01/06/2018

Os Yoga Sūtras de Patañjali - Samādhi Pada (Revisado na primavera de 2022)

॥ पातञ्जलयोगशास्त्र ॥ - pātañjalayogaśāstra -॥
प्रथमोऽध्यायः ॥ - prathamo'dhyāyaḥ - ॥ समाधि पादः ॥ - samādhi pādaḥ - 1º Capítulo: Samādhi Pāda



Samādhi Pada

1- अथ योगानुशासनम् ॥१॥
atha yogānuśāsanam ॥1॥
अथ [atha] agora* योग [yoga] yoga* अनुशासन [anuśāsana] exposição, ensinamento*
1- Agora, o Yoga será explicado.

(Yoga Bhāṣya de Vyāsa): A palavra (atha / agora) indica a apresentação de um assunto que tem sido profundamente debatido. Entende-se que uma obra autorizada com as instruções sobre o Yoga está sendo exposta. Yoga significa concentração (Samādhi); Entretanto esta é uma qualidade da mente (citta) e pode ocorrer em determinados estados (cittabhumi). Os cinco estados da mente são: kṣipta (distraída, dispersa); mūḍha (confusa); vikṣipta (ocasionalmente centrada); ekāgra (concentrada, uni-direcionada) e nirodha (suprimida, contida). Desses, os dois primeiros nada tem a ver com Yoga, e mesmo no estado distraído da mente (vikṣipta) as ocorrências de concentração são dominadas por distrações e consequentemente (este estágio) não pode ser chamado de Yoga. Quando a mente está concentrada, completamente absorta em um objeto distinto e real, com os obstáculos (kleśas) e, também, os laços do karma enfraquecidos e as flutuações (vṛtti) suprimidas, é atingido o chamado Samprajñāta samādhi, no qual há consciência de um objeto. Este, no entanto, é acompanhado pelo raciocínio com consciência empírica (vitarka), pela análise sem suporte físico (vicāra), pela felicidade (ananda) e pelo sentimento de personalidade (asmitā). Quando há cessação (eliminação completa) de todas as flutuações (cittavṛttis), surge a concentração Asamprajñāta samādhi em que não há consciência de um objeto.

Este Sutra foi composto para mostrar as características dos dois tipos de Yoga mencionados anteriormente.
2- योगश्चित्तवृत्तिनिरोधः ॥२॥
yogaścittavṛttinirodhaḥ ॥2॥
योग [yoga]* निरोध [nirodha] é a atenuação, cessação completa* वृत्ति [vṛtti] das modificações, flutuações* चित्त [citta] da mente*
2- Yoga é a supressão das flutuações mentais.

(Vyāsa): A omissão da palavra "sarva / todos" antes de vṛtti, indica que samprajñāta samādhi também está incluído na definição de yoga; Agora, a mente (citta) sob ação dos guṇas (forças eficientes fundamentais: rajas, sattva e tamas), manifesta as aptidões: prakhyā (lucidez - quando predomina sattva), pravṛtti (atividade - onde domina rajas) e sthiti (inércia - com supremacia de tamas); Quando o aspecto (prakhya) da mente (citta), cuja natureza é lucidez, é influenciada por rajas e tamas, ela adquire o gosto pelo poder e pelos objetos dos sentidos; Quando é dominada por tamas, inclina-se ao vício, conhecimento falso, apego e fraqueza; Quando o véu da paixão é removido, a mente se torna completamente luminosa (sarvatas), mesmo sendo fracamente influenciada por rajas, tende à virtude, à sabedoria, ao desapego e ao poder; Quando a contaminação por rajas é inteiramente removida, a mente repousa em si mesma, percebe a distinção (khyāti) entre o puro buddhi e o Self, e avança para a forma de concentração que é conhecida como "núvem de dharma" (dharmamegha-dhyana). A qualificação dada pelos yogins (dhyāyin) a esta forma de concentração é o estado da mais alta sabedoria (prasaṃkhyāna). O poder da consciência (citiśakti) é imutável, intransmissível, ilumina apenas coisas que lhe são apresentadas por buddhi. Viveka-khyāti, ou o discernimento entre o Puruṣa e buddhi, sendo de natureza sattvica é, portanto, oposto ao citiśakti. Como ainda existe um toque de impureza em viveka-khyāti, um yogin desapegado exclui até mesmo essa percepção, chegando a este estado, (citta), retém apenas as impressões latentes. Isto é conhecido como interiorização completa sem objeto (nirbījasamādhi). É chamado asaṃprajñāta-yoga porque nele não há conhecimento objetivo (saṃprajñāta). Assim, o Yoga, que é a cessação das flutuações da mente, pode ser de dois tipos.

Quando a mente está em tal estado, ou seja, quando buddhi não percebe nenhum objeto, qual deve ser a natureza do Puruṣa- o conhecedor de buddhi?
3- तदा द्रष्टुः स्वरूपेऽवस्थानम् ॥३॥
tadā draṣṭuḥ svarūpe'vasthānam ॥3॥
तदा [tadā] então* द्रष्टृ [draṣṭṛ] observador, self, puruṣa* अवस्थान [avasthāna] reside, permanente* स्वरूप [svarūpa] natureza essencial, em si próprio*
3- Então o Self (Puruṣa) permanece em seu estado natural.

(Vyāsa): Então, a Consciência pura - o Self (vidente, testemunha) - permanece em sua própria natureza (em si próprio), como no estado de isolamento (kaivalya). No estado empírico, a Consciência pura não parece ser o que é, embora seja de fato ela mesma. (A explicação será dada no próximo sutra). ["A Consciência Pura (Puruṣa - Self) é a testemunha imparcial de buddhi que aparece como um objeto. Buddhi superior é o puro "senso do Eu" (pura auto identidade) ... O Puruṣa é o refletor de buddhi ... A ideia "Eu" é diretamente receptiva, enquanto "Eu era" ou "Eu serei" é reflexiva. Memória, desejo, etc. são reflexivos. A reflexão não pode ocorrer sem um refletor. Aquilo que na forma de consciência produz conhecimento é o refletor. Nenhuma cognição é imaginável sem tal refletor, porque toda cognição é refletida ..."] (S. H. Aranya).

