01/06/2018

Os Yoga Sūtras de Patañjali - Sādhana-Pāda (Revisado na primavera de 2022)

॥ पातञ्जलयोगशास्त्र ॥ - pātañjalayogaśāstra॥ - द्वितीयोऽध्यायः ॥ - dvitīyo'dhyāyaḥ - ॥ साधन-पादः ॥ - sādhana-pādaḥ - 2º Capítulo: Sādhana Pāda



A concentração (yoga) alcançada por um yogin já foi descrita. Este sutra mostra como um praticante com uma mente dispersa também pode alcançar o Yoga.
1- तपःस्वाध्यायेश्वरप्रणिधानानि क्रियायोगः ॥१॥
tapaḥsvādhyāyeśvarapraṇidhānāni kriyāyogaḥ ॥1॥
तप [tapa] austeridade, ascese* स्वाध्याय [svādhyāya] introspecção, estudo do Self* ईश्वर प्रणिधान [īśvara praṇidhāna] dedicação ao; puruṣa privilegiado, senhor* क्रिया योगः [kriyā yogaḥ] kriyā yoga*
1- Tapas (ascese, austeridade), svādhyāya (introspecção, estudo do Self) e īśvara-praṇidhāna (dedicação ao Senhor) constituem o Kriya Yoga (preparação para o yoga).

(Vyāsa): Um homem sem autodisciplina não pode atingir a perfeição no yoga. As impurezas ou resíduos mentais que surgem das armadilhas dos objetos sensoriais que são prejudiciais ao yoga, são coloridos pelos vāsanās (impressões subconscientes) das ações e aflições do passado e não podem ser eliminadas ou dissipadas sem a prática das austeridades (Tapas). É por isso que as austeridades devem ser praticadas. Recomenda-se que uma firme e constante conduta purificadora seja praticada pelos yogins, pois isso leva à pacificação da mente: Svadhyaya - repetição de um mantra sagrado, como a sílaba sagrada Oṃ, ou o estudo das escrituras relacionadas a mokṣa ou a liberação, e Īśvara-praṇidhāna - dedicação de todas as ações a īśvara, ié. abandono de todo anseio pelos frutos da ação.

kriyā-yoga deve ser praticado.
2- समाधिभावनार्थः क्लेशतनूकरणार्थश्च ॥२॥
samādhibhāvanārthaḥ kleśatanūkaraṇārthaśca ॥2॥
अर्थ [artha] o propósito do (kriyā yoga)* तनू करणा [tanū karaṇa] atenuação* क्लेश [kleśa] aflição, sofrimento* च [ca] e* भावन [bhāvana] cultivar, realizar* समाधि [samādhi] samādhi, absorção*
2- (kriyā yoga) deve ser praticado para atenuar os kleśas e realizar samādhi.

(Vyāsa): Kriya-yoga realizado corretamente conduz ao estado de samādhi e atenua consideravelmente todos os kleśas. O fogo do conhecimento discriminativo (prasaṃkhyāna) esteriliza os kleśas como sementes torradas. Quando são suprimidos (kleśas), não podem obscurecer a percepção da distinção entre buddhi e Puruṣa.

O que são os klesas e quais são eles?
3- अविद्यास्मितारागद्वेषाभिनिवेशाः क्लेशाः ॥३॥
avidyāsmitārāgadveṣābhiniveśāḥ kleśāḥ ॥3॥
अविद्या [avidyā] ignorância, interpretação errônea do real* अस्मिता [asmitā] 'senso do eu', egoidade* राग [rāga] apego* द्वेष [dveṣa] aversão* अभिनिवेश [abhiniveśa] apego à vida, medo da morte* पञ्च [pañca] (são) cinco* क्लेशा [kleśā] (causas do) do sofrimento, das aflições*
3- Avidyā (cognição errônea, ignorância), asmita ('senso do eu', egoidade), raga (apego), dvesa (aversão) e abhiniveśa (medo da morte, apego à vida) são os cinco kleśas (causas das aflições).

(Vyasa): Os klesas (aflições) são as cinco formas de cognição errônea. Quando eles se tornam ativos, isto é, tornam-se manifestos, eles fortalecem o domínio dos guṇas, provocam mudanças, põem em movimento o fluxo de causa e efeito e em conjunto uns com os outros trazem a frutificação da ação. [A característica comum de todas as aflições é a cognição errônea que é uma fonte de sofrimento. Quando os Klesas prevalecem, ou seja, quando as modificações aflitivas crescem, a atividade dos Gunas permanece profundamente enraizada, pois a verdadeira natureza do Self permanece invisível. Eles, por sua vez, põem em movimento a cadeia de mutações de Avyakta (não manifestado) a Mahat (puro 'senso do Eu') etc., ou seja, os guṇas mudam continuamente em Mahat, Ahamkara, etc. e as aflições subjacentes às mutações trazem a fruição das ações.] (S. H. Aranya).

4- अविद्या क्षेत्रमुत्तरेषां प्रसुप्ततनुविच्छिन्नोदाराणाम् ॥४॥
avidyā kṣetramuttareṣāṃ prasuptatanuvicchinnodārāṇām ॥4॥
अविद्या [avidyā] ignorância, interpretação errônea do real* क्षेत्र [kṣetra] (é o) campo* उत्तर [uttara] (onde se reproduzem) outros* प्रसुप्त [prasupta] inativos* तनु [tanu] atenuados* विच्छिन्न [vicchinna] interrompidos, dispersos* उदार [udāra] ativos*
4- Avidyā é o campo onde se reproduzem os outros, sejam eles inativos, atenuados, interrompidos ou ativos.

(Vyāsa): No presente contexto, avidyā aparece como um terreno para a germinação dos outros kleśas, em suas condições dormente, atenuada, interrompida ou ativa. Destas, o que é dormência? É aquela condição em que um kleśa permanece na mente em estado potencial. Tal kleśa desperta, ié, entra em operação quando se dirige a seu objeto. No caso de alguém que adquiriu conhecimento discriminativo, as sementes da aflição são queimadas e, portanto, mesmo que o objeto venha até ele, elas não brotam nem se tornam ativas. Como uma semente torrada pode germinar? Por essa razão, o Yogin que reduziu seus kleśas é chamado de realizado na arte da auto conquista e é visto como vivendo em seu último corpo físico. É assim que em tais Yogins as aflições chegam ao quinto estado como sementes queimadas. Nesse estado, as sementes dos kleśas ainda existem, mas perdem seu poder de produzir ação e não germinam mesmo quando trazidas para perto dos objetos apropriados (isto é, causas excitantes). Este é o relato da dormência ou da ausência de germinação de um kleśa por causa de sua condição ressecada. Falando sobre a atenuação, os kleśas definham quando são dominados pela contemplação de seus opostos. Os kleśas ocasionalmente suprimidos, mas que podem retornar, são chamados de kleśas interrompidos. Por exemplo, quando a raiva não está presente no momento do apego, ela não está ativa. Entretanto, quando o apego é direcionado para um objeto, não se pode dizer que ele seja inexistente em relação a outro objeto. Chaitra estando apegado a uma mulher pode não sentir aversão a outra mulher. Em tais casos, os apegos são, atualmente, ativos para alguns e podem ser ativados no futuro para outros. Aquele que é manifesto com referencia a um objeto é chamado ativo. Todos estes não vão além da categoria das aflições ou kleśas. Então, por que os kleśas são divididos em dormentes, atenuados, interrompidos e ativos? Isso é verdade, sem dúvida, mas a divisão é baseada nas peculiaridades dos diferentes estados. Como estes são mantidos em observação pelas contemplações contrárias, o mesmo acontece com as causas favoráveis. Todos os kleśas são apenas variedades de ignorância, porque todas elas são permeadas pela ilusão. Quando um objeto é colorido pela ignorância, ele é seguido pelos outros kleśas. Estes são experimentados quando há ignorância e diminuem quando a ignorância é atenuada.

Destes (klesas), a natureza de Avidya está sendo descrita.
5- अनित्याशुचिदुःखानात्मसु नित्यशुचिसुखात्मख्यातिरविद्या ॥५॥
anityāśuciduḥkhānātmasu nityaśucisukhātmakhyātiravidyā ॥5॥
अविद्या ख्याति [avidyā khyāti] ignorância, interpretação errônea do real (consiste em) considerar* अनित्य नित्य [anitya nitya] (um objeto) transitório (como) eterno* अशुचि शुचि [aśuci śuci] o impuro como puro* दुःख सुखा [duḥkha sukha] o sofrimento como prazer* अनात्मन् आत्मम् [anātmam ātmam] o não self como o self*
5- Avidyā (ignorância, interpretação errônea do real) consiste em considerar um objeto transitório como eterno, um objeto impuro como puro, o sofrimento como prazer e o não self como Self.

(Vyāsa): Presumir como permanente o que é impermanente é avidyā, ié. considerar o mundo ou o céu com a lua e as estrelas como permanentes, ou ainda, os seres celestiais como imortais; ou reconhecer pureza no corpo impuro e repugnante. Por causa de sua procedência, de sua alimentação, de seus fatores constituintes, de suas secreções, de sua degeneração e de sua pureza casual, o corpo é considerado pelos sábios como algo impuro. Tal corpo repulsivo e impuro é, no entanto, considerado puro; por exemplo, na descrição: “Esta donzela, encantadora e terna como uma lua cheia, com seu corpo aparentando ser formado de mel ou néctar, emanou, por assim dizer, da lua, e com seus olhos de lótus, ela está inebriando os seres vivos com seus olhares sedutores. O que está aqui sendo comparado com o que? É assim que uma falsa sensação de pureza promove aquilo que é impuro. Isso também ilustra a falsa cognição do sagrado sobre o profano e do que é benéfico mas na verdade não é, bem assim. A falsa cognição da dor como prazer será descrita mais tarde no aforismo II.15, As pessoas discriminadoras aprendem (por análise e antecipação) que todos os objetos mundanos são dolorosos porque causam sofrimento, em consequência de suas experiências aflitivas, e por suas tendências latentes, e também por causa da natureza antagônica dos guṇas (que produzem mudanças o tempo todo). Considerar a miséria como a felicidade é avidyā. Assim também é avidyā quando se considera as coisas como próprias, quando não são assim, por exemplo, as pessoas olham para objetos externos, outras pessoas, animais, até mesmo para o próprio corpo e sua mente como sede da experiência externa, como constituindo o próprio Ser ou Puruṣa, enquanto na realidade não é assim. Nesse sentido, Acharya (Pañcasikha) disse: "Aqueles que consideram os objetos animados e inanimados como parte de seu próprio Self e se regozijam com sua prosperidade e lamentam sua decadência são vítimas da ilusão. Assim, avidyā tem quatro divisões. É a fonte da qual todos os kleśas procedem e das impressões latentes correspondentes produzidas. Como no caso de "amitra" (não amigo) e "a-gospada" (uma não pegada de vaca), avidyā é considerada uma entidade positiva. Como amitra não significa a mera inexistência de amigo ou de um amigo, mas sim uma coisa positiva oposta a um amigo, ié. um inimigo, e como a-gospada não implica a mera ausência de gospada ou de um gospada, mas um lugar grande, diferente de ambos, então avidyā não é a cognição correta nem a mera ausência de cognição, mas a cognição que é contrária à cognição correta. (Gospada = terra coberta por um pé de vaca, isto é, de um tamanho muito pequeno; a-gospada = um grande pedaço de terra). ["... A ignorância é uma falha cognitiva, uma convicção errada sobre a própria identidade, que é congênita no ser humano. A socialização e a educação reforçam a crença inata em um falso self. Somente quando adquire-se consciência dos mecanismos sociais e culturais que criam e sustentam sua auto imagem errônea é que se pode começar a desfazê-la e partir para descoberta de sua verdadeira identidade, que é o Self (Puruṣa)".] (G. Feuerstein).

