्वमभेदेन प्रशस्यते । नानात्वं निन्द्यते यच्च तदेवं हि समञ्जसम् ॥ १३॥
jīvātmanorananyatvamabhedena praśasyate । nānātvaṃ nindyate yacca tadevaṃ hi samañjasam ॥ 13॥
अनन्यत्वम् [ananyatvam] como a identidade* जीव-आत्मनोः [jīva ātmanor] do jīva e do ātman* अभेदेन [abhedena] por sua não dualidade* प्रशस्यते [praśasyate] é elogiada* च [ca] e* यत् [yat] desde que* नानात्वं [nānātvaṃ] a multiplicidade* निन्द्यते [nindyate] é condenada (nas escrituras)* हि [hi] de fato* तदेवं [tadevaṃ] somente* समञ्जसम् [samañjasam] (a não dualidade) é correta*
13- Como a identidade do Jīva e do Ātman, por sua não dualidade, é elogiada e desde que a multiplicidade é condenada, somente a não dualidade é correta.
14- जीवात्मनोः पृथक्त्वं यत्प्रागुत्पत्तेः प्रकीर्तितम् । भविष्यद्वृत्त्या गौणं तन्मुख्यत्वं हि न युज्यते ॥ १४॥
jīvātmanoḥ pṛthaktvaṃ yatprāgutpatteḥ prakīrtitam । bhaviṣyadvṛttyā gauṇaṃ tanmukhyatvaṃ hi na yujyate ॥ 14॥
पृथक्त्वम् [pṛthaktvam] a separação* जीव-आत्मनोः [jīva-ātmanoḥ] de jīva e ātman* यत् [yat] que* प्रकीर्तितम् [prakīrtitam] que foi declarada* प्राक्-उत्पत्तेः [prāk-utpatteḥ] na porção ritual dos Vedas que trata da criação do universo é apenas figurativa* भविष्यद् [bhaviṣyad] porque ela descreve apenas o que está por vir* / तत् [tat] essa (declaração)* गौणम् [gauṇam] está em sentido secundário* हि [hi] pois* न [na] não* युज्यते [yujyate] é adequada*वृत्त्या [vṛttyā] em seu sentido* मुख्यत्वम् [mukhyatvam] principal* 
14- A separação ente Jīva e Ātman que foi declarada na porção ritual dos Vedas que trata da origem do universo é apenas figurativa, porque ela descreve apenas o que está por vir. Essa declaração está em sentido secundário, pois não é adequada em seu sentido principal.
15- मृल्लोहविस्फुलिङ्गाद्यै सृष्टिर्या चोदिताऽन्यथा । उपायः सोऽवताराय नास्ति भेदः कथञ्चन ॥ १५॥
mṛllohavisphuliṅgādyai sṛṣṭiryā coditā'nyathā । upāyaḥ so'vatārāya nāsti bhedaḥ kathañcana ॥ 15॥
या सृष्टिः [yā sṛṣṭiḥ] a criação* च उदिता [ca uditā] que é apresentada por meio de exemplos* मृत् [mṛt] como terra* लोह [loha] metal* विस्फुलिङ्ग-आद्यैः [visphuliṅga-ādyaiḥ] faíscas, etc.* अन्यथा [anyathā] é apenas* उपायः [upāyaḥ] um meio* अवताराय [avatārāya] para revelar* सः [saḥ] essa (a ideia de identidade)* अस्ति न भेदः-कथञ्चन [asti na bhedaḥ-kathañcana] mas a multiplicidade não existe de forma alguma*
15- A criação que é apresentada por meio de exemplos como terra, metal, faíscas, etc., é apenas um meio para revelar a ideia de identidade. Mas a multiplicidade não existe de forma alguma.
16- आश्रमास्त्रिविधा हीनमध्यमोत्कृष्टदृष्टयः । उपासनोपदिष्टेयं तदर्थमनुकम्पया ॥ १६॥
āśramāstrividhā hīnamadhyamotkṛṣṭadṛṣṭayaḥ । upāsanopadiṣṭeyaṃ tadarthamanukampayā ॥ 16॥
आश्रमाः [āśramāḥ] os ascetas* त्रि-विधाः [tri-vidhāḥ] são de três tipos* हीन [hīna] o inferior* मध्यम् [madhyam] o médio* उत्कृष्ट [utkṛṣṭa] e o superior* दृष्टयः [dṛṣṭayaḥ] (correspondentes aos três níveis) de compreensão* / उपदिष्टा [upadiṣṭā] ensina-se* इयम् [iyam] essa* उपासना [upāsanā] disciplina* अनुकम्पया [anukampayā] por compaixão* तद्-अर्थम् [tad-artham] para o benefício daqueles (que ainda não são iluminados)* 
16- Existem três tipos de ascetas, o inferior, o médio e o superior, correspondentes aos três níveis de compreensão. Ensina-se essa disciplina, por compaixão, para o benefício daqueles que ainda não são iluminados.