Como é que "o observador" (Puruṣa) não aparece com sua natureza própria durante o estado mental comum? Porque ele se identifica com os objetos que se manifestam diante dele.
4- वृत्तिसारूप्यमितरत्र ॥४॥
vṛttisārūpyamitaratra ॥4॥
इतरत्र [itaratra] em outras ocasiões* सारूप्य [sārūpya] (o puruṣa) conformidade, se identifica* वृत्ति [vṛtti] com as modificações, flutuações (da mente)*
4- Em outras ocasiões, (o Puruṣa) assume a forma dos vṛttis (modificações da mente).

(Vyāsa): As modificações da mente que ocorrem no 'estado empírico' identificam-se com o Self. Pañchasikha disse sobre este ponto: "A Consciência é uma só; a modificação cognitiva é a Consciência". A mente é como um ímã que age apenas nas proximidades; ela é um objeto adequado para ser visto pelo observador (Puruṣa). Erroneamente, uma modificação cognitiva particular de buddhi é tomada como a Consciência. Citta dá seu auxílio ao Puruṣa pelo simples fato de estar perto dele, e assim a relação entre citta e o Self é aquela entre a propriedade (svam) e o proprietário (svāmin). Daí a razão pela qual o Puruṣa experimenta (bodha) as flutuações (vṛtti), é sua associação atemporal com citta.

Além disso, todos (cittavṛtti) devem ser suspensos.
5- वृत्तयः पञ्चतय्यः क्लिष्टाऽक्लिष्टाः ॥५॥
vṛttayaḥ pañcatayyaḥ kliṣṭā'kliṣṭāḥ ॥5॥
वृत्त [vṛtti] vṛtti (flutuação)* पञ्चतय [pañcataya] cinco tipos* क्लिष्ट [kliṣṭā] doloroso* अक्लिष्टा [akliṣṭā] não doloroso*
5- Os vṛttis são de cinco tipos, dolorosos (kliṣṭa) ou não-dolorosos (akliṣṭa).

(Vyāsa): Os dolorosos (kliṣṭa) são aqueles processos mentais causados pelos obstáculos (kleśas), e são as fontes de todas as latências; Os não dolorosos (akliṣṭa), por outro lado, são aqueles que dizem respeito à iluminação discriminativa final (khyāti) e dificultam a ação dos guṇas. Alguns vrttis que ocorrem na corrente dos dolorosos (kliṣṭa-vrttis), podem ser não dolorosos (akliṣṭā). Pois mesmo no meio dos dolorosos (vrttis) eles são não dolorosos; Enquanto no meio dos não dolorosos eles são dolorosos. As impressões latentes são igualmente deixadas por processos mentais que levam à servidão, bem como por aqueles que levam à liberdade. Essas impressões latentes, mais uma vez, dão origem a flutuações da mente. Nesse sentido, a roda de flutuações e impressões subliminares rola incessantemente até que a concentração mais alta seja alcançada. Quando a mente é libertada da ação dos guṇas, ou seja libertada das sementes da perturbação, recolhe-se em si mesma. Operando desta maneira: citta, tendo terminado a sua tarefa, permanece em si própria, ou é reabsorvida em prakriti.

As cinco modificações da mente (vṛttis) são:
6- प्रमाणविपर्ययविकल्पनिद्रास्मृतयः ॥६॥
pramāṇaviparyayavikalpanidrāsmṛtayaḥ ॥6॥
प्रमाण [pramāṇa] conhecimento correto* विपर्यय [viparyaya] pseudo conhecimento* विकल्प [vikalpa] fabulação, fantasia* निद्रा [nidrā] sono (profundo)* स्मृतय [smṛti] memória, lembrança*
6- (Os cinco vṛttis são) Conhecimento correto (pramāṇa), pseudo (falso) conhecimento (viparyaya), fabulação (vikalpa), sono (nidrā) e memória (smṛti).

["... Os estados ativos ou inertes da mente estão sempre associados à cognição que prevalece sobre todos os tipos de flutuações; Daí, a paralisação de modificações cognitivas leva à cessação de toda atividade mental. Portanto, as flutuações a serem controladas no Yoga são as flutuações cognitivas ou Pratyayas. Os yogins atingem o estado mental nirodha ao suprimir as flutuações cognitivas. Os vrttis no yoga significam as variações do prakhya ou o elemento sattva da mente ... a existência da mente é sentida por seus movimentos ou flutuações; a ausência de flutuações só pode significar o lapso de citta ... Todos os estudantes desta ciência devem lembrar particularmente os seguintes pontos, em relação a citta: Citta ou mente é o órgão interno com três funções, ié. cognição (saber), conação (disposição, tendência consciente para a ação) e retenção (memória). Retenção é a impressão subliminar ou latente. O sentimento ou impressão das coisas vistas, das coisas retidas na mente (como memória), das coisas desejadas, do prazer ou da dor sentidas, são modificações da mente, conhecidas como Pratyayas. Conação ou vontade de ser, é uma função cognitiva ou consciente é também da natureza de Pratyaya. Samskaras ou impressões latentes, ou seja, subliminares, são funções inconscientes. Assim, a mente tem duas propriedades, ié. Pratyaya e Samskara. Destas, Pratyaya é chamado citta-vrtti ou modificação da mente. Nesta ciência, as flutuações ou modificações tomadas coletivamente são comumente conhecidas como citta ou mente. Uma vez que as flutuações são cognitivas pela natureza do conhecimento, elas são as transformações de buddhi que é a transformação de sattva. É por isso que as palavras citta e buddhi foram usadas no mesmo sentido em muitos lugares. Essa buddhi ou intelecto não é buddhi tattva ou princípio. Similarmente, 'citta-vrtti' ou 'modificação da mente' é o mesmo que 'buddhi-vrtti' ou modificação de buddhi. As palavras 'citta' e 'manas' têm sido usadas no mesmo sentido em muitos lugares, mas na verdade, manas é o 'sexto sentido'. Em outras palavras, a consciência que é necessária para o esforço interno, para colocar em movimento os sentidos externos e para a consciência interna dos estados mentais é o trabalho da mente. A percepção mental é devida a essa consciência, assim como o conhecimento visual é devido ao olho. Assim, a mente, o instrumento da conação, é o centro interno dos órgãos do conhecimento e da ação, enquanto o cittavrtti, ou a modificação ou flutuação da mente, nada mais é que o próprio conhecimento. O conhecimento específico das coisas conhecidas, feitas ou retidas pela mente é citta-vrtti. Deve ser lembrado que esta é a divisão antiga da mente."]. (S. H. Aranya)

Teoria do conhecimento.
7- प्रत्यक्षानुमानागमाः प्रमाणानि ॥७॥
pratyakṣānumānāgamāḥ pramāṇāni ॥7॥
प्रमाणानि [pramāṇa] o conhecimento válido (é obtido por)* प्रत्यक्षा [pratyakṣa] percepção direta* अनुमान [anumāna] inferência* अगमा [āgama] tradição, testemunho verbal*
7- Pramāṇa (conhecimento válido) é obtido por: percepção direta (pratyakṣa), inferência (anumāna) e testemunho verbal (āgama).