6- दृग्दर्शनशक्त्योरेकात्मतेवास्मिता ॥६॥
dṛgdarśanaśaktyorekātmatevāsmitā ॥6॥
अस्मिता [asmitā] 'senso do eu', egoidade* एक आत्मता दृश् [eka ātmatā dṛś] (é a) identificação do Puruṣa (consciência pura)* इव शक्ति दर्शन [iva śakti darśana] com o poder da visão (com buddhi - consciência empírica)*
6- Asmitā é a identificação do Puruṣa (consciência pura) com buddhi (consciência empírica).

(Vyāsa): Puruṣa é consciência absoluta, enquanto buddhi ou princípio cognitivo é o instrumento do conhecimento. A aflição conhecida como asmitā vê estes dois como idênticos. Quando as duas entidades completamente diferentes, como o conhecedor e o conhecido, parecem unificadas isso é chamado de experiência. Quando a natureza real dos dois é reconhecida, isto leva a liberação, - o Self permanece em sua própria natureza' (svarūpa) e não há experiência. Acharya Pañchasikha diz: "Quando alguém, por ilusão, vê o Puruṣa como Buddhi em virtude de sua imaculabilidade, imutabilidade e consciência super física, ele está considerando Buddhi como o verdadeiro Self." [" O estado de experiência tem a natureza do conhecimento (mental) enquanto o experimentador, da consciência metafísica; portanto, sua equivalência está no contexto da cognição. A equivalência entre o conhecedor e o conhecido não deve ser imaginada como a do sal e da água, isto é, de objetos tangíveis. É apenas a não distinção entre o Puruṣa e a Prakrti na consciência. 'A experiência (de prazer e dor) surge da cognição de buddhi e Puruṣa como idênticos, (Sutra III.35) - por tal afirmação o autor do sutra descreveu a relação entre buddhi e Puruṣa. Felicidade e miséria são objetos da experiência. Os órgãos internos são os meios de vivenciar a felicidade e a miséria e, portanto, também estão incluídos no contexto da experiência. A identificação dos órgãos da cognição com o Self é Asmita. Buddhi ou o princípio cognitivo individual é o principal instrumento da cognição; é, portanto, principalmente puro 'senso do Eu'. Considerando os vários órgãos dos sentidos como sendo os resultados de Asmita. 'Eu possuo o poder de ver etc.' - esse tipo de imputação da ideia de Self a algo que não é próprio, também é um exemplo de asmita. Esse tipo de imputação do eu a outras coisas pode ser de vários tipos".] (S. H. A.).

7- सुखानुशयी रागः ॥७॥
sukhānuśayī rāgaḥ ॥7॥
राग [rāga] apêgo, atração* अनुशयिन् [anuśayin] decorrente* सुख [sukha] do prazer*
7- Raga (kleśa) é a atração decorrente do prazer.

(Vyāsa): O desejo (ou a sede por, ou desejo ardente após o prazer, ou os meios que levam a isso) que prende alguém que experimentou o prazer é chamado de Raga ou apego. ["... A palavra anusayin ou 'seguir' implica que existe uma impressão latente na mente. No apego, o desejo e os sentidos são atraídos involuntária e inconscientemente pelos objetos, e o poder de restringir conscientemente o desejo desaparece. É por isso que o apego é considerado um tipo de falso conhecimento (viparyaya). Por isso, o Self fica ligado com os sentidos e seus objetos. Aqui o falso conhecimento é considerar o Self isolado como ligado às impressões latentes de prazer relativo aos sentidos que realmente não pertencem ao Self. Além disso, considerar o mal como bom também é uma característica do apego".] (S. H. A.).

8- दुःखानुशयी द्वेषः ॥८॥
duḥkhānuśayī dveṣaḥ ॥8॥
द्वेष [dveṣa] aversão* अनुशयिन् [anuśayin] resulta de* दुःख [duḥkha] sofrimento, dor*
8- Aversão é aquilo que resulta das experiencias dolorosas.

(Vyāsa): A aversão é o sentimento de repulsa mental, propensão a agredir e repulsão em relação a dor ou a objetos que causam dor, decorrentes dos sofrimentos experimentados anteriormente.

9- स्वरसवाही विदुषोऽपि तथारूढोऽभिनिवेशः ॥९॥
svarasavāhī viduṣo'pi tathārūḍho'bhiniveśaḥ ॥9॥
तथा अपि [tathā api] também* विदुष [viduṣa] no sábio* स्वरस वाही रूढ [svarasa vāhī rūḍha] está sedimentado* अभिनिवेश [abhiniveśa] (o inato medo da morte chamado) abhiniveśa *
9- Também no sábio está sedimentado o inato medo da morte, chamado Abhiniveśa.

(Vyāsa): Toda criatura sempre tem esse desejo 'Quero viver; Não quero morrer'. Aquele que não sentiu o medo da morte antes não pode ter esse tipo de desejo. Isso demonstra a experiência de um nascimento anterior. Essa ansiedade aflitiva é espontânea. É vista até em vermes desde o nascimento. Não foi obtida pela percepção (direta) ou por inferência ou por testemunho verbal; Conclui-se que o medo da morte havia sido experimentado em nascimentos anteriores. Esse medo é encontrado em um ignorante, assim como em um homem sábio possuidor de conhecimento sobre a vida anterior e a vida futura (ou seja, a respeito de onde alguém veio e para onde irá). Por que isso? Porque esta latência, o resultado do medo da morte, é semelhante tanto no afortunado como no infeliz.

10- ते प्रतिप्रसवहेयाः सूक्ष्माः ॥१०॥
te pratiprasavaheyāḥ sūkṣmāḥ ॥10॥
ते [te] esses (kleśas)* सूक्ष्म [sūkṣma] são sutis* हेय प्रतिप्रसव [heya pratiprasava] e são destruídos (quando a mente) se dissolve (na prakṛti)*
10- Esses kleśas são sutis e são destruídos quando a mente se dissolve na prakṛti.

(Vyāsa): Esses cinco kleśas transformam-se em sementes ressecadas e desaparecem com a mente do yogin ao cumprir o propósito de sua existência, sendo reabsorvidos em prakṛti. ["Pratiprasava significa o oposto a prasava ou criação, ou seja, dissolução na causa primária. Kleśa sutil é o kleśa transformado em semente seca através de prasamkhyana ou conhecimento discriminativo. A cognição do "eu" (self empírico) no próprio corpo pode ser completamente removida na realização de um princípio (tattva) que está além do corpo e dos sentidos. A partir dessa percepção, vem o conhecimento de que "não sou nem o corpo nem os sentidos". Então, nenhuma desordem no corpo ou nos sentidos afeta a mente do yogin ... o medo da morte é atenuado com o fim da identificação com o corpo ... O kleśa então reduzido desaparece com o desaparecimento da mente. Quando através de para-vairagya ou suprema renúncia, a mente se funde em sua causa primordial, os sutis kleśas também desaparecem junto com ela ... No asamprajñata-yoga essa relação sutil com o corpo também cessa, isto é, as modificações que se fundem em suas causas naturais, os kleśas são completamente destruídos ... "] (S. H. A.).

11- ध्यानहेयास्तद्वृत्तयः ॥११॥
dhyānaheyāstadvṛttayaḥ ॥11॥
वृत्ति [vṛtti] as flutuações mentais* तद् [tad] (produzidas por) esses (kleśas)* हेय [heya] são eliminadas* ध्यान [dhyāna] pela meditação*
11- As flutuações mentais produzidas por esses kleśas são eliminados pela meditação.

(Vyāsa): As manifestações grosseiras dos kleśas, tendo sido, atenuadas pelo kriya-yoga devem ser destruídas através da meditação (prasaṃkhyāna - conhecimento discriminativo) até que sejam reduzidas ao estado da semente seca. Como a sujeira bruta de um pedaço de pano é lavada primeiro e depois suas impurezas mais finas são removidas com cuidado e esforço, assim os kleśas grosseiros são obstáculos mais fracos, enquanto as sutis são mais difíceis de serem eliminados.

12- क्लेशमूलः कर्माशयो दृष्टादृष्टजन्मवेदनीयः ॥१२॥
kleśamūlaḥ karmāśayo dṛṣṭādṛṣṭajanmavedanīyaḥ ॥12॥
कर्म आशय [karma āśaya] as impressões latentes do karma* मूल [mūla] (que tem como) raiz* क्लेश [kleśa] os kleśas* वेदनीय [vedanīya] (são) experienciadas* जन्म दृष्ट अदृष्ट [janma dṛṣṭa adṛṣṭa] vida presente ou futura*
12- As impressões latentes do karma (karmāśaya) que tem como raiz os kleśas são experienciadas em vida presente ou futura.

(Vyāsa): Mérito e o demérito das impressões latentes do karma surgem do desejo, da ganância, da ilusão ou da raiva. Tornam-se operantes na vida presente ou em uma vida futura. Destas, as impressões de ações caridosas recolhidas a partir da repetição de mantras, observação de tapas ou obtenção de samadhi - todas realizadas com profundo desapego ou através da adoração a Deus, aos devas, maharishis ou santos, frutificam rapidamente. Da mesma forma frutificam imediatamente, as impressões de ações perversas repetidamente executadas com excesso de kleśas, em relação às criaturas indefesas, doentes ou na miséria, ou àqueles que se retiram da vida mundana, ou aos de coração nobre ou aos envolvidos em austeridades. Por exemplo, o jovem Nandisvara passou da forma humana para a de uma divindade; enquanto Nahusa, um governante celeste, foi transformado em réptil. Entre estes, aqueles que estão no inferno não acumulam qualquer mérito ou demérito para serem experimentados em vida, enquanto aqueles que eliminaram suas aflições (por exemplo, jīvanmuktas, isto é, libertados vivos) não carregam consigo quaisquer impressões latentes que possam frutificar em uma vida futura. ["... as três consequências do karmasaya são: nascimento, extensão da vida e experiência (de prazer ou dor) nessa vida. Em outras palavras, o saṃskāra que produz tais resultados é karmasaya. Quando as consequências aparecem, o saṃskāra baseado no sentimento experienciado é chamado de vāsanā ou latência subconsciente. Vāsanā, por si só, não produz qualquer consequência ou resultado, mas para que qualquer karmasaya produza o resultado, a vāsanā apropriada é necessária. Karmasaya é como uma semente, vāsanā é como um campo, o nascimento ou a encarnação é como uma árvore e a experiência (de prazer ou dor) é como seus frutos".] (S. H. A.).