17- स्वसिद्धान्तव्यवस्थासु द्वैतिनो निश्चिता दृढम् । परस्परं विरुध्यन्ते तैरयं न विरुध्यते ॥ १७॥
svasiddhāntavyavasthāsu dvaitino niścitā dṛḍham । parasparaṃ virudhyante tairayaṃ na virudhyate ॥ 17॥
द्वैतिनः [dvaitinaḥ] os dualistas* निश्चिताः दृढम् [niścitāḥ dṛḍham] se apegam fortemente* स्व-सिद्धान्त-व्यवस्थासु [sva-siddhānta-vyavasthāsu] às concepções que chegaram por suas próprias investigações* परस्परम्-विरुध्यन्ते-तैः [parasparam-virudhyante-taiḥ] e entram em conflito* / अयम् न विरुध्यते [ayam na virudhyate] (enquanto os não-dualistas ou advaitins) não entram em conflito* 
17- Os Dualistas se apegam fortemente às concepções que chegaram por suas próprias investigações e entram em conflito; enquanto os Não-dualistas (Advaitins) não se contradizem.
18- अद्वैतं परमार्थो हि द्वैतं तद्भेद उच्यते । तेषामुभयथा द्वैतं तेनायं न विरुध्यते ॥ १८॥
advaitaṃ paramārtho hi dvaitaṃ tadbheda ucyate । teṣāmubhayathā dvaitaṃ tenāyaṃ na virudhyate ॥ 18॥
अद्वैतम् [advaitam] a não-dualidade* हि [ hi] é de fato* परमार्थः [paramārthaḥ] a realidade última* द्वैतम् [dvaitam] a dualidade* तद्-भेदः [tad-bhedaḥ] é seu efeito* / तेषाम् [teṣām] os dualistas* उच्यते [ucyate] consideram* द्वैतम् [dvaitam] a dualidade* उभयथा [ubhayathā] em ambos casos (tanto no real quanto no irreal)* / तेन [tena] portanto* अयम् [ayam] esse (o não-dualismo)* न विरुद्ध्यते [na viruddhyate] não entra em conflito (com a posição dualista)*
18- A não-dualidade é de fato a realidade última; a dualidade é seu efeito. Os dualistas consideram a dualidade tanto no real quanto no irreal. Portanto, o não-dualismo não entra em conflito com a posição dualista.
19- मायया भिद्यते ह्येतन्नान्यथाऽजं कथञ्चन । तत्त्वतो भिद्यमाने हि मर्त्यताममृतं व्रजेत् ॥ १९॥
māyayā bhidyate hyetannānyathā'jaṃ kathañcana । tattvato bhidyamāne hi martyatāmamṛtaṃ vrajet ॥ 19॥
एतत् [etat] esse (brahman imutável, não dual)* अजम् [ajam] e não nascido* भिद्यते [bhidyate] parece sofrer modificações* हि [hi] apenas* मायया [māyayā] (por causa de) māyā (ilusão)* न-अन्यथा कथञ्चन [na-anyathā kathañcana] e não de outra forma* / हि [hi] pois* भिद्यमाने [bhidyamāne] se essa mudança* तत्त्वतः [tattvataḥ] fosse real* अमृतम् [amṛtam]] o imortal (brahman)* व्रजेत् [vrajetl se tornaria* मर्त्यताम् [martyatām] mortal* 
19- Este Brahman imutável, não dual e não nascido, parece sofrer modificações apenas por causa de Māyā (ilusão) e não de outra forma. Pois, se essa mudança fosse real, o Brahman imortal se tornaria mortal.
20- अजातस्यैव भावस्य जातिमिच्छन्ति वादिनः । अजातो ह्यमृतो भावो मर्त्यतां कथमेष्यति ॥ २०॥
ajātasyaiva bhāvasya jātimicchanti vādinaḥ । ajāto hyamṛto bhāvo martyatāṃ kathameṣyati ॥ 20॥
वादिनः [vādinaḥ] os questionadores (os dualistas)* इच्छन्ति [icchanti] afirmam* अजातस्य [ajātasya] que o não nascido (imutável ātman)* एव [eva] também* भावस्य-जातिम् [bhāvasya-jātim] é afetado pelo nascimento (pela mudança)* / कथम् [katham] como pode* भावः [bhāvaḥ] uma entidade* अजातःअमृतः [ajātaḥ amṛtaḥ] que é imutável e imortal* हि [hi] de fato* एष्यति [eṣyati] tornar-se* मर्त्यताम् [martyatām] mortal?* 
20- Os Dualistas afirmam que o não nascido e imutável Ᾱtman é afetado pela mudança. Como pode uma entidade que é imutável e imortal tornar-se mortal?