(Vyāsa): Pratyakṣa (percepção direta), como uma das formas de conhecimento válido (pramāṇa), é um processo mental que surge quando citta foi afetado por alguma coisa externa através dos órgãos dos sentidos. O resultado dessa percepção é uma iluminação pelo Self (pauruṣeya) de uma flutuação que pertence a citta.
Anumāna (Inferência) é aquele tipo de modificação mental que é baseada nas características gerais de um conhecível e está relacionada com a entidade (i.é. atributo) que está presente nas instâncias onde o probandum (o que deve ser provado) ocorre e está ausente das instâncias onde o probandum não ocorre. Por exemplo, a lua e as estrelas têm movimento como Chaitra (nome de uma pessoa), pois elas, como ele, mudam de posição; os Vindhya Hills (montanhas) não mudam de localização e, portanto, não tem movimento.
A modificação mental decorrente da audição das palavras de uma pessoa confiável que deseja transmitir sua cognição ao ouvinte é Āgama - pramana, ou seja, transmissão autorizada ao ouvinte. Esse testemunho pode ser falso, isto é, não pode ser, de forma alguma, pramana, se a pessoa que comunica o conhecimento não é confiável ou é falsa ou é alguém que não viu nem experimentou o que ele procura comunicar. Mas a cognição transferida que tem sua base na experiência direta do primeiro expositor autorizado ou em sua correta inferência é genuína e perfeitamente válida.

8- विपर्ययो मिथ्याज्ञानमतद्रूपप्रतिष्ठम् ॥८॥
viparyayo mithyājñānamatadrūpapratiṣṭham ॥8॥
विपर्यय [viparyaya] pseudo conhecimento, falácia* मिथ्या ज्ञान [mithyā jñāna] ilusório, falso, conhecimento* प्रतिष्ठ अतद् रुप [pratiṣṭha atad rūpa] baseado, firmemente estabelecido, em falsa construção (mental)*
8- Viparyaya (pseudo conhecimento) é uma concepção errônea (mithyā jñānam) baseada em uma falsa construção mental.

(Vyāsa): Por que (viparyaya) não é conhecimento válido (pramāṇa)? Porque é refutado pelo conhecimento correto de um objeto que tem existência real. Em outras palavras, o objeto do conhecimento correto (pramana) é real, enquanto que o objeto do pseudo conhecimento é seu oposto. A falsa cognição é negada pelo conhecimento correto, por exemplo. a ilusão da lua dupla é rejeitada pelo conhecimento válido (pramāṇa) de uma única lua. O pseudo conhecimento (viparyaya) causa sofrimento (klesa) e tem cinco componentes: avidya (insciência, ignorância), asmita ('senso do eu', egoidade), raga (desejo), dvesa (aversão) e abhinivesa (apego à existência e medo da morte). Eles também são conhecidos tecnicamente como tamas (obscuridade), moha (atordoamento), mahamoha (atordoamento forte), tamisra (escuridão) e andhatamisra (escuridão cega). Eles serão discutidos em conexão com o assunto das impurezas da mente.

9- शब्दज्ञानानुपाती वस्तुशून्यो विकल्पः ॥९॥
śabdajñānānupātī vastuśūnyo vikalpaḥ ॥9॥
विकल्पः [vikalpa] fabulação, fantasia* अनुपातिन् [anupātin] procede* शब्द ज्ञान [śábda jñāna] cognição, conhecimento, verbal* वस्तु शून्य [vastu śūnya] objeto, vazio, ausência de objeto*
9- Vikalpa (fantasia ou fabulação), resulta de conhecimento verbal, e não tem correspondência real.

(Vyāsa): Vikalpa (fantasia) não se enquadra na categoria de pramana ou na do pseudo conhecimento (viparyaya); porque embora não exista realidade por trás de vikalpa, ainda assim tem seu uso através do poder da cognição verbal, por exemplo, 'Caitanya (consciência) é a natureza do Puruṣa'. Agora, o que é aqui predicado visto que a consciência é o próprio Puruṣa? Vikalpa pode surgir por meio de uma expressão puramente oral. Como por exemplo na frase: a "vaca de Cāitra". (A vaca se distingue de Cāitra, que é algo diferente dele). Em outra frase, como “Puruṣa permanece imóvel e não possui propriedades”, se trata de uma negação na qual não se indica qualquer propriedade positiva, mas que possui a propriedade (positiva) de ser um objeto sobre o qual se afirma algo. Da mesma forma, quando dizemos "a flecha para" ou "a flecha vai parar" ou "a flecha parou" entendemos a cessação do movimento como algo positivo relacionado a esse objeto. Similarmente, a expressão "Puruṣa não tem propriedades" refere-se simplesmente a uma ausência de propriedades que afetam Puruṣa; e não ao Puruṣa que tem a propriedade de não ter propriedades. Portanto, essa propriedade (que é uma negação no que diz respeito aos objetos perceptíveis) é predicada e, como tal, é algo que é pensamento (vyavahāra).

10- अभावप्रत्ययालम्बना वृत्तिर्निद्रा ॥१०॥
abhāvapratyayālambanā vṛttirnidrā ॥10॥
र्निद्रा [nidrā] sono profundo (sem sonhos)* वृत्ति [vṛtti] modificação, flutuação* आलम्बन [ālambana] fundamentada, causada* अभाव [abhāva] não ocorrência* प्रत्यय [pratyaya] noção, conteúdo mental, percepção*
10- O sono profundo é a modificação mental decorrente da não ocorrência de pratyaya (no campo da consciência).

(Vyāsa): Nidrā é o (cittavṛtti) que através da memória torna-se, ao despertar, um tipo especial de sensação (pratyaya), como indicado nos sentimentos expressos por frases como: "Eu dormi bem, minha mente está calma, meu entendimento clarificou, ou dormi mal; Por causa do sono perturbado, minha mente ficou inquieta e vagueia instável; Ou, eu estava em sono profundo como se estivesse em um estado de estupor; Meus membros estão pesados, minha mente parece frágil e perturbada (klānta), como se estivesse dormente, além do meu alcance. Se durante o sono não houvesse alguma cognição, então, ao acordar, não se teria lembrado dessa experiência. Da mesma forma, memórias relacionadas a isso (sono profundo) não existiriam. É por isso que o sono é considerado como um tipo particular de estado mental e deve ser excluído como outras cognições quando a concentração é praticada.