13- सति मूले तद्विपाको जात्यायुर्भोगाः ॥१३॥
sati mūle tadvipāko jātyāyurbhogāḥ ॥13॥
सति [sati] (enquanto) existir* मूले [mūle] (kleśas em sua) raiz* तत् [tad] ele (karmāśaya)* विपाक [vipāka] frutifica* जाति [jāti] como nascimento* आयुस् [āyus] extensão de vida* भोग [bhoga] experiência de vida (prazer e dor)*
13- Enquanto houver kleśas em sua raiz, o karmāśaya frutifica como tipo de nascimento, extensão da vida e experiências vividas

(Vyāsa): Karmāśaya (resíduos karmicos acumulados em citta) começa a frutificar quando existem kleśas em sua raiz, mas não produzem consequências quando os kleśas forem removidos ou reduzidos a um estado queimado através da aquisição do conhecimento discriminativo (prasaṃkhyāna). A consequência é de três tipos: nascimento, extensão da vida e experiência de prazer ou dor na vida. Karmāśaya, sendo a causa do nascimento, da extensão da vida e da experiência afetiva, é chamado de 'trivipaka' ou o que tem três consequências. Quando karmāśaya se torna operativo na vida atual e é responsável pela experiência afetiva, diz-se que é "de única consequência"; enquanto que, se é responsável pelo tempo de vida e pela experiência, é "de dupla consequência" - A mente nutrida desde tempos imemoriais em latências (vāsanā) de kleśas e na execução de ações, é como um quadro multicolorido ou como uma rede de pesca com nós por toda parte. É por isso que vāsanā é derivado de muitos nascimentos anteriores, enquanto karmāśaya é derivado de um nascimento ou vida. Essas impressões latentes subconscientes, que dão origem apenas à memória, são conhecidas como vāsanā e não têm começo. Karmāśaya, que é de apenas uma vida, tem fruição incerta. Diz-se que a morte é a causa geral da manifestação do karmāśaya na vida futura; Mas esta regra nem sempre é válida, porque a morte nem sempre é a causa da completa manifestação do karma limitado em vida futura. Karmas que devem estar operando em uma vida futura e que ainda não se tornaram maduros o suficiente para dar frutos podem ser destruídos, ou eles podem se misturar ou se sobrepujar e não frutificar por um longo tempo, até que ações similares favoráveis ​​à sua manifestação os incline em direção à fruição. ”Desde que o tempo, o lugar e a causa de tal manifestação não podem ser determinados, a maldição do karma é considerada variegada e indiscernível". Em outras palavras, no momento da morte, o karmāśaya acumulado, ou depósito de karma, determina e estabelece os “três frutos”: tipo de nascimento, jāti (humano, animal, etc.); a extensão da vida, āyus; e a experiência de vida, bhoga (o agregado de prazer e dor que se experimentará). Mas (nesse caso) sendo esta uma exceção, a regra geral não é quebrada. Portanto, sustenta-se que karmasaya é unigênito, ou seja, de apenas um nascimento (vida). ["Na morte, diz Vijñānabhikṣu, o corpo sutil, ou citta, que é onde o karmāśaya e todas os saṁskāras são armazenados, transfere-se para o novo corpo. O corpo sutil não é destruído na morte como o corpo denso é, e assim os saṁskāras são preservados de vida em vida. Isso significa que no momento da morte, o conjunto particular de saṁskāras destinado a frutificar na próxima vida surge como uma onda, de acordo com Vācaspati Miśra, e não apenas impulsiona citta para o próximo corpo, mas também determina a mentalidade específica desse corpo. Enquanto isso, a porção do saṁskāra humano permanece adormecida até que seja sua vez de frutificar em uma vida que requer uma mentalidade e nascimento humanos. Como o tempo e o lugar das condições em torno da fruição do karma são tão complexos que não podem ser compreendidos, o desdobramento do karma é um mistério, diz Vyāsa. Como Kṛṣṇa afirma: “Difícil de entender são os caminhos do karma” (Gītā IV.17).] (E. F. Bryant).

14- ते ह्लादपरितापफलाः पुण्यापुण्यहेतुत्वात् ॥१४॥
te hlādaparitāpaphalāḥ puṇyāpuṇyahetutvāt ॥14॥
ते [te] este (tipo de nascimento, a extensão da vida e a experiência de vida)* हेतुत्व [hetutva] causam, produzem* फल [phala] os frutos* ह्लाद [hlāda] do prazer* परिताप [paritāpa] e do sofrimento* पुण्य अपुण्य [puṇya apuṇya] (de acordo os comportamentos) virtuosos ou viciosos*
14- O tipo de nascimento, a extensão da vida e a experiência de vida, produzem os frutos do prazer e do sofrimento, de acordo com os comportamentos virtuosos ou viciosos.

(Vyāsa): Estas, isto é, as formas nas quais o nascimento ocorre, o período, e a experiência de vida, produzem felicidade se causada pela virtude, e miséria se causada pelo vício. Assim como a miséria é indesejável (para os seres comuns), assim, para a mente de um yogin, até o desfrute de objetos agradáveis é indesejável, pois isso também envolve dor.

Como é possível que os yogins não encontrem satisfação mesmo nas coisas agradáveis e divertidas?
15-परिणामतापसंस्कारदुःखैर्गुणवृत्तिविरोधाच्च दुःखमेव सर्वं विवेकिनः ॥१५॥
pariṇāmatāpasaṃskāraduḥkhairguṇavṛttivirodhācca duḥkhameva sarvaṃ vivekinaḥ ॥15॥
विवेकिन् सर्व ताप [vivekin sarva tāpa] para o discriminador tudo (é) miséria* परिणाम दुःख विरोध वृत्ति गुण [pariṇāma duḥkha virodha vṛtti guṇa] em consequência de suas experiências que causam sofrimento e pelos conflitos dos vrttis devido aos guṇas* च एव दुःख संस्कार [ca eva duḥkha saṃskāra] e também pela dor (causada pelas) impressões subliminares*
15- Para o discriminador tudo é miséria em consequência de suas experiências que causam sofrimento e pelos conflitos dos vrttis devido aos guṇas e pela dor causada pelas impressões subliminares (saṃskāras).

(Vyāsa): A experiência da felicidade deve-se ao apego a objetos animados (por exemplo, esposa e família) ou inanimados. Do sentimento de felicidade surge o karmāśaya baseado no apego. Da mesma forma, objetos que causam sofrimento são odiados por todos, e os homens tem aversão por eles. É assim que nasce o karmāśaya do ódio e do temor. Nenhum prazer é possível sem criar alguma injúria. Assim, no deleite dos objetos, também é formado o karmāśaya baseado na malevolência. O prazer proporcionado pelos objetos é, portanto, chamado de ignorância.
O que é miséria aflitiva? Todos ficam aflitos e com dor quando se relacionam com aversão a objetos animados e inanimados. Isso dá origem ao karmāśaya da aversão. Novamente, quando (para superar essa miséria aflitiva) os homens buscam prazer com o corpo, com a mente e com palavras, favorecem ou causam dor a outros, o que resulta em acúmulo de piedade e impiedade. Este karmāśaya é o resultado da ganância e da paixão. Isso é chamado de miséria aflitiva.
Qual é o sofrimento causado pelos saṃskāras (impressões subconscientes)? Experiências de prazer e dor dão origem a latências correspondentes. Assim, da experiência de prazer e dor resultante do karma, novo karmāśaya é acumulado (através da vāsanā correspondente). Dessa maneira, a corrente eterna da miséria causa angústia apenas a um yogin, porque a mente de um homem sábio é tão sensível quanto a superfície do globo ocular. Como o toque de uma teia de aranha em queda só fere o globo ocular, mas nenhuma outra parte do corpo, então essas misérias (devido à natureza mutante das coisas) afetam apenas um yogin que é tão sensível quanto o globo ocular e não a outras pessoas. Outros, sob a influência da ignorância em sua mente, eternamente variegada pelos vāsanās e sujeitos às noções equivocadas de 'eu' e 'meu', que devem ser certamente abandonadas para obter conhecimento correto do Self, sofrem com a miséria devida a seus próprios atos. Também por causa da oposição mútua das modificações dos guṇas, tudo é doloroso para uma pessoa discriminadora.
As fases de buddhi na forma de sattva, rajas e tamas, reagindo umas sobre as outras, dão origem a uma experiência tranquila, intensa ou estupefata. Os produtos dos guṇas estão em um estado de fluxo, ou seja, sempre em mutação. Quando qualquer uma das formas de buddhi (estas são oito em número: mérito e demérito, apreensões corretas e erradas, o espírito de desapego e apego, supremacia e seu oposto) e seus estados (estes são três em número, ex. tranquilidade, miséria e estupor) tornam-se mais intensos, opõem-se aos mais fracos, enquanto formas e estados mais fracos cooperam com os mais fortes. Assim, por mistura, os guṇas produzem experiência de prazer, dor e estupor. Então todas as experiências têm os aspectos de todos os guṇas, sattva, rajas e tamas, mas suas características específicas, por exemplo, as sáttvicas, as rajásicas e as tamásicas são causadas pela preponderância de um ou outro dos guṇas. Por essa razão (a saber, que nada pode ser puramente sáttvico ou apenas produtor de prazer), para uma pessoa discriminativa, tudo (mesmo prazer mundano) é cheio de miséria. A ignorância é a causa raiz da predominância da interminável miséria e tristeza, enquanto o verdadeiro conhecimento é a causa do desaparecimento da ignorância. Como a ciência médica tem quatro divisões: doença, causa da doença, recuperação e terapêutica - então esta filosofia de salvação tem quatro partes, ié. ciclo de nascimentos, sua causa, libertação e os meios de libertação. Destes, o ciclo de nascimentos é heya, isto é, deve ser descartado; a associação do Puruṣa e pradhāna (prakṛti) é heyahetu ou a causa de heya (que deve ser descartada); cessação perpétua desta associação é hana ou libertação; e o conhecimento correto é o meio de liberação (hanopaya). Destes, a natureza real do Puruṣa, que testemunha sua libertação, não pode ser descartada nem alcançada, pois implicaria sua eliminação no primeiro caso e sua geração (isto é, ser uma causa) no segundo. Rejeitando ambas as visões chegamos à doutrina da imutabilidade eterna que é o conhecimento correto.

16- हेयं दुःखमनागतम् ॥१६॥
heyaṃ duḥkhamanāgatam ॥16॥
दुःख [duḥkha] sofrimento* अनागत [anāgata] ainda não manifestado* हेय [heya] pode ser evitado*
16- O sofrimento que ainda não se manifestou pode ser evitado.

(Vyāsa): Sofrimentos passados não podem ser evitados, uma vez que já foram experimentados. O sofrimento presente está em ação e não pode ser postergado. Portanto, somente aquela dor, que ainda não foi experimentada, incomoda o Yogin que é tão sensível quanto um globo ocular, e não qualquer outro observador. Portanto, só essa é a dor evitável.

17- द्रष्टृदृश्ययोः संयोगो हेयहेतुः ॥१७॥
draṣṭṛdṛśyayoḥ saṃyogo heyahetuḥ ॥17॥
संयोग [saṃyoga] a identificação* द्रष्टृ [draṣṭṛ] entre aquele que vê (puruṣa)* दृश्य [dṛśya] e o que é visto (buddhi)* हेतु [hetu] é a causa (do sofrimento)* हेय [heya] que deve ser evitado*
17- A identificação entre aquele que vê (Puruṣa) e o que é visto (buddhi) é a causa (do sofrimento) que deve ser evitada.