21/22- न भवत्यमृतं मर्त्यं न मर्त्यममृतं तथा । प्रकृतेरन्यथाभावो न कथञ्चिद्भविष्यति ॥ २१॥
स्वभावेनामृतो यस्य भावो गच्छति मर्त्यताम् । कृतकेनामृतस्तस्य कथं स्थास्यति निश्चलः ॥ २२॥
na bhavatyamṛtaṃ martyaṃ na martyamamṛtaṃ tathā । prakṛteranyathābhāvo na kathañcidbhaviṣyati ॥ 21॥
svabhāvenāmṛto yasya bhāvo gacchati martyatām । kṛtakenāmṛtastasya kathaṃ sthāsyati niścalaḥ ॥ 22॥
अमृतम् [amṛtam] o imortal* न भवति [na bhavati] não pode se tornar* मर्त्यम् [martyam] mortal* मर्त्यम् न [martyam na] nem o mortal pode se tornar* अमृतम् [amṛtam] imortal* / तथा [tathā] pois* न [na] não é possível* कथञ्चित् [kathañcit] que de alguma forma* अन्यथा-भावः-भविष्यति [anyathā-bhāvaḥ-bhaviṣyati] ocorra uma mudança * प्रकृतेः [prakṛteḥ] em sua natureza* ... कथम् [katham] como pode* यस्य [yasya] aquele que* स्व-भावेन-अमृतः [sva-bhāvena-amṛtaḥ] (acredita) que a entidade imortal essencial* गच्छति मर्त्यताम् [gacchati martyatām] se torna mortal* भावः कृतकेन [bhāvaḥ kṛtakena] sustentar que após uma modificação* अमृतः [amṛtaḥ] o imortal* स्थास्यति [sthāsyati] retém* तस्य [tasya] sua* निश्चलः [niścalaḥ] própria natureza essencial de imutabilidade?* 
21/22- O imortal não pode se tornar mortal, nem o mortal pode se tornar imortal. Pois, não é possível que, de alguma forma, ocorra uma mudança em sua natureza. ... Como pode aquele que acredita que a entidade imortal essencial se torna mortal, sustentar que o imortal após uma modificação retém sua própria natureza essencial de imutabilidade?
23- भूततोऽभूततो वाऽपि सृज्यमाने समा श्रुतिः । निश्चितं युक्तियुक्तं च यत्तद्भवति नेतरत् ॥ २३॥
bhūtato'bhūtato vā'pi sṛjyamāne samā śrutiḥ । niścitaṃ yuktiyuktaṃ ca yattadbhavati netarat ॥ 23॥
भूततः सृज्यमाने [bhūtataḥ sṛjyamāne] (ambas as visões de que) a criação é real* वा [vā] ou* अभूततः [abhūtataḥ] irreal* श्रुतिः समा [śrutiḥ samā] foram mencionadas na śruti* / यत्-तत् [yat-tat] aquilo que (é apoiado pela śruti)* च [ca] e* अपि [api] também* युक्ति-युक्तम्-निश्चितम् [yukti-yuktam-niścitam] comprovado pela razão* भवति [bhavati] é a verdade* न-इतरत् [na-itarat] não o contrário*
23- Ambas as visões de que a criação é real ou irreal foram mencionadas na śruti. Aquilo que é apoiado pela śruti e comprovado pela razão é a Verdade, não o contrário.
24- नेह नानेति चाऽऽम्नायादिन्द्रो मायाभिरित्यपि । अजायमानो बहुधा मायया जायते तु सः ॥ २४॥
neha nāneti cā''mnāyādindro māyābhirityapi । ajāyamāno bahudhā māyayā jāyate tu saḥ ॥ 24॥
आम्नायात् [āmnāyāt] (por meio de passagens) da śruti como* न-इह नाना-इति [na-iha nānā-iti] não há multiplicidade (no ātman)* च [ca] e* मायाभिः [māyābhiḥ] (Indra) por meio de māyā* इति [iti] (sabemos que) isto (o ātman)* अपि [api] embora* अजायमानः [ajāyamānaḥ] jamais nascido* बहुधा-जायते [bahudhā-jāyate] parece ter se tornado muitos* तु [tu] apenas* मायया [māyayā] através de māyā* 
24- Por meio de passagens da śruti como ‘não há multiplicidade no Ᾱtman’, ‘Indra por meio de māyā’ etc., sabemos que o Ᾱtman, embora jamais nascido, parece realmente ter se tornado muitos através de māyā.
25- सम्भूतेरपवादाच्च सम्भवः प्रतिषिध्यते । को न्वेनं जनयेदिति कारणं प्रतिषिध्यते ॥ २५॥
sambhūterapavādācca sambhavaḥ pratiṣidhyate । ko nvenaṃ janayediti kāraṇaṃ pratiṣidhyate ॥ 25॥
च [ca] e (novamente)* अपवादात् [apavādāt] pela negação* सम्भूतेः [sambhūteḥ] de sambhūti (hiraṇyagarbha - o criador)* सम्भवः [sambhavaḥ] a criação* प्रतिषिध्यते [pratiṣidhyate] é refutada* / कारणम् [kāraṇam] a causalidade (em relação ao ātman)* प्रतिषिध्यते [pratiṣidhyate] é negada* एनम् [enam] isso (por uma afirmação como)* कः नु इति [kaḥ nu iti] quem então (poderá fazer)* जनयेत् [janayet] ele nascer?* 
25- Novamente, pela negação de Sambhūti (criador) a c riação é refutada. A causalidade (em relação ao Ātman) é negada por uma afirmação como, "quem fará ele nascer?"