11- अनुभूतविषयासंप्रमोषः स्मृतिः ॥११॥
anubhūtaviṣayāsaṃpramoṣaḥ smṛtiḥ ॥11॥
स्मृतिः [smṛti] memória, lembrança* असंप्रमोष [asampramoṣa] sem perda, ou acréscimo* विषय [viṣaya] objeto perceptível* अनुभूत [anubhūta] experienciado*
11- Smṛti (memória) é a retenção da percepção de um objeto experienciado.

(Vyāsa): A mente se lembra do processo de conhecimento que ocorreu antes, ou do objeto que produziu o conhecimento (pratyaya)? Embora o conhecimento (pratyaya) seja de um objeto (grāhya), ele revela a natureza do objeto (nirbhāsa) e o processo do conhecimento (grahaṇa) e produz impressões latentes (saṃskāra) do mesmo tipo. Essas latências (saṃskāras) se manifestam por indução de uma causa externa (vyañjaka) e assumem, em lembrança, a forma do objeto, bem como do processo do conhecimento. Destes, o reaparecimento na mente de uma coisa tomada antes é chamado de recordação, enquanto a exibição do poder da cognição original é chamada de 'buddhi' ou pramana. Dos dois, o aspecto cognitivo parece ser dominante em buddhi; enquanto na memória ou na lembrança o objeto conhecido é predominante. A memória é de dois tipos: lembrança de coisas apenas imaginadas (isto é, irreais) e de coisas não imaginadas (isto é, reais). No estado de sonho, emerge a memória de coisas imaginadas, enquanto num estado desperto, surge a memória das coisas reais. Todas as lembranças surgem de impressões, seja de cognição correta, mal-entendido, ideação vaga, sono profundo ou memória prévia. As flutuações anteriores são da natureza do prazer, dor ou estupefação. Estas serão explicadas em conexão com os kleśas ou aflições. O apego segue o prazer, a aversão segue a dor, enquanto a estupefação é ignorância. Todas essas flutuações devem ser excluídas. Quando são eliminadas, então será alcançada a concentração saṃprajñāta ou a asaṃprajñāta conforme o caso.

Que meios existem para a cessação dessas (flutuações)?
12- अभ्यासवैराग्याभ्यां तन्निरोधः ॥१२॥
abhyāsavairāgyābhyāṃ tannirodhaḥ ॥12॥
निरोध [nirodha] atenuação, supressão* तद् [tad] desses (dos vṛttis)* वैराग्य [vairāgya] (ocorre) através do desapego, renúncia* अभ्यास [abhyāsa] (e da) prática persistente*
12- A supressão dos vṛttis ocorre através do desapego (vairāgya) e da prática persistente (abhyāsa).

(Vyāsa): O rio da mente flui em ambas as direções - para o bem e para o mal. Aquilo que flui abaixo no campo do viveka ou conhecimento discriminativo que termina nos elevados do kaivalya ou libertação, leva ao bem; enquanto o que flui rumo ao planalto dos ciclos de renascimento no plano da não discriminação leva ao mal. Entre estes, o fluxo para os objetos dos sentidos é reduzido pela renúncia, e o desenvolvimento de um hábito de discriminação abre a comporta do conhecimento discriminativo. A interrupção das modificações mentais é, portanto, dependente de ambos. ["Praticar sem desapego conduz a um desenvolvimento anormal do ego e à ambição de poder, aumentando assim o enredamento nas coisas mundanas. Desapego sem prática, por outro lado, 'é como uma faca sem corte; as energias psicossomáticas geradas pelo afastamento dos objetos mundanos permanecem sem uma saída e, na melhor das hipóteses, causam confusão no corpo e na mente. Ambos os polos precisam ser cultivados simultaneamente e com prudência."] (G. Feuerstein).

13- तत्र स्थितौ यत्नोऽभ्यासः ॥१३॥
tatra sthitau yatno'bhyāsaḥ ॥13॥
अभ्यास [abhyāsa] prática* यत्न [yatna] esforço (dedicado à obtenção)* स्थिति [sthiti] estabilidade, firmeza* तत्र [tatra] nisso (estado de citta-vṛtti-nirodha)*
13- Abhyāsa (prática) é o esforço dedicado à obtenção de estabilidade no estado de citta-vṛtti-nirodha.

(Vyāsa): Ausência de flutuações ou imperturbável serenidade mental é chamada de Sthiti (tranquilidade). O esforço, a energia e o entusiasmo, isto é, a tentativa repetida de alcançar esse estado, é chamada de prática (abhyāsa). ["A continua ausência de todas flutuações na mente é chamada prasanta-vahita. Esse é o mais alto estado de tranquilidade mental; as outras formas de tranquilidade são apenas secundárias. À medida que a prática avança, a tranquilidade também se afirma. Fixando em Prasanta-vahita, o esforço para se concentrar em qualquer estado de serenidade que já tenha sido alcançado é chamado de prática. Na Mundaka Upanisad afirma-se: "O Self não é realizado por quem não tem energia, nem por quem está sujeito à ilusão, nem pelo conhecimento dotado da verdadeira renúncia, mas pelo persistente esforço do sábio" deste modo (isto é, com energia, conhecimento e renúncia), sua alma alcança a morada de Brahman ".] (S. H. A.).

14- स तु दीर्घकालनैरन्तर्यसत्कारासेवितो दृढभूमिः ॥१४॥
sa tu dīrghakālanairantaryasatkārāsevito dṛḍhabhūmiḥ ॥14॥
स तु [sa tu] mas esta (prática)* आसेवित [āsevita] cultivada, realizada* नैरन्तर्य [nairantarya] continuamente* सत्कार [satkāra] corretamente (com devoção)* दीर्घ काल [dīrgha kāla] longo tempo* दृढ [dṛḍha] firme, firmemente* भूमि [bhūmi] base, fundamentada*
14- Essa (prática), quando cultivada continuamente, com devoção por um longo tempo, fica firmemente consolidada.