(Vyāsa): "Aquele que vê' é o Puruṣa que é o refletor de buddhi (ou pura auto identidade, 'puro senso do Eu') e tudo o que é experimentado por buddhi são os objetos (cognoscíveis). Como um imã, os objetos da experiência atuam sobre o que está em sua proximidade. Por serem cognoscíveis, eles se tornam propriedade do Puruṣa cuja natureza é Consciência; O cognoscível (aqui cognoscível significa buddhi) tornando-se o objeto da experiência ou ação é naturalmente revelado como algo mais, ou seja, como Puruṣa, e ainda assim independente em si mesmo, torna-se dependente em servir como objeto de outro i.é. do Puruṣa. Essa identificação atemporal entre a consciência e o objeto é a causa do evitável, isto é do sofrimento. É por isso que disse (Acharya Pañchasikha): "Evitando a identificação com buddhi, a eliminação absoluta da aflição pode, então, ser realizada", porque se vê que a causa do problema pode ser remediada. Por exemplo, como a sola do pé é suscetível a danos causados ​​por espinhos, entretanto o poder perfurante do espinho pode ser evitado não se colocando os pés no espinho ou usando um sapato. Quem conhece os três (guṇas) pode evitar problemas relacionados a um espinho aplicando um remédio. Como? Pelo conhecimento da natureza destes três. Na experiência espiritual também, o aflito guna rajas, pode perturbar a sattva. Por quê? Porque aflição deve operar em uma entidade passível de mutação. O sattva sendo passível de mutação pode ser perturbado enquanto o Self que está além da ação e da mutação não pode ser afetado. Uma vez que os objetos apresentados por buddhi são testemunhados pelo Puruṣa, quando eles estão cheios de dor, o Puruṣa também pode estar ciente de sua natureza dolorosa... "

A natureza dos objetos (cognoscíveis) está sendo descrita.
18- प्रकाशक्रियास्थितिशीलं भूतेन्द्रियात्मकं भोगापवर्गार्थं दृश्यम् ॥१८॥
prakāśakriyāsthitiśīlaṃ bhūtendriyātmakaṃ bhogāpavargārthaṃ dṛśyam ॥18॥
दृश्यम् शील [dṛśyam śīla] (o que é) conhecível tem a natureza dos (guṇas)* प्रकाश क्रिया स्थिति [prakāśa kriyā sthiti] luminosidade, atividade, inércia (sattva, rajas e tamas) आत्मक इन्द्रिय भूत [ātmaka indriya bhūta] consiste dos sentidos (indriya) e dos elementos (bhūta)* अर्थ भोग अपवर्ग [artha bhoga apavarga] existe com a finalidade de fornecer experiência e libertação (ao Puruṣa)*
18- Aquilo que é cognoscível tem a natureza dos guṇas: luminosidade, atividade e inércia (sattva, rajas e tamas). Pois consiste dos sentidos (indriya) e dos elementos (bhūta) e existe com a finalidade de fornecer experiência e libertação ao Puruṣa.

(Vyāsa): A luminosidade é a característica de sattva, a mutabilidade de rajas e a inércia de tamas. Esses três guṇas estão distintamente relacionados entre si, unem-se, separam-se, e cooperam para produzir formas manifestas. Suas propriedades não se misturam, mesmo relacionados organicamente. Mas quando um deles produz efeitos de natureza homogênea os outros dois, embora não homogêneos, operam como causas associadas, e todos eles estão sempre prontos para produzir efeitos homogêneos em seus estados de predominância. Por sua natureza de ser objeto do Puruṣa e por causa de sua capacidade de produzir formas, eles agem por proximidade como um magneto; Na ausência de uma causa apropriada (isto é, a instigante causa do mérito ou demérito), seguem a influência do dominante. Esses guṇas estão associados ao Pradhāna, e são chamados de objetos de conhecimento, apresentam-se na forma de elementos e são transformados em terra e outros elementos grosseiros e sutis. Similarmente, eles existem na forma de órgãos dos sentidos e são transformados como sutis ou grosseiros. Esses objetos não funcionam sem propósito; Pelo contrário, eles agem quando há necessidade de servir ao Puruṣa como seu objeto. Portanto, um objeto se move apenas para suprir a experiência ou a emancipação do Puruṣa. Destes, a realização do essencialmente benéfico e prejudicial, ao identificar o observador com o observado, é experiência; enquanto que realizar a verdadeira natureza do Puruṣa é emancipação ou Apavarga. Não há outra forma de conhecimento além desses dois. É por isso que se diz: 'Embora os três gunas sejam responsáveis ​​por todas as ações e mutações, uma pessoa que não possui conhecimento discriminativo considera natural todas as experiências que são apresentadas por Buddhi ao princípio (Puruṣa) que é realmente inativo, distinto de Buddhi, apesar de alguma afinidade, é somente o testemunho de suas mudanças. Assim, indivíduos inscientes não suspeitam da existência de uma consciência incondicionada (além do ego empírico).
Essa experiência e emancipação sendo criações de Buddhi e pertencentes ao próprio Buddhi, como elas podem ser atribuídas ao Puruṣa? Como a vitória ou a derrota dos reais combatentes são atribuídas ao seu comandante que gerencia a batalha, então a escravidão e a emancipação presentes em Buddhi, são atribuídas ao Puruṣa, que as experiencia. A não conclusão dos dois objetivos é escravidão para Buddhi, enquanto sua conclusão é libertação. Assim, a percepção, retenção, lembrança, eliminação, concepção e determinação embora presentes em Buddhi são considerados pertencentes ao Puruṣa que se considera tê-los experienciados.

Este Sutra fornece os meios de conhecer a natureza real e a distinção entre os guṇas que aparecem como conhecíveis.
19- विशेषाविशेषलिङ्गमात्रालिङ्गानि गुणपर्वाणि ॥१९॥
viśeṣāviśeṣaliṅgamātrāliṅgāni guṇaparvāṇi ॥19॥
पर्वाणि [parvāṇi] estágios de desenvolvimento* र्गुण [guṇa] dos guṇas* विशेष [viśeṣa] particularizado, diversificado* अविशेष [aviśeṣa] não diversificado, não particularizado, universal* लिङ्ग मात्र [liṅga mātra] diferenciado* अलिङ्ग [aliṅga] indiferenciado, indefinido*
19- Os diferentes estados dos guṇas são particularizado (viśeṣa), não particularizado (aviśeṣa), diferenciado (liṅga-mātra), e indiferenciado (aliṅga).

(Vyāsa): Destes (estados dos guṇas), espaço (ākāśa), ar (vāyu), fogo (agni), água (udaka - Ap) e terra (bhūmi - pṛthvī) são os elementos brutos (bhūtas). Eles são as formas particularizadas (viśeṣa) dos elementos sutis não particularizados (aviśeṣa), ié. tanṃātras: odor (gandha), sabor (rasa), visão (rūpa), tato (sparśa) e som (śabda). Da mesma forma, os cinco órgãos dos sentidos (buddhīndriya ou jnanendriya): audição (śrotra), tato (tvak), visão (cakṣus), gosto (jihvā) e cheiro (ghrāṇa), os cinco órgãos de ação (karmendriya): fala (vāc), apreensão (pāṇi), locomoção (pāda), evacuação (pāyu) e procriação (upastha), e da mente (manas) ou décimo primeiro tattva que funciona como órgão de percepção bem como de sentido, são as formas particularizadas (viśeṣa) do não-particularizado (aviśeṣa) ego (ahaṃkara) que é caracterizado como sendo o 'senso do eu' (asmitā).
Estas são as dezesseis modificações particularizadas (viśeṣa) dos guṇas. As formas não particularizadas (aviśeṣa) são seis, ou seja, os elementos sutis do som, do toque, da cor, do gosto, e do cheiro que tem, respectivamente, um, dois, três, quatro e cinco características, enquanto a sexta é o mutável ego (ahaṃkara), 'senso do eu'. Estas seis são as seis formas do não diversificado puro 'senso do Eu' (mahat) que é apenas a consciência como existência ...

Este sutra é introduzido para determinar a natureza real do Puruṣa (vidente).
20- द्रष्टा दृशिमात्रः शुद्धोऽपि प्रत्ययानुपश्यः ॥२०॥
draṣṭā dṛśimātraḥ śuddho'pi pratyayānupaśyaḥ ॥20॥
द्रष्टा अपि शुद्ध अनुपश्य [draṣṭā api śuddha anupaśya] aquele que vê (puruṣa) embora puro percebe* प्रत्यय दृशि मात्र [pratyaya dṛśi mātra] as ideias e imagens (pratyaya) daquele que tem o poder da visão (buddhi)*
20- O Purusa (vidente), embora puro, testemunha como observador as ideias e imagens de Buddhi.

(Vyāsa): (O Puruṣa é o conhecedor absoluto) - A expressão 'conhecedor absoluto' significa percepção incondicionada. Este Puruṣa (vidente) é o refletor de buddhi. Ele não é nem similar nem diferente a buddhi. Não é semelhante, porque um objeto de conhecimento pode ser conhecido ou desconhecido por buddhi; portanto, buddhi é mutável. Os objetos de conhecimento, como vaca (animada), jarra (inanimado), embora existindo separadamente, são conhecidos pela coloração de buddhi e se tornam desconhecidos em caso contrário. Esse caráter de conhecer alguns objetos e não conhecer outros indica a natureza mutável de buddhi. Por outro lado, o fato de que o Puruṣa esteja sempre cônscio ilustra sua não mutabilidade, porque buddhi observado pelo Puruṣa não pode ser às vezes apreendido e às vezes não apreendido, ié. é sempre apreendido. Assim, a consciência sempre presente do Puruṣa é estabelecida, e a imutabilidade de puruṣa também é provada. Além disso, buddhi serve ao propósito do outro, uma vez que age em conjunto com outros, enquanto o Puruṣa é fim em si mesmo. Além disso, buddhi sendo a faculdade de gerar cognição inquestionável de todos os objetos, é composto dos três guṇas e é, em si mesmo, inconsciente. O Puruṣa é a testemunha ou observador dos guṇas. Ele é então diferente? ... É por isso que Pañchasikha disse: “A entidade suprema à qual as experiências são atribuídas não é mutável nem transmissível. Parece ser transmitida e seguir as modificações mutáveis de buddhi, que assim parece ser dotado de consciência, e assim a consciência pura parece ser idêntica a ele".

21- तदर्थ एव दृश्यस्यात्मा ॥२१॥
tadartha eva dṛśyasyātmā ॥21॥
आत्मा दृश्यस्य [ātmā dṛśyasya] natureza ou essência do visto (conhecível)* एव अर्थ तद् [eva artha tad] (é servir) como objeto dele (puruṣa)*
21- A natureza do conhecível é servir como objeto ao Puruṣa.

(Vyāsa): O cognoscível é dotado da propriedade de ser a experiência do Puruṣa; é por isso que ser objeto do (Puruṣa) é a essência ou natureza real do conhecível. A natureza do cognoscível é conhecida através do outro, ou seja, do Puruṣa. Quando a experiência e a liberação são cumpridas, o Puruṣa não mais testemunha isso. Portanto, sendo privado de sua natureza real (de ser o objeto do Puruṣa) ele deixa de existir, mas não é completamente destruído.

Por que não é destruído?
22- कृतार्थं प्रति नष्टमप्यनष्टं तदन्यसाधारणत्वात् ॥२२॥
kṛtārthaṃ prati naṣṭamapyanaṣṭaṃ tadanyasādhāraṇatvāt ॥22॥
अपि [api] embora* अर्थ [artha] objeto (o cognoscível)* नष्ट [naṣṭa] deixe de existir* तत् [tat] para aquele (puruṣa)* कृत [kṛta] realizado (que alcançou a liberação)* अनष्ट [anaṣṭa] ele não deixa de existir* साधारणत्वात् प्रति अन्य [sādhāraṇatvāt prati anya] por ser comum a outros (puruṣas)*
22- Embora o cognoscível deixe de existir para o Puruṣa que alcançou a liberação, ele não deixa de existir, já que é comum a outros Puruṣas.

(Vyāsa): Mesmo destruído (o cognoscível), ou seja, tendo desaparecido em relação a um Puruṣa cujo objetivo foi alcançado, ele não é realmente destruído, sendo comum a outros. Mesmo que destruído em referência a um Puruṣa que atingiu seu objetivo, a Puruṣas que não os atingiu, o caráter objetivo do cognoscível permanece não cumprido. Para eles, o cognoscível, permanecendo como objeto da experiência, é percebido pelo reflexo do outro. Assim, por causa do Conhecedor e do cognoscível estarem sempre presentes, sua aliança foi chamada de acrônica. Panchasikha disse a esse respeito: "Como a associação das causas constituintes primárias do mundo fenomenal (com o Puruṣa) é atemporal, os fenômenos associados a ele, também são atemporais".