26- स एष नेति नेतीति व्याख्यातं निह्नुते यतः । सर्वमग्राह्यभावेन हेतुनाऽजं प्रकाशते ॥ २६॥
sa eṣa neti netīti vyākhyātaṃ nihnute yataḥ । sarvamagrāhyabhāvena hetunā'jaṃ prakāśate ॥ 26॥
हेतुना [hetunā] por conta da* अग्राह्य-भावेन [agrāhya-bhāvena] incompreensibilidade do ātman* निह्नुते [nihnute] (a śruti) nega* इति-सः एषः नेति नेति [iti-saḥ eṣaḥ neti neti] então (em passagens como) a expressão ‘neti neti’ ('não isto, não aquilo')* सर्वम्-व्याख्यातम् [sarvam-vyākhyātam] todas (as ideas dualísticas) que foram descritas (como os meios para a obtenção do ātman)* यतः [yataḥ] portanto* प्रकाशते [prakāśate] (apenas) existe* अजम् [ajam] o jamais nascido ātman (e não qualquer dualidade)* 
26- Por conta da incompreensibilidade do Ᾱtman, a Śruti nega em passagens como, 'não isto, não aquilo' - todas as ideas dualísticas que foram descritas como os meios para a obtenção do Ᾱtman. Portanto, apenas existe o jamais nascido Ᾱtman, e não qualquer dualidade.
27- सतो हि मायया जन्म युज्यते न तु तत्त्वतः । तत्त्वतो जायते यस्य जातं तस्य हि जायते ॥ २७॥
sato hi māyayā janma yujyate na tu tattvataḥ । tattvato jāyate yasya jātaṃ tasya hi jāyate ॥ 27॥
सतः [sataḥ] aquilo que é sempre existente* जन्म युज्यते [janma yujyate] (parece) passar ao nascimento* हि मायया [hi māyayā] por meio da māyā (ilusão)* तु [tu] e* न तत्त्वतः [na tattvataḥ] não do ponto de vista da realidade* / यस्य [yasya] aquele (que pensa)* तस्य [tasya] que essa* जायते [jāyate] passagem para o nascimento* तत्त्वतः [tattvataḥ] é real* जातम् [jātam] (afirma) que o que nasce* हि जायते [hi jāyate] nasce de novo (e assim por diante, sem fim)*
27- Aquilo que é sempre existente parece passar ao nascimento por meio da ilusão (Māyā) e não do ponto de vista da Realidade. Aquele que pensa que essa passagem para o nascimento é real afirma que o que nasce, nasce de novo (e assim por diante, sem fim).
28- असतो मायया जन्म तत्त्वतो नैव युज्यते । वन्ध्यापुत्रो न तत्त्वेन मायया वाऽपि जायते ॥ २८॥
asato māyayā janma tattvato naiva yujyate । vandhyāputro na tattvena māyayā vā'pi jāyate ॥ 28॥
असतः [asataḥ] o irreal (inexistente)* न-एव युज्यते [na-eva yujyate] não pode* जन्म [janma] nascer* तत्त्वतः [tattvataḥ] realmente* मायया [māyayā] ou através de māyā (por ilusão)* / वन्ध्या-पुत्रः [vandhyā-putraḥ] como o filho de uma mulher estéril* न [na] não* जायते [jāyate] nasce* तत्त्वेन [tattvena] na realidade* वा-अपि [vā-api] e também (nem)* मायया [māyayā] na ilusão* 
28- O irreal não pode nascer realmente ou através de Māyā (por ilusão). Como o filho de uma mulher estéril não nasce nem na realidade nem na ilusão.
29- यथा स्वप्ने द्वयाभासं स्पन्दते मायया मनः । तथा जाग्रद्द्वयाभासं स्पन्दते मायया मनः ॥ २९॥
yathā svapne dvayābhāsaṃ spandate māyayā manaḥ । tathā jāgraddvayābhāsaṃ spandate māyayā manaḥ ॥ 29॥
यथा [yathā] como* स्वप्ने [svapne] no sonho* मनः [manaḥ] a mente (age)* मायया [māyayā] por meio de māyā* स्पन्दते [spandate] revelando* द्वय-आभासम् [dvaya-ābhāsam] a aparência da dualidade* तथा [tathā] também* जाग्रत् [jāgrat] no estado de vigília* मनः [manaḥ] a mente atua* मायया [māyayā] por meio de māyā* स्पन्दते [spandate] refletindo* द्वय-आभासम् [dvaya-ābhāsam] a aparência da dualidade* 
29- Como no sonho a mente age por meio de Māyā revelando a aparência da dualidade, também no estado de vigília a mente atua, por meio de Māyā, refletindo a aparência da dualidade.
30- अद्वयं च द्वयाभासं मनः स्वप्ने न संशयः । अद्वयं च द्वयाभासं तथा जाग्रन्न संशयः ॥ ३०॥
advayaṃ ca dvayābhāsaṃ manaḥ svapne na saṃśayaḥ । advayaṃ ca dvayābhāsaṃ tathā jāgranna saṃśayaḥ ॥ 30 ॥
मनः [manaḥ] a mente* अद्वयम् [advayam] que é não dual* द्वय-आभासम् [dvaya-ābhāsam] aparece como dual* न संशयः [na saṃśayaḥ] sem dúvida* स्वप्ने [svapne] no sonho* च [ca] e* तथा [tathā] da mesma maneira* अद्वयम् च [advayam ca] o que é não dual (a realidade)* द्वय-आभासम् [dvaya-ābhāsam] aparece como dual* न संशयः [na saṃśayaḥ] sem dúvida* जाग्रत् [jāgrat] no estado de vigília* 
30- A mente que é não dual aparece, sem dúvida, como dual no sonho; e da mesma maneira, o que é não dual (real) aparece, sem dúvida, como dual no estado de vigília.