(Vyāsa): A prática, quando cultivada por um longo tempo e realizada dedicadamente, ou seja, com austeridade, continência, estudo, reverência, e com muita atenção, fica firmemente estabelecida. Em outras palavras, nesse estado, a calma que se visa na prática não é facilmente superada por quaisquer impressões latentes do estado flutuante

15- दृष्टानुश्रविकविषयवितृष्णस्य वशीकारसंज्ञा वैराग्यम् ॥१५॥
dṛṣṭānuśravikaviṣayavitṛṣṇasya vaśīkārasaṃjñā vairāgyam ॥15॥
वैराग्य [vairāgya] desapego* संज्ञा वशीकार [saṃjñā vaśīkāra] conhecimento, consciência; controle, domínio* वितृष्ण [vitṛṣṇa] do desejo* विषय [viṣaya] pelos objetos* दृष्टा [dr̥ṣṭa] vistos* आनुश्रविक [ānuśravika] ouvidos, revelados*
15- Vairāgya (desapego) é a consciência do domínio dos desejos pelos objetos vistos ou revelados.

(Vyāsa): Quando a mente se torna indiferente às coisas vistas, ié. sexo, comida, bebidas, poder etc. e não anseia por objetos ou estados prometidos nas escrituras como ir para o céu ou obter o estado 'desencarnado' ou de dissolução na matéria primordial. E, em virtude da aquisição de conhecimento discriminativo mantém total liberdade de sua influência (dos desejos) e é indiferente ao bem ou ao mal, diz-se que ele alcançou um estado controlado de buddhi sem vikalpa chamado vaśīkāra-saṃjñā, ié. Vairagya (desapego).

16- तत्परं पुरुषख्यातेर्गुणवैतृष्ण्यम् ॥१६॥
tatparaṃ puruṣakhyāterguṇavaitṛṣṇyam ॥16॥
तत्पर [tatpara] é o mais elevado (vairāgya)* पुरुष ख्याति [puruṣa khyāti] visão, percepção; do self* वैतृष्ण्य [vaitṛṣṇya] (resulta em) indiferença* गुण [guṇa] pelos guṇas*
16- Este é o desapego supremo (para-vairāgya) que devido ao reconhecimento do Self resulta em indiferença pelos gunas.

(Vyāsa): Através da vigorosa prática para realizar o "Princípio Puruṣa" (isolamento - kaivalya), o yogin que toma consciência da natureza imperfeita dos objetos visíveis ou descritos nas escrituras, obtém clareza de visão e firmeza nas qualidades sattvikas. Tal yogin amparado pelo conhecimento discriminativo e pela pureza de um intelecto aguçado torna-se indiferente a todos os estados manifestos ou não dos três guṇas. Assim, o desapego (vairāgya) é de dois tipos. Destes, o último é a absoluta clareza do conhecimento. Quando o desapego aparece na forma de conhecimento luminoso, o yogin, com sua compreensão da natureza do Self, pensa assim: 'Eu tenho tudo que pode ser obtido; as aflições que devem ser eliminadas foram extintas; a corrente contínua de nascimento e morte, cadeia pela qual os homens nascem e morrem foi quebrada”. O desapego é o apogeu do conhecimento, assim kaivalya (liberação) e desapego são inseparáveis.

Em que consiste saṃprajñāta samādhi (samādhi com reflexão) no qual a falsa identificação com os processos mentais cessa graças aos dois métodos (prática e desapego) mencionados acima?
17- वितर्कविचारानन्दास्मितारूपानुगमात् संप्रज्ञातः ॥१७॥
vitarkavicārānandāsmitārūpānugamāt saṃprajñātaḥ ॥17॥
त्सम्प्रज्ञातः [samprajñāta] samādhi cognitivo* रुप [rupa] (é a) forma* अनुगम [anugama] associada ao* वितर्क [vitarka] raciocínio* विचार [vicāra] análise, reflexão* आनन्द [ānanda] felicidade, bem aventurança* अस्मिता [asmitā] egoidade, 'senso do Eu'*
17- Samprajñāta (samādhi cognitivo) é a forma de concentração permeada por raciocínio (vitarka), reflexão (vicāra), bem-aventurança (ānanda) e egoidade (asmitā).

(Vyāsa): Quando a mente está totalmente concentrada (samādhi) em um objetos concreto de percepção, então, isto é vitarka (com raciocínio). Da mesma forma, vichara (análise) se relaciona com objetos sutis. O terceiro, Ananda, é bem aventurança - um sentimento feliz abraçando a mente. Asmitā é egoidade ou consciência da personalidade individual. Destes, no primeiro (savitarka-samadhi) existe a presença de todos os quatro objetos. O segundo, ié. (savicārā-samadhi) está livre de vitarka (deliberação). O terceiro (ananda), ou seja, (sananda-samadhi) é livre de vichara (análise). O quarto é (asmita-matra) ou pura egoidade, é livre até do sentido de bem-aventurança. Todos esses estados têm, como foco, um objeto de concentração.

Agora, por quais meios é produzida essa concentração (asamprajnata) que não é consciente de nenhum objeto? ou qual é a sua natureza?
18- विरामप्रत्ययाभ्यासपूर्वः संस्कारशेषोऽन्यः ॥१८॥
virāmapratyayābhyāsapūrvaḥ saṃskāraśeṣo'nyaḥ ॥18॥
अन्य पूर्व [anyā pūrva] outro estado de samādhi (asamprajnata)* अभ्यास [abhyāsa] (baseado na) prática persistente* प्रत्यय विराम [pratyaya virāma] (surge quando toda a) pratyaya, conteúdo mental, percepção; supressão, (foi) extinta* संस्कार [saṃskāra] (apenas os) saṃskāras, impressões latentes* शेष [śeṣa] permanecem*
18- O outro estado de samādhi (asamprajnata), baseado na prática persistente, surge quando toda a percepção foi extinta e apenas os saṃskāras (impressões latentes) permanecem.