Este sutra foi introduzido para determinar a natureza da aliança (saṃyoga),
23- स्वस्वामिशक्त्योः स्वरूपोपलब्धिहेतुः संयोगः ॥२३॥
svasvāmiśaktyoḥ svarūpopalabdhihetuḥ saṃyogaḥ ॥23॥
हेतु संयोग स्वामि स्व [hetu saṃyoga svāmi sva] a razão da aliança (saṃyoga) entre o puruṣa (proprietário) e prakṛti (do objeto de conhecimento)* उपलब्धि स्वरूप शक्ति [upalabdhi svarūpa śakti] é perceber sua verdadeira natureza (svarūpa) e os poderes (da prakṛti)*
23- A razão da aliança (saṃyoga) entre o Puruṣa (proprietário) e Prakṛti (objeto de conhecimento) é perceber sua verdadeira natureza (svarūpa) e os poderes (da Prakṛti).

(Vyāsa): O Puruṣa, o Self, está relacionado aos objetos como se fossem sua propriedade, o resultado desta aliança é a cognição (dos objetos). A cognição dos objetos, que ocorre como resultado da conexão, é experiência, enquanto a realização da natureza do Puruṣa (vidente) é a liberação. A conexão ou aliança dura até o momento da compreensão correta (ou discriminação) que, portanto, é considerada a causa da cessação dessa aliança. A não discriminação é entendida como a causa da aliança. Mas aqui o discernimento não é a causa direta da liberação (mokṣa). Ausência de não discernimento é a ausência de escravidão; isso é libertação. A compreensão errada, que é a causa da escravidão, é destruída pela discriminação. É por isso que a compreensão correta foi chamada de causa da liberação...

24- तस्य हेतुरविद्या ॥२४॥
tasya heturavidyā ॥24॥
अविद्या [avidyā] cognição errônea* हेतु [hetu] é a causa* तस्य [tasya] desta (aliança)*
24- Avidyā (cognição errônea), é a causa dessa aliança.

(Vyāsa): Viparyaya é a impressão subconsciente latente (vāsanā) do conhecimento falso. Os esforços de buddhi enredado com tais latências não se desenvolvem completamente em conhecimento iluminador do Puruṣa e, portanto, retornam à sua função anterior devido à sua inclinação para a flutuação. Quando o conhecimento do Puruṣa é alcançado, a função de buddhi termina. Então, tendo cumprido sua função e estando livre de falsa compreensão e não tendo nenhuma causa de escravidão, ela não aparece novamente. Alguns opositores ridicularizam a proposição citando a história de um marido impotente. Uma esposa devotada se dirigiu ao marido: "Meu marido, minha irmã tem um filho, por que eu não tenho um?" O impotente respondeu: "Depois do renascimento, eu gerarei uma criança para você." Da mesma forma, esse conhecimento, enquanto existente, não faz com que a mente pare de agir; Que esperança há então que causará cessação quando suprimido? Em resposta a essa crítica, o sábio diz: 'A cessação da operação da buddhi é mokṣa. Quando a causa na forma de adarśana (falta de conhecimento discriminativo) é removida, as atividades de buddhi param. Essa causa de escravidão, ié. adarśana é removida por darśana (ou seja, conhecimento discriminativo). Com efeito, a cessação das atividades da mente é mokṣa. Não há, portanto, espaço para tal confusão de pensamento.

25-तदभावात् संयोगाभावो हानं तद्दृशेः कैवल्यम् ॥२५॥
tadabhāvāt saṃyogābhāvo hānaṃ taddṛśeḥ kaivalyam ॥25॥
अभावात् तद् [abhāvāt tad] pela remoção desta (avidyā - concepção errada)* संयोग अभाव [saṃyoga abhāva] a aliança (com prakṛti) é removida* तद् हान कैवल्य दृशिः [tad hāna kaivalya dṛśi] essa remoção leva ao isolamento (kaivalya) do vidente (puruṣa)*
25- Pela remoção dessa concepção errada (avidyā) a aliança com prakṛti é removida. Essa supressão leva ao isolamento (kaivalya) do vidente (Puruṣa).

(Vyāsa): Quando adarśana (cognição errada) acaba, a conexão entre Buddhi e o Puruṣa termina e há cessação completa da servidão para sempre, que é a separação do vidente, ou seja, o estado de isolamento do Puruṣa e a não recorrência de contato futuro com os guṇas. A cessação da miséria que resulta do término da causa da miséria (kleśas) é liberação. Nesse estado, o Puruṣa permanece estabelecido em si mesmo.

Qual é o caminho para a liberação?
26- विवेकख्यातिरविप्लवा हानोपायः ॥२६॥
vivekakhyātiraviplavā hānopāyaḥ ॥26॥
अविप्लवा विवेक ख्याति [aviplavā viveka khyāti] o irrestrito conhecimento discriminativo* उपाय हान [upāya hāna] é o meio para a liberação*
26- O irrestrito conhecimento discriminativo (viveka-khyāti) é o meio para a liberação (kaivalya).

(Vyāsa): O conhecimento da distinção entre Buddhi e o Puruṣa é o conhecimento discriminativo, que é obstruído pela persistente avidyā. Quando a falsa cognição atinge o estado de uma semente queimada estéril, então, através de Buddhi ao alcançar a pureza pela remoção de impurezas aflitivas, o yogin alcança o estágio superior da renúncia conhecido como Vasikarasanjna, e o curso desta concepção de discriminação se torna clara. Essa irrestrita iluminação discriminativa é meio para a liberação. A partir dessa (iluminação discriminativa) segue o estado de semente seca da ignorância e da cessação de seu poder germinativo. Este é o caminho para Mokṣa ou meio para a libertação.

27- तस्य सप्तधा प्रान्तभूमिः प्रज्ञा ॥२७॥
tasya saptadhā prāntabhūmiḥ prajñā ॥27॥
तस्य [tasya] para ele (que adquiriu a iluminação discriminativa - viveka-khyāti)* सप्तधा भूमि प्रान्त [saptadhā bhūmi prānta] (vem) os sete tipos superiores* प्रज्ञा [prajñā] de insight*
27- Para o yogin que adquiriu a iluminação discriminativa (viveka-khyāti) vem os sete tipos superiores de insight (prajñā).

(Vyāsa): Os śāstras (textos autorizados) apresentam explicações a respeito da obtenção do conhecimento discriminativo por um yogin. Pela limpeza das impurezas que agem como véu sobre a mente, outros tipos de concepções (dispersivas) não crescem nela, o discriminador adquire sete tipos de percepção final. Essas são: (1) o que deve ser abandonado é conhecido, não há mais nada a saber nesta direção; (2) as causas do crescimento das coisas a serem atenuadas, elas não precisam ser mais refreadas; (3) a liberação torna-se uma questão de realização através de Nirodha Samadhi (Samadhi da mente suprimida); (4) a iluminação discriminativa (viveka-khyāti) é reconhecida como um meio para a liberação. Esses quatro insights referem-se à libertação da ação, enquanto aqueles relacionados à liberação da mente são de três tipos, ié. (5) Buddhi que completou sua função; (6) os atributos de Buddhi, que tendo sido desalojados como pedregulhos do topo de uma colina, caminham para a dissolução e se fundem com sua causa (pradhāna), de onde não ressurgirão por falta de motivo; (7) no sétimo estado, insight que revela o Puruṣa em seu estado próprio, puro, auto luminoso e além de qualquer relação com os guṇas. Quando esses sete tipos de insight são alcançados, o yogin pode ser chamado de kuśala ou competente. Quando a mente desaparece, o yogin pode ser chamado de muktaḥ kuśala ou o liberado, porque ele transcende os guṇas.

28- योगाङ्गानुष्ठानादशुद्धिक्षये ज्ञानदीप्तिरा विवेकख्यातेः ॥२८॥
yogāṅgānuṣṭhānādaśuddhikṣaye jñānadīptirā vivekakhyāteḥ ॥28॥
क्षये अशुद्धि [kṣaye aśuddhi] após a destruição das impurezas* अनुष्ठान अङ्ग योग [anuṣṭhāna aṅga yoga] através da prática dos componentes do yoga* दीप्ति ज्ञान [dīpti jñāna] (surge a) luminosidade do conhecimento* विवेक ख्याति [viveka khyāti] que culmina em viveka khyāti (iluminação discriminativa)*
28- Após a destruição de impurezas através da prática dos componentes do yoga, surge a luminosidade do conhecimento que culmina na iluminação discriminativa (viveka khyāti).

(Vyāsa): As etapas (aṅgas) do yoga, que serão mencionados, são oito em número. Através de sua prática, as impurezas na forma de cinco tipos de avidyā (ignorância, cognição errônea) são reduzidas ou destruídas. Com sua diminuição, o conhecimento verdadeiro se manifesta. À medida que as práticas são realizadas, as impurezas são atenuadas e correspondentemente o brilho do conhecimento aumenta até que a iluminação discriminativa seja alcançada, ou seja, o conhecimento da verdadeira natureza da distinção entre o Puruṣa e os guṇas. A prática dos yogangas (etapas do yoga) é o meio de erradicar as impurezas como um machado é o meio de cortar madeira. E como a virtude é o meio para obter felicidade, a prática dos yogangas é o meio de aquisição do conhecimento discriminativo. O yoga não deve ser praticado sem uma sólida razão.
Quantos tipos de causas foram mencionados nos śāstras? Existem nove: (causa de) origem, (causa de) sustento, (causa de) manifestação, (causa de) mutabilidade, (causa de) conhecimento, (causa de) aquisição, (causa de) erradicação, (causa de) diversidade, e (causa de) retenção. Origem: a mente é a origem do conhecimento. Sustento: servir aos objetivos do Puruṣa sustenta a mente como o alimento sustenta o corpo. Manifestação: formas visíveis são manifestadas pela luz e por sua cognição (por ação reflexa, como "eu estou sabendo ou vendo"). Mutabilidade: alternar a mente de um objeto para outro produz modificações mentais como aquela do fogo que transforma os alimentos crus em cozidos. Conhecimento: a existência do fogo é inferida pela visão da fumaça. Aquisição: a prática de exercícios de yoga leva ao conhecimento discriminativo. Erradicação: o conhecimento discriminativo resulta na destruição de impurezas. Diversidade: o ourives produz diversos artigos de ouro. Retenção: o corpo retém os órgãos e os órgãos retêm o corpo. Da mesma forma, os elementos grosseiros sustentam o corpo e também se sustentam. Cada uma das espécies, animal, homem e deva, estando inter-relacionadas, cada uma é a causa do apoio, uma da outra. Estas são as nove causas. Estas também são aplicáveis mutatis mutandis a outros casos. Assim a prática dos exercícios do yoga serve como causa de dois modos - separação e aquisição.

Neste sutra, é apresentado o aṣṭāṅga yoga.
29- यमनियमासनप्राणायामप्रत्याहारधारणाध्यानसमाधयोऽष्टावङ्गानि ॥२९॥
yamaniyamāsanaprāṇāyāmapratyāhāradhāraṇādhyānasamādhayo'ṣṭāvaṅgāni ॥29॥
यम [yama] restrições, autocontrole* नियम [niyama] disciplina, observâncias* आसन [āsana] postura* प्राणायाम [prāṇāyāma] controle da respiração* प्रत्याहार [pratyāhāra] abstração dos sentidos* धारणा [dhāraṇā] concentração, uni direcionamento da mente* ध्यान [dhyāna] meditação, ininterrupta concentração mental* समाधि [samādhi] perfeita concentração, absorção* अष्ट अङ्ग [aṣṭa aṅga] (são) os oito membros (para atingir o yoga)*
29- Yama (restrição), niyama (disciplina), āsana (postura), prāṇāyāma (regulação da respiração), pratyāhāra (abstração dos sentidos), dhāraṇā (concentração), dhyāna (meditação) e samādhi (absorção) são os oito meios para atingir o Yoga.

(Vyāsa): O método de sua prática e sua natureza serão descritos após, um por um.