31- मनोदृश्यमिदं द्वैतं यत्किञ्चित्सचराचरम् । मनसो ह्यमनीभावे द्वैतं नैवोपलभ्यते ॥ ३१॥
manodṛśyamidaṃ dvaitaṃ yatkiñcitsacarācaram । manaso hyamanībhāve dvaitaṃ naivopalabhyate ॥ 31॥
किञ्चित्-इदम्-द्वैतम्-यत् [kiñcit-idam-dvaitam-yat] tudo o que é percebido nesse mundo da dualidade* चर [cara] animado* अचरम् [acaram] ou inanimado* मनः-दृश्यम् [manaḥ-dṛśyam] nada mais é do que percepção da mente* / हि [hi] pois* स [sa] a* द्वैतम् [dvaitam] dualidade* न-एव [na-eva] não é* उपलभ्यते [upalabhyate] percebida* मनसः [manasaḥ] quando a mente* अमनी-भावे [amanī-bhāve] é transcendida* 
31- Tudo o que é percebido neste mundo da dualidade, animado ou inanimado, nada mais é do que percepção da mente. Pois, a dualidade não é percebida quando a mente é transcendida.
32- आत्मसत्यानुबोधेन न संकल्पयते यदा । अमनस्तां तदा याति ग्राह्याभावे तदग्रहम् ॥ ३२॥*
ātmasatyānubodhena na saṃkalpayate yadā । amanastāṃ tadā yāti grāhyābhāve tadagraham ॥ 32॥*
यदा [yadā] quando* तत् [tat] isso (a mente)* न संकल्पयते [na saṃkalpayate] cessa de imaginar* आत्म-सत्य-अनुबोधेन [ātma-satya-anubodhena] por causa do conhecimento da verdade que é o ātman* तदा [tadā] então* याति अमनस्ताम् [yāti amanastām] ela deixa de ser mente* अग्रहम् [agraham] e se torna livre de toda ideia de cognição* अभावे [abhāve] por falta* ग्राह्य [grāhya] de objetos de conhecimento* *
32- Quando a mente cessa de imaginar por causa do conhecimento da Verdade que é o Ātman, então ela deixa de ser mente e se torna livre de toda ideia de cognição, por falta de objetos conhecíveis.
33- अकल्पकमजं ज्ञानं ज्ञेयाभिन्नं प्रचक्षते । ब्रह्मज्ञेयमजं नित्यमजेनाजं विबुध्यते ॥ ३३॥
akalpakamajaṃ jñānaṃ jñeyābhinnaṃ pracakṣate । brahma jñeyamajaṃ nityamajenājaṃ vibudhyate ॥ 33॥
ज्ञानम् [jñānam] o conhecimento (jñānam)* अजम् [ajam] não nascido* अकल्पकम् [akalpakam] e livre da imaginação* अभिन्नम् [abhinnam] não é distinto* ज्ञेय [jñeya] do conhecível* / ब्रह्म [brahma] o brahman* नित्यम् [nityam] imutável* अजम् [ajam] e não nascido* ज्ञेयम् [jñeyam] é o único objeto de conhecimento* / प्रचक्षते [pracakṣate] diz-se que* अजम् [ajam] o não nascido* विबुध्यते [vibudhyate] é conhecido* अजेन [ajena] (apenas) pelo jamais nascido* 
33- O conhecimento (Jñānam) não nascido e livre da imaginação não é distinto do conhecível. O Brahman imutável e sem nascimento é o único objeto de conhecimento. Diz-se que o não nascido é conhecido, apenas, pelo jamais nascido.
34- निगृहीतस्य मनसो निर्विकल्पस्य धीमतः । प्रचारः स तु विज्ञेयः सुषुप्तेऽन्यो न तत्समः ॥ ३४॥
nigṛhītasya manaso nirvikalpasya dhīmataḥ । pracāraḥ sa tu vijñeyaḥ suṣupte'nyo na tatsamaḥ ॥ 34॥
विज्ञेयः [vijñeyaḥ] deve ser conhecido* मनसः [manasaḥ] (o comportamento) da mente* निगृहीतस्य [nigṛhītasya] que está sob controle* निर्विकल्पस्य [nirvikalpasya] que está livre de toda imaginação* तु [tu] e* धीमतः [dhīmataḥ] que é dotada de discriminação* / प्रचारः-सः [pracāraḥ-saḥ] a condição (da mente)* सुषुप्ते [suṣupte] em sono profundo* अन्यः [anyaḥ] é de outro tipo* न-तत्-समः [na-tat-samaḥ] não semelhante (a uma mente controlada)* 
34- Deve ser conhecido o comportamento da mente que está sob controle, livre de toda imaginação e que é dotada de discriminação. A condição da mente em sono profundo é de outro tipo, não semelhante (à controlada).