(Vyāsa): Quando todas as flutuações (vṛtti) cessam, a mente (citta) retém apenas as latências (saṃskāra). Este estado é conhecido como asamprajñāta-samādhi. O supremo desapego (vaitṛṣṇa) é o meio para alcançá-lo. Não pode ser alcançado quando há objeto como foco da concentração. A completa cessação das flutuações emana de para-vairagya ou desapego supremo que é livre de qualquer objeto (perceptível). É totalmente desprovido de todos os objetos e sua prática torna a mente independente de qualquer objeto, como se fosse inexistente, sem qualquer objeto de apoio. Este tipo de nirbīja samādhi sem objeto é asamprajñāta-samādhi. ["O meio de atingir tal cessação é a prática, ou seja, manter a ideia de desapego supremo constantemente vívida na mente. No Samprajnata-yoga, a pessoa alcança gradualmente o puro 'senso do Eu', depois de ter dominado os princípios antecedentes que começam com os bhutas (elementos densos). Então, concentrando-se na ideia de que "Eu" não quero nem mesmo o puro 'senso do Eu', e se a mente adquire um momentum (impulso) para o estado nirodha, as flutuações não mais surgirão na mente. Então a mente parece ser um vazio. Isso é chamado de 'momento' do estado de parada, em outras palavras, o intervalo entre dois estados de flutuação. Esse é o estado em que o vidente permanece em si mesmo. Então a pura Consciência (Self) não é suprimida, mas, sim, o conhecimento do não-Eu; Consequentemente, o conhecedor do não-Eu. o 'senso do Eu' também desaparece." (S. H. A.)].

Este (samādhi) é de dois tipos: o que é produzido pelos meios acima mencionados (prática e desapego) e o que ocorre naturalmente. O primeiro, produzido por tais meios, é o que o verdadeiro yogin procura.
19- भवप्रत्ययो विदेहप्रकृतिलयानाम् ॥१९॥
bhavapratyayo videhaprakṛtilayānām ॥19॥
विदेह [videha] desencarnados* प्रकृतिलय [prakritilaya] prakritilayas (dissolvidos em prakriti)* भवप्रत्यय [bhavapratyaya] (o asamprajñāta samādhi) é causado por bhavapratyaya (persistencia de pratyaya)*
19- No caso dos videhas (desencarnados) e dos prakrtilayas (dissolvidos em prakriti), o asamprajñāta samādhi é causado por bhavapratyaya (persistencia de pratyaya).

(Vyāsa): Nos videhas ou divindades desencarnadas, (asamprajñāta-samādhi) é causado pela existência objetiva, porque eles vivem em um estado semelhante ao de kaivalya (o estado de isolamento), com a mente funcionando apenas na medida em que suas próprias latências residuais são capazes e que vivem através do estado de vida provocado por suas impressões latentes. Da mesma forma, os prakrtilayas, ou aqueles cujas mentes retendo impressões latentes permanecem integrados em prakrti (princípio constituinte primário), permanecem em um estado como o de Kaivalya, até que pela força dessas impressões latentes suas mentes se afirmam em flutuação.

20- श्रद्धावीर्यस्मृतिसमाधिप्रज्ञापूर्वक इतरेषाम् ॥२०॥
śraddhāvīryasmṛtisamādhiprajñāpūrvaka itareṣām ॥20॥
इतर [itara] outros (os yogins)* पूर्वक [pūrvaka] priorizando* श्रद्धा [śraddhā] fé, evidência* वीर्य [vīrya] energia, determinação* स्मृति [smr̥ti] memória, lembrança repetida* प्रज्ञा [prajñā] conhecimento transcendental* समाधि [samādhi] concentração (alcançam asamprajñāta samādhi)*
20- Outros (yogins) que seguem a senda da fé reverente, da energia, da lembrança repetida, do conhecimento transcendental e da concentração (alcançam asamprajñāta samādhi).

(Vyāsa): Os yogins adotam estes meios para alcançar (asaṃprajñāta samādhi). A tranquilidade que é vivenciada pela mente através da fé reverente, protege o yogin como uma mãe amorosa. Esse tipo de fé concede ao yogin além do conhecimento discriminativo, energia, que lhe garante uma memória fortalecida, tornando a mente imperturbada e controlada, e possibilita a concentração. Em tal mente surge a luz do conhecimento discriminativo através da qual o yogin compreende a real natureza das coisas. Assimilando tal conhecimento e cultivando o desapego em relação ao conhecível, ele alcança asaṃprajñāta samādhi. ["Smṛti - memória ou recordação repetida é o item principal na prática espiritual (sādhanā). Esta prática pode ser chamada de smṛti-sādhanā. Consiste em recordar o sentimento experimentado no momento da contemplação de um objeto e em sentir o que está sendo lembrado e o que será lembrado. Quando isso é alcançado, a memória é retida firmemente na mente ... O método do smṛti-sādhanā relativo a Deus (iṣṭa-devatā - divindade preferida) é o seguinte: Primeiro, tente lembrar a conexão entre o nome associado à divindade preferida e o próprio Deus. Quando a repetição, mental ou oral, do nome associado (ou o pranava Oṃ) traz à mente a concepção de um Deus insondável e absoluto, então a memória da conexão estará devidamente fixada. Agora, imagine que esta forma da divindade está residindo dentro de seu self interior (cakra do coração). Prossiga: repetindo o nome preferido, lembrando ao mesmo tempo que você está repetindo o nome associado a Deus e que continuará a se lembrar dele. No estágio preliminar, a lembrança de Deus pelo nome preferido pode ser substituída por um Mantra com mais detalhes.] (S. H. A.).

21- तीव्रसंवेगानामासन्नः ॥२१॥
tīvrasaṃvegānāmāsannaḥ ॥21॥
तीव्र [tīvra] ardente, intenso* संवेग [saṃvega] veemente, forte empenho* आसन्न [āsanna] próximo, rapidamente*
21- Para aqueles com intenso empenho, (o samādhi está) próximo.

[" A palavra "saṃvegā" é um termo técnico na ciência do yoga. É encontrada, também. na literatura budista. Significa não apenas desapego, mas também aptidão combinada com um sentimento de reverência na prática devocional (sādhanā) que resulta em ardor de avançar. É como ganhar ímpeto à medida que se prossegue. Quando dotado com impressões latentes de desapego e cheio de entusiasmo e energia, assim, o praticante (sādhaka), regularmente se envolve com intensidade para alcançar o caminho da libertação, e amplia seu ímpeto à medida que avança.] (S. H. A.).

22- मृदुमध्याधिमात्रत्वात् ततोऽपि विशेषः ॥२२॥
mṛdumadhyādhimātratvāt tato'pi viśeṣaḥ ॥22॥
ततस् [tatas] então* अपि [api] também* विशेष [viśeṣa] distinções, diferenciações* त्व [tva] este (empenho)* मृदु [mṛdu] fraco, suave* मध्य [madhya] médio* अधिमात्र [adhimātra] forte, intenso*
22- Mas há diferenciações para este empenho (em razão dos meios empregados) serem fracos, médios ou fortes.