30- अहिंसासत्यास्तेयब्रह्मचर्यापरिग्रहा यमाः ॥३०॥
ahiṃsāsatyāsteyabrahmacaryāparigrahā yamāḥ ॥30॥
अहिंसा [ahiṃsā] não violência* सत्य [satya] veracidade* अस्तेय [asteya] honestidade* ब्रह्मचर्य [brahmacarya] continência* अपरिग्रह [aparigraha] desapego, não possessividade* यम [yama] (são os cinco) yamas (restrições)*
30- Ahimsa (não violência), satya (veracidade), asteya (honestidade), bramacharya (continência) e aparigraha (desapego) são os cinco yamas (restrições).


(Vyāsa): Destes, ahiṃsā é abster-se de ferir qualquer ser, a qualquer momento e de qualquer maneira. A veracidade e outras formas de restrições e observâncias são baseadas no espírito da não-injúria. Eles, sendo os meios para o cumprimento da não-injúria, foram recomendados nos śāstras para intensificar ahiṃsā. Diz-se nos śāstras: “Como um brâmane avança com o cultivo das muitas virtudes prescritas para ele, ele se abstém de atos de injúria para os outros devido a mal-entendidos ou ignorância e assim purifica-se com a virtude da não injúria (ahiṃsā)". Satya (veracidade) é a correspondência da fala e da mente com o fato, ou seja, dizer e pensar, exatamente, sobre o que foi visto, ouvido ou inferido. As palavras proferidas com o propósito de comunicar os pensamentos para os outros devem ser verdadeiras, não enganosas ou ilusórias, ou sem sentido. Asteya significa tomar ilegalmente coisas pertencentes a outros, portanto, asteya é a abstenção de tais tendências, mesmo mentalmente. Brahmacārya (continência) é o controle do órgão da geração. Aparigraha (desapêgo) significa renunciar a posse das coisas ao perceber que adquiri-las e preservá-las implica apego a elas, estando sujeitas a sua perda e ao sofrimento. Estes cinco constituem os yamas ou restrições.

31- जातिदेशकालसमयानवच्छिन्नाः सार्वभौमा महाव्रतम् ॥३१॥
jātideśakālasamayānavacchinnāḥ sārvabhaumā mahāvratam ॥31॥
महा व्रत [mahā vrata] (esses cinco) grandes preceitos* सार्व भौमा [sarva bhaumā] (são) universais* अनवच्छिन्न [anavacchinna] não limitados por* जाति [jāti] nascimento, classe* देश [deśa] lugar* काल [kāla] tempo* समया [samaya] circunstância*
31- Esses cinco grandes preceitos (yamas) são universais, não limitados por classe, lugar, tempo ou circunstância.

(Vyāsa): O exemplo de não violência relacionada à classe é o caso de um pescador que mata só se for peixe. A inofensividade limitada ao lugar é não matar apenas em locais sagrados, enquanto que a limitação ao período é a observância de não matar em um determinado dia sagrado. A inofensividade, embora não seja tão limitada, pode ser restringida pela ideia de dever, por ex. a observância do sacrifício de animais apenas para invocar divindades e não para qualquer outra finalidade. Outra instância é da classe militar (kṣatriya) que comete violência na guerra por dever, e pratica a inofensividade em outros momentos. Assim, as restrições, a inofensividade, a verdade etc. devem ser observadas universalmente, independentemente de classe, local, período ou dever costumeiro. Quando são observados em todos os casos, em todos os assuntos sem falhas, atingem a universalidade e são chamados de grandes votos.

32- शौचसंतोषतपःस्वाध्यायेश्वरप्रणिधानानि नियमाः ॥३२॥
śaucasaṃtoṣatapaḥsvādhyāyeśvarapraṇidhānāni niyamāḥ ॥32॥
शौच [śauca] higiene física e mental* संतोष [saṃtoṣa] satisfação, contentamento* तपस् [tapas] austeridade, ascese* स्वाध्याय [svādhyāya] estudos (das escrituras) que levam ao conhecimento do Self* श्वरप्रणिधान [īśvarapraṇidhāna] devoção a īśvara (deus)* नियमाः [niyamā] disciplina, observâncias*
32- Śauca (higiene física e mental), saṃtoṣa (satisfação), tapas (austeridade, ascese), svadhyaya (estudo das escrituras e inflexão dos mantras) e īśvara-praṇidhāna (devoção a Deus) são os Niyamas.

(Vyāsa): Destes, vem a higiene (śauca) do corpo e da mente, incluindo o consumo de alimentos puros, etc. A satisfação implica ausência de desejo de possuir bens além das necessidades imediatas para manter a vida. As austeridades significam a capacidade de suportar dores extremas como fome e sede, calor e frio, e manter postura estável, firmemente, por longo tempo; incluindo as práticas de kāṣṭha-mauna ou ausência de todas as expressões e akāra-mauna ou silêncio. Svadhyaya inclui o estudo dos śastras relativos à libertação do Self e repetição do praṇava Oṃ. Īśvara-praṇidhāna significa dedicação de todas as ações a Deus. "Seja descansando na cama, sentado ou andando, o yogin estabelecido em si mesmo, com as dúvidas dissipadas, vê a causa da existência mundana enfraquecendo e, assim, torna-se sereno com o privilégio de desfrutar a bem-aventurança imortal". O autor dos aforismos disse (em 1.29): "Por (īśvara-praṇidhāna) os obstáculos são removidos, assim vem a realização do Self ".

33- वितर्कबाधने प्रतिपक्षभावनम् ॥३३॥
vitarkabādhane pratipakṣabhāvanam ॥33॥
बाधन [bādhana] (quando) atormentado* वितर्क [vitarka] por pensamentos impróprios* प्रतिपक्ष भावन [pratipakṣa bhāvana] deve-se cultivar pensamentos opostos*
33- Quando atormentado por pensamentos impróprios, deve-se cultivar pensamentos opostos (pratipakṣa bhāvana).

(Vyāsa): Quando o conhecedor de Brahman experimenta sentimentos de ódio, etc., e é torturado pelas ardentes e agonizantes paixões que levam a uma conduta errada, como "Eu mato aquele que me agrediu, falarei mentiras, tomarei as suas coisas, eu cometerei adultério com sua esposa, tomarei coisas pertencentes a outros", deve cultivar pensamentos contrários. Ele deveria contemplar: 'queimado nas impiedosas brasas dos ciclos de nascimentos, refugiei-me nas virtudes do yoga prometendo segurança a todos os seres vivos'... Esse tipo de pensamento oposto ou contrário deve ser praticado também em relação aos métodos prescritos nos outros Sutras.

34- वितर्का हिंसादयः कृतकारितानुमोदिता लोभक्रोधमोहपूर्वका मृदुमध्याधिमात्रा दुःखाज्ञानानन्तफला इति प्रतिपक्षभावनम् ॥३४॥
vitarkā hiṃsādayaḥ kṛtakāritānumoditā lobhakrodhamohapūrvakā mṛdumadhyādhimātrā duḥkhājñānānantaphalā iti pratipakṣabhāvanam ॥34॥
वितर्क हिंसा अदय [vitarka hiṃsā ādaya] os pensamentos impróprios de violência etc.* कृत अनुमोदित कारित [kṛta anumodita kārita] (que podem ser pessoalmente) realizados autorizados ou executados por outros* पूर्वक लोभ क्रोध मोह [pūrvaka lobha krodha moha] provenientes da ganância da ira e da delusão ou ignorância* मृदु मध्य अधिमात्र [mṛdu madhya adhimātrā] (e que podem ser de intensidade) leve moderada ou extrema* फा दुःख अनन्त अज्ञान [phalā duḥkha ananta ajñāna] resultam em sofrimento e imensa ignorância* इति प्रतिपक्ष भावन [iti pratipakṣa bhāvana] então (deve-se) cultivar pensamentos opostos*
34- Os Pensamentos negativos de violência, etc. que podem ser pessoalmente realizados, autorizados ou executados por outros; provenientes da ganância, da ira e da delusão; e que podem ser de intensidade leve, moderada ou extrema; resultam em dor e imensa ignorância; deve-se, então, cultivar pensamentos opostos.

(Vyāsa): Destes, a injúria pode ser de três tipos, seja feita diretamente, feita por outro ou aprovada quando feita por outro. Através da ganância (como matar um animal) para vender a pele e a carne; através da raiva como "este homem me fez mal, portanto deve ser espancado"; através da delusão (falsidade) como no sacrifício de animais para adquirir mérito. Ganância, raiva e delusão podem ser de três tipos - leve, moderada e intensa ... Pensar que "essas perversidades produzem consequências infinitas de dor e ignorância" é (uma forma de) pensamento contrário. Além disso, o injuriador (assassino de animais) primeiro reduz o poder da vítima (por exemplo, amarrando-o), depois inflige dor pelas armas e, finalmente, priva-o da vida. E por causa de enfraquecer a vítima, o injuriador perderá o vigor de seu corpo e sentidos; por conta de causar dor, ele sofrerá indo para as regiões infernais ou renascendo como animal ou espírito maligno; e por matar ele sofrerá de uma doença fatal até o final da vida, e embora ore pela morte, ele continuará vivendo. Se de alguma forma o espírito de dano é removido ou suprimido através da piedade, ele pode ter felicidade, embora seja de curta duração. Esta linha de argumentação é aplicável a inverdades, roubos, etc., tanto quanto possível. Pensando assim nos inevitáveis efeitos malignos de pensamentos e ações perversas, a mente nunca mais deveria se envolver neles. Pensamentos perversos devem ser abandonados através dos pensamentos contrários.

Quando (pela prática de pensamentos opostos) os pensamentos perversos como os de injúria etc. tornam-se estéreis (como sementes torradas), então o poder adquirido pelo yogin indica seu sucesso.
35- अहिंसाप्रतिष्ठायां तत्सन्निधौ वैरत्यागः ॥३५॥
ahiṃsāpratiṣṭhāyāṃ tatsannidhau vairatyāgaḥ ॥35॥
सन्निधि तद् प्रतिष्ठाय अहिंसा [sannidhi tad pratiṣṭhāya ahiṃsā] em sua presença (do yogin que está) firmemente estabelecido em ahiṃsā* वैर त्याग [vaira tyāga] a hostilidade desaparece*
35- Na presença do yogin que está firmemente estabelecido na não violência (ahiṃsā), a hostilidade desaparece.

(Vyāsa): Isto é válido para todos os seres vivos.

36- सत्यप्रतिष्ठायां क्रियाफलाश्रयत्वम् ॥३६॥
satyapratiṣṭhāyāṃ kriyāphalāśrayatvam ॥36॥
सत्य [satya] (quando a) veracidade* प्रतिष्ठाय [pratiṣṭhāya] se estabelece* आश्रयत्व फला क्रिया [āśrayatva phalā kriyā] é assegurada a fruição da ação (as palavras do yogin se realizam)*
36- Quando a veracidade se estabelece, as palavras do yogin se realizam.

(Vyāsa): As palavras de alguém que está estabelecido na verdade tornam-se infalíveis, por exemplo, se ele diz para uma pessoa 'seja virtuosa', ela se torna virtuosa, se ele diz 'vá para o céu' ela vai para o céu.

37- अस्तेयप्रतिष्ठायां सर्वरत्नोपस्थानम् ॥३७॥
asteyapratiṣṭhāyāṃ sarvaratnopasthānam ॥37॥
अस्तेय [asteya] (quando a) honestidade* प्रतिष्ठाय [pratiṣṭhāya] (é) firmemente estabelecida* सर्व [sarva] toda* रत्न [ratna] riquesa* उपस्थान [upasthāna] se apresenta (ao yogin)*
37- Quando a honestidade é firmemente estabelecida, toda a riqueza vem para o yogin.