35- लीयते हि सुषुप्ते तन्निगृहीतं न लीयते । तदेव निर्भयं ब्रह्म ज्ञानालोकं समन्ततः ॥ ३५॥
līyate hi suṣupte tannigṛhītaṃ na līyate । tadeva nirbhayaṃ brahma jñānālokaṃ samantataḥ ॥ 35॥
तत् [tat] isso (a mente)* लीयते [līyate] é retirada (se dissolve)* सुषुप्ते [suṣupte] em sono profundo* हि [hi] mas* निगृहीतम् [nigṛhītam] quando sob restrição (controlada)* न लीयते [na līyate] não se dissolve* / तत् ब्रह्म एव [tat brahma eva] (então) essa mente se torna idêntica ao brahman* निर्भयम् [nirbhayam] o impassível* ज्ञान-आलोकम्-समन्ततः [jñāna-ālokam-samantataḥ] cuja onipresente luz é pura consciência*
35- A mente se dissolve em sono profundo, mas quando controlada, não se dissolve. Então, essa mente se torna idêntica ao Brahman, o impassível, cuja onipresente luz é pura consciência.
36- अजमनिद्रमस्वप्नमनामकमरूपकम् । सकृद्विभातं सर्वज्ञं नोपचारः कथञ्चन ॥ ३६॥
ajamanidramasvapnamanāmakamarūpakam । sakṛdvibhātaṃ sarvajñaṃ nopacāraḥ kathañcana ॥ 36॥
अजम् [ajam] (brahman) é não-nascido* अनिद्रम् [anidram] livre de sono* अस्वप्नम् [asvapnam] e sonho* अनामकम् [anāmakam] sem nome* अरूपकम् [arūpakam] e forma* सकृत्-विभातम् [sakṛt-vibhātam] sempre refulgente* सर्वज्ञम् [sarvajñam] e onisciente* न-उपचारः [na-upacāraḥ] nenhum cerimonial* कथञ्चन [kathañcana] de que forma seja (deve ser realizado ao brahman)*
36- Brahman é não-nascido, livre de sono e sonho, sem nome e forma, sempre refulgente e onisciente. Nenhum cerimonial, de que forma seja, deve ser realizado ao Brahman.
37- सर्वाभिलापविगतः सर्वचिन्तासमुत्थितः । सुप्रशान्तः सकृज्ज्योतिः समाधिरचलोऽभयः ॥ ३७॥
sarvābhilāpavigataḥ sarvacintāsamutthitaḥ । supraśāntaḥ sakṛjjyotiḥ samādhiracalo'bhayaḥ ॥ 37॥
विगतः [vigataḥ] (este ātman) está além de* सर्व-अभिलाप [sarva-abhilāpa] toda expressão verbal* सर्व-चिन्ता [sarva-cintā] e além de todos pensamentos* / सुप्रशान्तः [supraśāntaḥ] (está) totalmente em paz* सकृत्-ज्योतिः [sakṛt-jyotiḥ] sempre refulgente* अभयः [abhayaḥ] impassível* समुत्थितः [samutthitaḥ] livre de* अचलः [acalaḥ] atividade* / समाधिः [samādhiḥ] é alcançável por samādhi (intensa concentração mental)* 
37- Este Ātman está além de toda expressão verbal, além de todos pensamentos; Está totalmente em paz, sempre refulgente, impassível e livre de atividade. É alcançável através da intensa concentração mental do Samādhi.
38- ग्रहो न तत्र नोत्सर्ग्रश्चिन्ता यत्र न विद्यते । आत्मसंस्थं तदा ज्ञानमजाति समतां गतम् ॥ ३८॥
graho na tatra notsargraścintā yatra na vidyate । ātmasaṃsthaṃ tadā jñānamajāti samatāṃ gatam ॥ 38॥
तत्र [tatra] lá (nesse brahman que está livre das ações da da mente)* यत्र [yatra] onde* न चिन्ता विद्यते [na cintā vidyate] não há nenhuma ideia* न ग्रहः [na grahaḥ] de aceitação* न उत्सर्गः [na utsargaḥ] nem de rejeição* / संस्थम् [saṃstham] estabelecido* आत्म [ātma] no ātman* तदा [tadā] then* ज्ञानम् [jñānam] o jñāna (conhecimento)* गतम् [gatam] atinge* अजाति [ajāti] o estado de não nascimento (imutabilidade)* समताम् [samatām] e igualdade* 
38- Nesse Brahman que está livre das ações da mente, não há nenhuma ideia de aceitação nem de rejeição. Estabelecido no Ātman, o Jñāna (conhecimento) atinge o estado de não nascimento e igualdade.
39- अस्पर्शयोगो वै नाम दुर्दर्शः सर्वयोगिभिः । योगिनो बिभ्यति ह्यस्मादभये भयदर्शिनः ॥ ३९॥
asparśayogo vai nāma durdarśaḥ sarvayogibhiḥ । yogino bibhyati hyasmādabhaye bhayadarśinaḥ ॥ 39॥
अस्पर्श योगः वै नाम [asparśa yogaḥ vai nāma] o asparśa yoga (o yoga do não contato dos sentidos com seus objetos)* दुर्दर्शः [durdarśaḥ] é difícil de ser alcançado* सर्व-योगिभिः [sarva-yogibhiḥ] pelos yogins* / हि [hi] porque* योगिनः [yoginaḥ] os yogins* बिभ्यति-अस्मात् [bibhyati-asmāt] têm medo dele* भय-दर्शिनः [bhaya-darśinaḥ] veem medo*अभये [abhaye] onde realmente há destemor* 
39- O Asparśa Yoga (o yoga do não contato) é difícil de ser alcançado pelos Yogins. Porque os Yogins têm medo dele; veem medo onde realmente há destemor.