(Vyāsa): A diferença é de vários graus, ié. suave, médio e intenso. Por conta dessa diferença, a obtenção de concentração e seus resultados por yogins com ardor moderado é próxima, com ardor médio mais próxima, e com ardor mais profundo, é iminente. ["sattvika śrāddha (fé reverencial), é considerado o principal meio à prática da concentração e o método mais rápido. Com relação à energia, a forma mais intensa consiste em abandonar todas as outras atividades e ocupar-se, somente, em promover a concentração da mente. A lembrança constante dos princípios constituintes (tattvas), ou seja, das realidades, e de Deus é a melhor forma de conhecimento. Das concentrações, samprajñata é a forma mais elevada entre os tipos sabija, enquanto entre os nirbija, asamprajñata é o melhor. Estes são os melhores meios de alcançar kaivalya ou liberação, que é o principal objetivo da concentração.] (S. H. A.).

23- ईश्वरप्रणिधानाद्वा ॥२३॥
īśvarapraṇidhānādvā ॥23॥
वा [vā] ou (o samādhi é alcançado por)* प्रणिधान [praṇidhāna] devoção, dedicação* ईश्वर [īśvara] puruṣa especial, senhor*
23- Ou (o samādhi é alcançado por), profunda devoção a Īśvara.

(Vyāsa): Através de um tipo especial de devoção chamada īśvara-praṇidhāna, da parte do praticante, Īśvara inclina-se para ele e o favorece com a graça para o cumprimento de seu desejo. De tal graça também um yogin obtém concentração e seu resultado, a obtenção do estado de liberação, torna-se iminente.

24- क्लेशकर्मविपाकाशयैरपरामृष्टः पुरुषविशेष ईश्वरः ॥२४॥
kleśakarmavipākāśayairaparāmṛṣṭaḥ puruṣaviśeṣa īśvaraḥ ॥24॥
ईश्वर [īśvara] īśvara, senhor* पुरुष [puruṣa] puruṣa, self* विशेष [viśeṣa] especial, particular* अपरामृष्ट [aparāmr̥ṣṭa] intocado, não contaminado* क्लेश [kleśa] kleśa (causa do sofrimento)* कर्म [karma] ação* आशय [āśaya] lembrança* विपाका [vipāka] consequência da ação*
24- Īśvara é um Self especial que não é contaminado por kleshas, karmas, lembranças ou consequências das ações.

(Vyāsa): As boas ações ou as más (Klesa ou aflição) e os resultados delas, assim como as impressões subliminares dos resultados das ações, embora subsistindo na mente, são imputadas ao Puruṣa. É por isso que o Puruṣa (Self) é imaginado estar experimentando-as assim como a vitória ou a derrota obtida ou sofrida pelos soldados no campo de batalha é atribuída ao seu comandante. Um Puruṣa especial, que, por causa de sua liberação eterna, não é afetado nem mesmo por um toque de prazer ou sofrimento, é chamado lsvara. Há muitos Puruṣas que atingiram o estado de liberação, cortando em pedaços o tríplice cativeiro. Īśvara não era cativo no passado nem será no futuro. Sabe-se que pessoas liberadas tiveram um estado anterior de servidão, mas o caso de Īśvara não é assim. Os Prakrtilinas têm a possibilidade de escravidão no futuro, mas no caso de lsvara não existe tal possibilidade. Īśvara é sempre livre e sempre supremo. Surge, portanto, a questão de saber se essa supremacia perpétua de Īśvara, por causa da excelência do seu Self, é algo de que há prova, ou é algo sem qualquer prova? A resposta é: "As escrituras são sua prova". Qual é a prova da genuinidade das escrituras? Sua genuinidade é baseada na sabedoria suprema. Os śāstras e sua sabedoria sublime, que estão presentes na mente de Īśvara e Sua preeminência, estão eternamente relacionados uns com os outros. Por estas razões, Īśvara é sempre Īśvara, ié. onisciente e sempre liberado. Sua preeminência nunca é igualada nem superada. O comentarista explica isso dizendo que a excelência de Īśvara é a mais alta excelência insuperável por qualquer outra pessoa e sem qualquer igual. É por isso que a pessoa cuja eminência atingiu o limite é Īśvara. Não há preeminência igual a Dele, porque se houvesse duas pessoas com eminência iguais, mas desejos contraditórios - um desejando que uma coisa fosse nova e outro desejando a mesma coisa ao mesmo tempo ser velha - então o cumprimento das diretivas de uma delas prejudicarão a igualdade de poder da outra ou, se ambas forem igualmente poderosas, suas diretrizes estarão inoperantes. Por essa razão o Puruṣa cuja excelência não tem igual ou nunca foi superado é Īśvara e Ele é esse supremo Puruṣa.

Além disso,
25- तत्र निरतिशयं सार्वज्ञबीजम् ॥२५॥
tatra niratiśayaṃ sārvajñabījam ॥25॥
तत्र [tatra] nele* बीज [bīja] semente* सर्वज्ञ [sarvajña] todo conhecimento, onisciência* निरतिशय [niratiśaya] insuperável (atingiu a plenitude)*
25- Nele (Īśvara), a semente da onisciência atingiu a plenitude.

(Vyāsa): O conhecimento metafísico (sarvajña), vasto ou pequeno, que se encontra em qualquer ser, em relação aos conteúdos do passado, presente e futuro, individual ou coletivamente, é a semente da onisciência. Quando esse tipo de conhecimento em uma pessoa continua aumentando e atinge um estágio que não pode ser excedido, essa pessoa é chamada de onisciente. (O argumento é o seguinte): A semente da onisciência tem graus de desenvolvimento e, portanto, é capaz de aumentar de mais para ainda mais. A pessoa que atingiu seu ponto mais alto é um ser especial que sabe tudo. A inferência que se preocupa em provar certas características gerais prova que existe um Ser onisciente e termina aí; e não pode dar nenhuma informação específica sobre ele. Portanto, Sua descrição, etc., deve ser averiguada nos ágamas ou nos śāstras. Embora Ele não tenha necessidades próprias, o motivo de sua ação deve ser encontrada em sua compaixão pelos seres vivos, em seu desejo de salvar, no tempo das dissoluções do universo, através de suas instruções sobre conhecimento e piedade, os homens que são apanhados no vórtice da existência mundana (ié. ciclo de nascimento e morte). Para esse tipo de compaixão, sua propensão é necessária. Pañchasikha disse em relação a isso: "O primeiro iluminado, o grande Rishi (Kapila), através da compaixão, assumiu uma mente criada e instruiu o inquiridor Asuri sobre o Tantra (a filosofia Sāṃkhya)".