(Vyāsa): Bens de todas as partes vêm para ele.

38- ब्रह्मचर्यप्रतिष्ठायां वीर्यलाभः ॥३८॥
brahmacaryapratiṣṭhāyāṃ vīryalābhaḥ ॥38॥
ब्रह्मचर्य [brahmacarya] continência* प्रतिष्ठाय [pratiṣṭhāya] firmemente estabelecido* वीर्य [vīrya] vīrya (vitalidade, dignidade)* लाभः [lābhaḥ] aquisição*
38- Quando brahmacarya (continência) é estabelecido, vīrya é adquirido.

(Vyāsa): Através do poder adquirido, poderes desimpedidos como minificação etc. são aperfeiçoados, e sendo dotado de faculdade inata, ele é habilitado a desenvolver o conhecimento nas mentes de seus discípulos. O poder desimpedido inclui conhecimento, ação e poder desobstruídos, como o poder de minificação ou redução de si mesmo a uma pequena partícula. A incontinência priva os nervos etc. de poderes vitais. A prática da continência evita a perda de vitalidade e aumenta virya ou energia [ver I. 20], levando assim gradualmente ao acúmulo de poderes desimpedidos. E tendo obtido o conhecimento, ele é capaz de induzí-lo em seus discípulos. As palavras de sabedoria de uma pessoa incontinente não penetram profundamente na mente de um discípulo. A mera abstenção do ato sexual enquanto se entrega à comida e ao sono não leva ao estabelecimento da continência. A continência não pode ser alcançada a menos que a produção natural da semente do corpo seja verificada pela abstenção de pensamentos sobre objetos de desejo por meio de um controle firme sobre a mente e dieta e sono controlados.

39- अपरिग्रहस्थैर्ये जन्मकथंतासम्बोधः ॥३९॥
aparigrahasthairye janmakathaṃtāsambodhaḥ ॥39॥
अपरिग्रह स्थैर्य [aparigraha sthairya] (quando o) desapego (se torna) firmemente estabelecido* सम्बोध [sambodha] (surge) o conhecimento* कथन्ता [kathaṃtā] do como e dos porquês* जन्म [janma] dos nascimentos*
39- Quando o desapego se torna firmemente estabelecido, surge o conhecimento do como e dos porquês dos nascimentos.

(Vyāsa): Questionamentos sobre os estados passados, presentes e futuros do corpo, nas formas de 'Quem era eu e o que eu era? O que é esse corpo? Como surgiu? O que serei no futuro? Como vai ser? são resolvidos corretamente por um yogin. Os poderes mencionados anteriormente são desenvolvidos quando forem estabelecidos os yamas (restrições).

40- शौचात् स्वाङ्गजुगुप्सा परैरसंसर्गः ॥४०॥
śaucāt svāṅgajugupsā parairasaṃsargaḥ ॥40॥
शौचा [śauca] (através da) purificação* जुगुप्सा [jugupsā] (surge a) aversão* स्वाङ्ग [sva-aṅga] ao próprio corpo* असंसर्ग पर [asaṃsarga para] (e ao) contato com outros (corpos)*
40- Através da purificação, surge aversão ao próprio corpo e ao contato com outros corpos.

(Vyāsa): Quando surge a aversão ao próprio corpo, o yogin praticando a purificação, percebe as imperfeições do corpo e perde o amor por ele. Além disso, desenvolve-se um desgosto pela companhia de outros, porque quem desenvolveu aversão ao seu próprio corpo, percebendo que não pode limpá-lo adequadamente, mesmo por ablução, etc. acha impossível entrar em contato com o corpo impuro de outra pessoa.

41- सत्त्वशुद्धिसौमनस्यैकाग्र्येन्द्रियजयात्मदर्शन योग्यत्वानि च ॥४१॥
sattvaśuddhisaumanasyaikāgryendriyajayātmadarśana-yogyatvāni ca ॥41॥
शुद्धि सत्त्व (śuddhi sattva) (com a) purificação da mente* सौमनस्य [saumanasya] (obtém-se) alegria* एक अग्र्य [eka agrya] uni direcionamento (mental)* जय इन्द्रिय [jaya indriya] controle dos sentidos* च [ca] e* योग्यत्व [yogyatva] aptidão* दर्शन आत्म [darśana ātma] para perceber o Self*
41- Com a purificação da mente obtém-se, alegria, uni direcionamento mental, controle dos sentidos e aptidão para perceber o Self.

(Vyāsa): O yogin, praticando a depuração, obtém a purificação do coração, que leva à felicidade mental ou ao sentimento espontâneo de alegria. Da serenidade mental desenvolve-se a concentração que leva à subjugação dos sentidos. Da subjugação dos órgãos dos sentidos, buddhi (puro 'senso do Eu') desenvolve o poder de compreender o Self. Todos estes são alcançados pela conquista da purificação.

42- संतोषादनुत्तमसुखलाभः ॥४२॥
saṃtoṣādanuttamasukhalābhaḥ ॥42॥
संतोष [saṃtoṣa] do contentamento* अनुत्तम [anuttama] insuperável* सुख [sukha] felicidade* लाभ [lābha] é conquistada*
42- Do contentamento, insuperável felicidade é conquistada.

(Vyāsa): Foi dito a respeito disso: "A felicidade obtida nesta terra através do desfruto dos objetos desejados, ou a suprema alegria celestial, não é nem uma ínfima parte da felicidade causada pela cessação dos desejos".

43- कायेन्द्रियसिद्धिरशुद्धिक्षयात् तपसः ॥४३॥
kāyendriyasiddhiraśuddhikṣayāt tapasaḥ ॥43॥
क्षय [kṣaya] (através da) destruição* अशुद्धि [aśuddhi] das impurezas* तपस् [tapas] (a prática) das austeridades* सिद्धि [siddhi] (leva à) perfeição* काय [kāya] do corpo* इन्द्रिय [indriya] e dos órgãos dos sentidos*
43- Através da destruição de impurezas, a prática das austeridades (tapas) leva à perfeição do corpo e dos órgãos dos sentidos.

(Vyāsa): Quando as austeridades são praticadas, o véu da impureza é removido. Então o corpo atinge a perfeição (siddhi) na forma de aṇimā (minimização do corpo) etc. e dos órgãos nas formas de clariaudiência, clarividência, etc.

44- स्वाध्यायाद् इष्टदेवतासंप्रयोगः ॥४४॥
svādhyāyād iṣṭadevatāsaṃprayogaḥ ॥44॥
स्वाध्याय [svādhyāya] com o estudo sobre o Self* संप्रयोग [saṃprayoga] (é estabelecida) a conexão* इष्टदेवता [iṣṭadevatā] com a divindade eleita*
44- Com o estudo do Self, é estabelecida a conexão com a divindade escolhida.

(Vyāsa): Os seres celestiais, os sábios e os siddhas tornam-se presentes para o yogin que pratica svādhyāya, e as necessidades do yogin são cumpridas por eles. ["Normalmente, durante a repetição (japa) do mantra (ou a palavra simbólica de Deus) o pensamento não permanece fixo em seu significado. A pessoa que executa o japa pode estar repetindo as palavras sem rumo, com sua mente vagando em outro lugar. Quando o svādhyāya é estabelecido, a fórmula e a ideia por trás dele se apresentam ininterruptamente diante da mente. As divindades invocadas com tanto ardor e fé certamente aparecerão diante do devoto. A invocação de Deus feita às vezes com sinceridade, às vezes mecanicamente com a mente preocupada com assuntos mundanos, não produz o resultado desejado.] (S.H.A.).

45- समाधिसिद्धिरीश्वरप्रणिधानात् ॥४५॥
samādhisiddhirīśvarapraṇidhānāt ॥45॥
ईश्वरप्रणिधान [īśvarapraṇidhāna] pela devoção a īśvara* सिद्धि [siddhi] (vem a) realização* समाधि [samādhi] do samādhi*
45- Pela devoção a Īśvara, vem a realização do samādhi.

(Vyāsa): O yogin, que dedica todos os seus pensamentos a Deus, alcança o samādhi. Com a obtenção do samādhi, o yogin conhece tudo que é desejável conhecer, o que ocorreu em outra vida, em outro lugar ou em outro momento ou até mesmo o que está acontecendo no presente. Assim, sua iluminação revela as coisas como elas são.

46- स्थिरसुखम् आसनम् ॥४६॥
sthirasukham āsanam ॥46॥
असन [āsana] āsana (é uma postura)* स्थिर [sthira] firme* सुखम [sukha] e confortável*
46- Āsana é uma postura firme e confortável.

(Vyāsa): Elas são as seguintes: padmasana, virasana, bhadrasana, svastikasana, dandasana, sopasraya, parianka, krauncha (garça) nisadana, hasti (elefante) nisadana, ustra (camelo) nisadana e sama samsthana. Quando mantidas confortavelmente, elas são chamadas asanas (do yoga).

47- प्रयत्नशैथिल्यानन्तसमापत्तिभ्याम् ॥४७॥
prayatnaśaithilyānantasamāpattibhyām ॥47॥
शैथिल्य प्रयत्न [śaithilya prayatna] (os āsanas chegam à perfeição) pelo relaxamento do esforço (para realizá-los)* समापत्तिभ्याम् अनन्त [samāpattibhyām ananta] e meditando no infinito*
47- Os āsanas chegam à perfeição pelo relaxamento do esforço e meditando no infinito.

(Vyāsa): Pelo relaxamento do corpo, o āsana é aperfeiçoado; cessando a agitação dos membros (que é um obstáculo ao samādhi); e fixando a mente no infinito vem a perfeição (siddhi) do āsana.

48- ततो द्वन्द्वानभिघातः ॥४८॥
tato dvandvānabhighātaḥ ॥48॥
ततस् [tatas] a partir disso* अनभिघात [anabhighāta] (o yogin) não é afetado* द्वन्द्व [dvandva] pelos pares de opostos*
48- A partir disso, o yogin não é afetado pelos pares de opostos.

(Vyāsa): Quando a perfeição no āsana é alcançada, o praticante não é afetado pelas condições opostas, como calor e frio, etc.

49- तस्मिन्सति श्वासप्रश्वासयोर्गतिविच्छेदः प्राणायामः ॥४९॥
tasminsati śvāsapraśvāsayorgativicchedaḥ prāṇāyāmaḥ ॥49॥
तस्मिन् सति [tasmin sati] quando é (dominado - āsana)* प्राणायाम [prāṇāyāma] (segue o) prāṇāyāma* विच्छेद र्गति [viccheda gati] (que é) a suspensão do fluxo* श्वास प्रश्वास [śvāsa praśvāsa] de inalação e exalação*
49- Quando āsana é dominado, segue prāṇāyāma que é a suspensão do fluxo de inalação e exalação.