40- मनसो निग्रहायत्तमभयं सर्वयोगिनाम् । दुःखक्षयः प्रबोधश्चाप्यक्षया शान्तिरेव च ॥ ४०॥
manaso nigrahāyattamabhayaṃ sarvayoginām । duḥkhakṣayaḥ prabodhaścāpyakṣayā śāntireva ca ॥ 40 ॥
सर्व-योगिनाम् [sarva-yoginām] para todos os yogins* अभयम् [abhayam] o destemor* दुःख-क्षयः [duḥkha-kṣayaḥ] a cessação da miséria* च [ca] e* प्रबोधः [prabodhaḥ] o despertar da consciência (conhecimento do self)* च-अपि [ca-api] e também* अक्षया शान्तिः [akṣayā śāntiḥ] a paz eterna* एव [eva] de fato* निग्रहायत्तम् [nigrahāyattam] dependem do controle* मनसः [manasaḥ] de suas mentes* 
40- Para todos os Yogins, o destemor, a cessação da miséria, o despertar da consciência e a paz eterna dependem do controle de suas mentes.
41- उत्सेक उदधेर्यद्वत्कुशाग्रेणैकबिन्दुना । मनसो निग्रहस्तद्वद्भवेदपरिखेदतः ॥ ४१॥
utseka udadheryadvatkuśāgreṇaikabindunā । manaso nigrahastadvadbhavedaparikhedataḥ ॥ 41॥
मनसः [manasaḥ] a mente* भवेत् [bhavet] pode ser* निग्रहः [nigrahaḥ] (posta sob) controle* अपरिखेदतः [aparikhedataḥ] por um esforço incansável* तद्वत् [tadvat] como aquele* उत्सेकः [utsekaḥ] que é necessário para esvaziar* उदधेः [udadheḥ] um oceano* एक-बिन्दुना [eka-bindunā] gota a gota* यद्वत्-कुश-अग्रेण [yadvat-kuśa-agreṇa] com a ajuda de uma ponta como a (de uma folha) de grama* 
41- A mente pode ser posta sob controle por um esforço incansável como aquele que é necessário para esvaziar um oceano, gota a gota, com a ajuda de uma folha de grama.
42- उपायेन निगृह्णीयाद्विक्षिप्तं कामभोगयोः । सुप्रसन्नं लये चैव यथा कामो लयस्तथा ॥ ४२॥
upāyena nigṛhṇīyādvikṣiptaṃ kāmabhogayoḥ । suprasannaṃ laye caiva yathā kāmo layastathā ॥ 42॥
विक्षिप्तम् [vikṣiptam] a mente distraída* काम [kāma] por desejos* च-एव [ca-eva] e também* भोगयोः [bhogayoḥ] por prazeres* यथा [yathā] assim como* सुप्रसन्नम् [suprasannam] (a mente que) desfruta do prazer* लये [laye] no estado de laya (dissolução, condição semelhante ao transe)* निगृह्णीयात् [nigṛhṇīyāt] deve ser disciplinada* उपायेन [upāyena] pela aplicação dos meios adequados* / लयस्तथा [layastathā] pois o estado de laya (é tão prejudicial)* कामः [kāmaḥ] quanto os desejos* 
42- A mente distraída por desejos e prazeres, assim como a mente que desfruta do prazer no estado de laya (dissolução, condição semelhante ao transe), deve ser disciplinada pela aplicação dos meios adequados. Pois, o estado de laya é tão prejudicial quanto os desejos.
43- दुःखं सर्वमनुस्मृत्य कामभोगान्निवर्तयेत् । अजं सर्वमनुस्मृत्य जातं नैव तु पश्यति ॥ ४३॥
duḥkhaṃ sarvamanusmṛtya kāmabhogānnivartayet । ajaṃ sarvamanusmṛtya jātaṃ naiva tu paśyati ॥ 43॥
निवर्तयेत् [nivartayet] (a mente) deve ser afastada* काम-भोगात् [kāma-bhogāt] do desfrute dos prazeres* अनुस्मृत्य [anusmṛtya] relembrando* सर्वम् [sarvam] que tudo isso (prazer)* दुःखम् [duḥkham] é acompanhado de miséria* / अनुस्मृत्य [anusmṛtya] (da mesma forma) recordando* सर्वम्-अजम् [sarvam-ajam] que tudo é o não nascido (brahman)* जातम् [jātam] o nascido (a dualidade)* न-एव-तु [na-eva-tu] não será de fato* पश्यति [paśyati] visto* 
43- A mente deve ser afastada do desfrute dos prazeres, recordando que ele é acompanhado de miséria. Da mesma forma, relembrando que tudo é o não-nascido (Brahman), o nascido (dualidade) não será visto.