(Vyāsa): Āsana tendo sido aperfeiçoado, a suspensão de qualquer um dos processos de inspirar o ar externo e exalar o ar interno constitui prāṇāyāma. ["O Pranayama mencionado neste Yoga não é o mesmo que os mencionados no Hathayoga como exalação (rechaka), inalação (puraka) e suspensão (kumbhaka). Alguns comentaristas tentaram fazer os dois corresponderem. mas isso não é adequado. Se o ar não for expelido após a inalação, há uma cessação do movimento da respiração; este é um Pranayama. Da mesma forma, se após a expulsão do ar, o movimento da respiração for suspenso, isso também é um Pranayama. É a suspensão da respiração, após a inspiração ou expiração, que constitui um Pranayama. Pranayamas devem ser praticados um após o outro. Uma descrição do Pranayama como suspensão após a expiração foi dada no Sutra I.34.
Pranayama pode ser realizado após o asana ter sido aperfeiçoado. Pranayama pode ser praticado antes mesmo que o Asana tenha sido aperfeiçoado se o corpo se estabilizar no Asana e a mente estiver ocupada com uma sensação de vazio, ou qualquer outra forma de pensamento tranquilo. Pranayama praticado com a mente inquieta não pode ser considerado parte do Yoga. Pranayama não conduz ao Samadhi a menos que a firmeza do corpo e a concentração da mente em um objeto sejam mantidas juntamente com a suspensão da respiração. É por isso que o asana é necessário desde o início. A contemplação em Deus, ou em um sentimento de vazio físico ou mental, ou em um sentimento de luminosidade dentro do coração, deve ser praticada a cada respiração que entra e sai. Em outras palavras, o objeto contemplado deve estar presente na mente durante cada ato de inalação e exalação, que deve ser encarado como as causas predisponentes da concentração da mente; assim, a respiração e a pacificação da mente devem ser sincronizados através da prática. Quando isso é dominado, a suspensão do movimento (da respiração) deve ser praticada. Durante esta prática, a mente também deve ser mantida fixa no objeto de contemplação. Ou seja, a suspensão da respiração e a fixação da mente no objeto de concentração devem ser feitas como um único esforço. Ou a mente deve ser mantida fixa no objeto de meditação pelo mesmo esforço pelo qual a suspensão é alcançada com a sensação de que o próprio objeto está sendo mantido, por assim dizer, firmemente em um abraço mental. Se as flutuações da mente permanecerem suspensas enquanto a suspensão da respiração for mantida, um verdadeiro pranayama é realizado. Dharana (fixação da mente em um objeto) deve ser praticado com a ajuda desta forma de Pranayama executada uma após a outra. No Samadhi, porém, a respiração se reduz progressivamente e se torna imperceptível, ou mesmo totalmente suspensa. O significado deste aforismo é: A suspensão do movimento do ar, entrando na inspiração e saindo na expiração, é Pranayama. As várias maneiras pelas quais essa suspensão pode ser praticada serão mostradas no próximo aforismo."] (S.H.A.).

50- बाह्याभ्यन्तरस्तम्भवृत्तिर्देशकालसंख्याभिः परिदृष्टो दीर्घसूक्ष्मः ॥५०॥
bāhyābhyantarastambhavṛttirdeśakālasaṃkhyābhiḥ paridṛṣṭo dīrghasūkṣmaḥ ॥50॥
वृत्ति [vṛtti] (prāṇāyāma se manifesta como) movimentos* बाह्य अभ्यन्तर स्तम्भ [bāhya abhyantara stambha] externos internos e supressão (da repiração)* दीर्घ सूक्ष्म [dīrgha sūkṣma] (eles são) prolongados ou sutis* परिदृष्ट [paridṛṣṭa] e são regulados* देश काल संख्या [deśa kāla saṃkhyā] (de acordo com o) lugar tempo e número*
50- Prāṇāyāma se manifesta como movimentos externos, internos e supressão (da respiração). Eles são prolongados ou sutis e regulados de acordo com o lugar, o tempo e o número.

Vyāsa): O que leva à suspensão do movimento após a expiração é uma operação externa, ou bāhya-vṛtti prāṇāyāma. Aquilo que causa suspensão após a inalação é uma operação interna, ou abhyantara-vṛtti prāṇāyāma. O terceiro é supressão ou stambha-vṛtti; Neste caso, os outros dois (isto é, as operações externas e internas) estão ausentes. Isso é efetuado por um único esforço. Assim como a água que cai sobre uma pedra quente evapora completamente por todos os lados, assim (no terceiro, ou supressão), as outras duas operações desaparecem simultaneamente. Essas três operações, são reguladas por (1) espaço, (cada uma) lida com uma certa quantidade de espaço. (2) tempo, isto é, de acordo com o cálculo de momentos (kṣaṇa), e (3) número, ié. tantas respirações de entrada e de saída constituem o primeiro ciclo, tantos números constituem o segundo ciclo, similarmente, o terceiro ciclo. Novamente, eles são leves, moderados e intensos. Este é o prāṇāyāma regulado de acordo com o número. O prāṇāyāma se torna longo ou sutil depois que alguém se habitua a ele. ["As palavras 'Rechaka' (expulsão de ar), 'Puraka' (inspiração de ar) e 'Kumbhaka' (suspensão de ar) não foram usadas nos tempos antigos no sentido em que são entendidas agora. então, o autor dos Sutras certamente os teria usado. Eles foram cunhados mais tarde. Operação externa (Vahya-vrtti), operação interna (Abhyantara-vrtti) e supressão (Stambha-vrtti) essas três não são o mesmo que expulsão de ar (Rechaka), inspiração (Puraka) e suspensão da respiração (Kumbhaka) O autor do Bhasya descreveu a operação externa como falta de movimento após a expiração. Isso não é o mesmo que expulsão de ar (Rechaka). uma forma de exalação. Na verdade, comentaristas posteriores apenas tentaram reconciliar as formas mais recentes com as práticas mencionadas neste comentário. Mas nenhum conseguiu reconciliá-las. Interpretando a palavra 'Gatyabhava' (suspensão do movimento) como 'suspensão do movimento natural' , algum tipo de afinidade entre 'Rechaka-Puraka' e da operação externa etc. podem ser encontrados. Após a expiração, manter o ar do lado de fora e não inspirar imediatamente é uma operação externa; isso é tanto a expiração quanto a suspensão da respiração. Da mesma forma, a operação interna também é uma combinação de inalação e suspensão da respiração. Em alguns livros afirma-se que a suspensão da respiração após a exalação é a forma védica de Pranayama, e a suspensão após a inalação é sua forma tântrica. Assim, a operação externa etc., não é o mesmo que meramente Rechaka, Puraka e Kumbhaka, como entendido nos tempos modernos..."] (S.H.A.).

51- बाह्याभ्यन्तरविषयाक्षेपी चतुर्थः ॥५१॥
bāhyābhyantaraviṣayākṣepī caturthaḥ ॥51॥
चतुर्थ [caturtha] o quarto (prāṇāyāma)* अक्षेपी [ākṣepī] ultrapassa* विषय [viṣaya] o alcance* बाह्य [bāhya] do externo* अभ्यन्तर [abhyantara] e do interno*
51- O quarto prāṇāyāma ultrapassa o alcance do externo e do interno.

Vyāsa): Quando a operação externa regulada pelo espaço, tempo e número, é dominada, ela pode ser superada pela habilidade adquirida através da prática. A operação interna também, da mesma forma regulada, pode ser superada através da prática. Depois que a proficiência é alcançada através da prática, ambas as operações se tornam longas e sutis. A suspensão gradual das operações externas e internas, depois destas serem dominadas através da prática como dito acima, é o quarto prāṇāyāma. A supressão do movimento com um esforço, sem considerar o espaço, etc., é o terceiro prāṇāyāma. Quando regulado pelo espaço, tempo e número, torna-se longo e sutil. Depois de adquirir proficiência considerando o espaço, etc. durante a inalação e a expiração, a suspensão gradual do movimento que as transcende é o quarto prāṇāyāma. Esta é a diferença entre o terceiro e o quarto prāṇāyāma.

52- ततः क्षीयते प्रकाशावरणम् ॥५२॥
tataḥ kṣīyate prakāśāvaraṇam ॥52॥
ततस् [tatas] então* आवरण [āvaraṇa] a cobertura* प्रकाश [prakāśa] sobre a luz (do conhecimento)* क्षीयते [kṣīyate] é desfeita*
52- Então, a cobertura sobre a luz do conhecimento é desfeita.

Vyāsa): Quando o yogin está envolvido na prática do prāṇāyāma, o karma que oculta o conhecimento discriminativo é reduzido. Esse (karma) foi descrito na seguinte citação: "A magia ilusória do mal-entendido que cobre o sattva buddhi (lucidez) por um véu espesso, o leva para ações inadequadas". A prática do prāṇāyāma enfraquece e gradualmente dissipa esse karma do yogin, que oculta a revelação e reproduz o ciclo de nascimentos. Assim, diz-se: "Não há tapas superior ao prāṇāyāma; ele remove as impurezas e faz brilhar a luz do conhecimento".

53- धारणासु च योग्यता मनसः ॥५३॥
dhāraṇāsu ca yogyatā manasaḥ ॥53॥
च [ca] além disso* मनस् [manas] a mente* योग्यता [yogyatā] (se torna) apta* धारणा [dhāraṇā] dhāraṇā (para a concentração)*
53- Além disso, a mente se torna apta para a concentração (dhāraṇā).

(Vyāsa): Essa aptidão surge da prática do prāṇāyāma. Este Sutra confirma a declaração anterior de que, expirando e restringindo a respiração, a fixidez (estabilidade) da mente pode ser estabelecida.

O que é Pratyāhāra?
54- स्वविषयासंप्रयोगे चित्तस्वरूपानुकार इवेन्द्रियाणां प्रत्याहारः ॥५४॥
svaviṣayāsaṃprayoge cittasvarūpānukāra ivendriyāṇāṃ pratyāhāraḥ ॥54॥
प्रत्याहार चित्त [pratyāhāra citta] pratyāhāra ocorre quando a mente* असम्प्रयोग विषय स्वरूप [asaṃprayoga viṣaya svarūpa] se afasta de seus objetos e (reside) em sua própria forma* इव न्द्रिय अनुकार स्व [iva indriya anukāra sva] da mesma forma os órgãos dos sentidos imitam (a mente) (afastando-se) de seus próprios (objetos)*
54- Pratyāhāra ocorre quando a mente se afasta de seus objetos e reside em sua própria forma, da mesma maneira os órgãos dos sentidos imitam a mente, afastando-se de seus próprios objetos.

(Vyāsa) : Devido à falta de contato com seus objetos correspondentes, os sentidos, por assim dizer, imitam a natureza da mente, ié. como a mente que suspendeu suas funções eles também cessam suas funções, tornando desnecessária a aplicação de outros meios para o controle dos sentidos. Assim como as abelhas seguem o curso da abelha rainha e descansam quando ela descansa. Quando a mente para, os sentidos também interrompem suas atividades. Isso é Pratyāhāra.

55- ततः परमा वश्यतेन्द्रियाणाम् ॥५५॥
tataḥ paramā vaśyatendriyāṇām ॥55॥
ततस् [tatas] disso (resulta)* परमा [paramā] o supremo* वश्यता [vaśyatā] controle* इन्द्रिय [indriya] dos sentidos*
55- Disso resulta o supremo controle dos órgãos dos sentidos.

(Vyāsa): Alguns dizem que a-vyasana ou indiferença a objetos como visões e sons etc., é o controle dos sentidos. A palavra 'vyasana', usada neste contexto, significa apego ou afeição, em outras palavras, aquilo que afasta as pessoas da isenção. Outros dizem que é permissível o prazer de objetos como som etc. não proibidos pelos śastras. Há ainda outros que dizem: "O controle dos sentidos significa a aplicação dos sentidos a objetos como o som etc., por vontade própria, sem ser escravo deles". Novamente, há outros que dizem: "Experiências de som, etc., sem sentimentos de felicidade ou miséria, por ausência de apego e aversão, são subjugação dos sentidos." Jaigīṣavya diz: "Quando a mente se torna uni direcionada, a aversão aos objetos dos sentidos ou distanciamento aos objetos que surgem, é o controle dos sentidos." Assim, o que é afirmado por Jaigīṣavya constitui a suprema forma de controle dos sentidos dos yogins, em que, quando a mente cessa suas atividades, os sentidos também param. Além disso quando isso for alcançado, os yogins não tem que depender de outras formas de esforço para a subjugação dos sentidos.

(Aqui termina o capítulo sobre a prática com a segunda parte dos comentários de Vyāsa, conhecido como Sāṃkhyapravacanasūtra da Filosofia do Yoga de Patañjali).


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