44- लये सम्बोधयेच्चित्तं विक्षिप्तं शमयेत्पुनः । सकषायं विजानीयात्समप्राप्तं न चालयेत् ॥ ४४॥
laye sambodhayeccittaṃ vikṣiptaṃ śamayetpunaḥ । sakaṣāyaṃ vijānīyātsamaprāptaṃ na cālayet ॥ 44॥
चित्तम् [cittam] a mente* लये [laye] (que está) no estado de laya* संबोधयेत् [saṃbodhayet] deve ser despertada* विक्षिप्तम् [vikṣiptam] (e a mente) que está agitada* पुनः [punaḥ] novamente* शमयेत् [śamayet] (deve ser trazida de volta à) tranquilidade* / विजानीयात् [vijānīyāt] saiba que* सकषायम् [sakaṣāyam] a mente está potencialmente cheia de desejos* न चालयेत् [na cālayet] e não deve ser perturbada* समप्राप्तम् [samaprāptam] quando atingir o estado de equilíbrio* 
44- A mente que está em laya deve ser despertada e a mente que está agitada deve ser trazida de volta à tranquilidade. Saiba que a mente está potencialmente cheia de desejos e não deve ser perturbada quando atingir o estado de equilíbrio.
45- नाऽऽस्वादयेत्सुखं तत्र निःसङ्गः प्रज्ञया भवेत् । निश्चलं निश्चरच्चित्तमेकी कुर्यात्प्रयत्नतः ॥ ४५॥
nā''svādayetsukhaṃ tatra niḥsaṅgaḥ prajñayā bhavet । niścalaṃ niścaraccittamekī kuryātprayatnataḥ ॥ 45॥
न-आस्वादयेत् [na-āsvādayet] não se deve desfrutar* सुखम् [sukham] da bem-aventurança (do estado do samādhi)* निःसङ्गः [niḥsaṅgaḥ] mas tornar-se desapegado* प्रज्ञया [prajñayā] por meio da discriminação* / तत्र [tatra] quando* चित्तम् [cittam] a mente* निश्चलम् [niścalam] que se aquietou* भवेत् [bhavet] tende* निश्चरत् [niścarat] a vagar* एकी-कुर्यात् [ekī-kuryāt] ela deve ser unificada (ao ātman)* प्रयत्नतः [prayatnataḥ] com os devidos esforços* 
45- Não se deve desfrutar da bem-aventurança do samādhi, mas tornar-se desapegado por meio da discriminação. Quando a mente que se aquietou tende a vagar, ela deve ser unificada ao Ātman com os devidos esforços.
46- यदा न लीयते चित्तं न च विक्षिप्यते पुनः । अनिङ्गनमनाभासं निष्पन्नं ब्रह्म तत्तदा ॥ ४६॥
yadā na līyate cittaṃ na ca vikṣipyate punaḥ । aniṅganamanābhāsaṃ niṣpannaṃ brahma tattadā ॥ 46॥
यदा [yadā] quando* चित्तम् [cittam] a mente* न लीयते [na līyate] não se dissolve em laya* च न विक्षिप्यते [ca na vikṣipyate] e nem se agita* पुनः [punaḥ] novamente* अनिङ्गनम् [aniṅganam] permanecendo imóvel* अनाभासम् [anābhāsam] e sem imaginar formas ou objetos* तदा [tadā] então* तत् [tat] esta (mente)* निष्पन्नम् [niṣpannam] se torna* ब्रह्म [brahma] brahman* 
46- Quando a mente não se dissolve em laya nem se agita novamente, permanecendo imóvel e sem imaginar formas ou objetos, então ela se torna Brahman. 
47- स्वस्थं शान्तं सनिर्वाणमकथ्यं सुखमुत्तमम् । अजमजेन ज्ञेयेन सर्वज्ञं परिचक्षत ॥ ४७॥
svasthaṃ śāntaṃ sanirvāṇamakathyaṃ sukhamuttamam । ajamajena jñeyena sarvajñaṃ paricakṣata ॥ 47॥
उत्तमम् सुखम् [uttamam sukham] essa maior bem-aventurança* स्वस्थम् [svastham] é própria do self* शान्तम् [śāntam] é paz* सनिर्वाणम् [sanirvāṇam] idêntica à liberação* अकथ्यम् [akathyam] indescritível* अजम् [ajam] e não nascida* / परिचक्षते [paricakṣate] é ainda descrita* सर्वज्ञम् [sarvajñam] como o brahman onisciente* अजेन [ajena] (porque é idêntica ao) não-nascido* ज्ञेयेन [jñeyena] que é o objeto do conhecimento* 
47- Essa maior bem-aventurança é própria do Self. É paz, idêntica à liberação, indescritível e não nascida. É ainda descrita como o Brahman onisciente porque é idêntica ao não nascido, que é o objeto do Conhecimento.
48- न कश्चिज्जायते जीवः सम्भवोऽस्य न विद्यते । एतत्तदुत्तमं सत्यं यत्र किञ्चिन्न जायते ॥ ४८॥
na kaścijjāyate jīvaḥ sambhavo'sya na vidyate । etattaduttamaṃ satyaṃ yatra kiñcinna jāyate ॥ 48॥
न कश्चित् [na kaścit] nenhum* जीवः [jīvaḥ] jīva* जायते [jāyate] nasce* / न संभवःअस्य-विद्यते-एतत् [saṃbhavaḥ asya-vidyate-etat] não há causa que possa produzi-lo* / तत् [tat] esta é* उत्तमम् [uttamam] a suprema* सत्यम् [satyam] verdade* यत्र [yatra] da qual* न किञ्चित् जायते [na kiñcit jāyate] nada nasce*
48- Nenhum Jīva nasce. Nenhuma causa pode produzi-lo. A suprema verdade é que nada nasce.

Aqui termina o terceiro capítulo do Gauḍapāda Kārikā

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