Esse mesmo (Īśvara)
26- स पूर्वेषामपि गुरुः कालेनानवच्छेदात् ॥२६॥
sa pūrveṣāmapi guruḥ kālenānavacchedāt ॥26॥
स [sa] esse (īśvara era)* अपि [api] de fato* गुरु [guru] guru, mestre* पूर्वेषा [pūrveṣā] predecessores, dos antigos* अनवच्छेद कालेन [anavaccheda kālena] sem interrupção (sem limitação); do tempo*
26- Īśvara era guru mesmo dos antigos, pois não é limitado pelo tempo.

(Vyāsa): Não há dúvida que Sábios Ancestrais são limitados pelo tempo, mas esse (Īśvara) a quem o tempo não é fator limitante, era o instrutor até mesmo dos antigos Sábios. Como Ele já estava com Seus plenos poderes no começo do presente ciclo de criação, assim também estava Ele no começo das criações passadas.

27- तस्य वाचकः प्रणवः ॥२७॥
tasya vācakaḥ praṇavaḥ ॥27॥
तस्य [tasya] ele (īśvara)* वाचक [vācaka] (é) expresso* प्रणव [praṇava] (pelo) praṇava (oṃ)*
27- Īśvara é expresso pelo praṇava (Oṃ).

(Vyāsa): Īśvara é indicado pela sílaba mística (Oṃ). Esta relação é uma convenção ou é uma relação permanente como a existente entre a lâmpada e a luz? A relação entre uma palavra e seu objeto é fixa, e na relacionada a Īśvara expressa o que é inerente a ele. Por exemplo, a relação entre o pai e o filho existe e é indicada pelas palavras "este é o pai dessa pessoa, que é o filho dessa pessoa". Em outras criações, também a convenção dependente da relação entre as palavras denotativas e o objeto denotado está em uso. Os sábios, que conhecem os śastras, dizem que, por causa da similaridade de uso, a relação entre uma palavra e o objeto indicado por ela é eterna.

28- तज्जपस्तदर्थभावनम् ॥२८॥
tajjapastadarthabhāvanam ॥28॥
जप [japa] (deve-se realizar) japa (recitação, repetição)* तद् [tad] deste (mantra oṃ)* भावन [bhāvana] contemplar, refletir, meditar* तद् [tad] seu* अर्थ [artha] significado*
28- Deve-se realizar a repetição do mantra Oṃ e meditar sobre o seu significado.

(Vyāsa): A repetição do símbolo (Oṃ) e a contemplação em seu objeto "Īśvara" - provoca o uni-direcionamento da mente de quem está empenhado em repetir o símbolo sagrado e contemplar seu significado. Diz-se que: "Através da repetição contemplativa dos mantras, o Yoga é consolidado através do Yoga, e a inflexão dos mantras é melhorada. Através da glória de tal canto e de tal yoga, o supremo Self (Paramātman) é revelado". ["Os iniciantes que acham mais fácil praticar Īśvarapraṇidhāna (devoção a Īśvara) com a 'forma' escolhida de Deus (Iṣṭa-devatā), devem imaginar uma imagem luminosa de Deus dentro de seus corações (cakra) ... Ao repetir a sílaba mística Oṃ, deve-se imaginar dentro dessa redoma - calma, repousante e feliz. Depois de alguma prática a mente do praticante (sādhaka) se torna um tanto calma e despreocupada e ele é capaz de descansar em um sentimento de placidez, então um céu luminoso, branco, ilimitado e luminoso deve ser visualizado por ele dentro de seu coração. Então, sabendo que o onipresente Deus está penetrando nesse espaço, o sādhaka deve imaginar que seu 'senso do eu', ou seja, todo o seu self (ego) está em Deus que está presente em seu coração. O próximo passo será fundir sua mente na mente de Īśvara que está residindo no espaço vazio em seu coração e descansar em um estado de satisfação, sem qualquer preocupação ou pensamento ... Ao repetir a sílaba mística Oṃ, 'O' é pronunciado comparativamente curto e 'm' prolongado por mais tempo, sem pausa. É melhor repeti-lo mentalmente, em vez de articuladamente ... Há outra maneira de repetir a sílaba mística. Assim, quando 'O' for pronunciado, traga à mente um sentimento de reverencia e quando o 'm' alongado for pronunciado continuamente, persista no sentimento de reverencia. Este processo se for praticado com a respiração, dá melhor resultado. Ao inalar, respirado normalmente, diga mentalmente 'O' e traga à mente a lembrança de um objeto de veneração, depois exale lentamente, pronunciando mentalmente 'm' sem interrupção, mantendo o sentimento do objeto venerado. Por esse tipo de prática, ou seja, repetindo a sílaba mística com lembrança, a mente logo se torna uni-direcionada. Da uni-direcionalidade vem a concentração samprajnata, daí, então, o asamprajnata-yoga é alcançado.] (S. H. A.).

29- ततः प्रत्यक्चेतनाधिगमोऽप्यन्तरायाभावश्च ॥२९॥
tataḥ pratyakcetanādhigamo'pyantarāyābhāvaśca ॥29॥
ततस् [tatas] disso* प्रत्यक् चेतनअधिगम [pratyak cetanā adhigama] (vem) a introversão da consciência ao encontro (com o self)* च [ca] e* अपि [api] também* अभाव [abhava] eliminação, desaparecimento* अन्तराय [antarāya] obstáculo*
29- Disso vem a introversão da consciência para a realização do Self e também a eliminação dos obstáculos.

(Vyāsa): Obstáculos como doença etc. são removidos através de Īśvarapraṇidhāna (devoção a Īśvara), assim o yogin realiza seu próprio Self. Como Deus é puro, feliz, soberano e, portanto Ser livre (mukti), assim é o Puruṣa, que é o refletor de buddhi do sādhaka. É assim que o Self individual é realizado.

Mas quais são esses obstáculos?
30- व्याधिस्त्यानसंशयप्रमादालस्याविरति भ्रान्तिदर्शनालब्धभूमिकत्वानवस्थितत्वानि चित्तविक्षेपास्तेऽन्तरायाः ॥३०॥
vyādhi styāna saṃśaya pramāda ālasya avirati bhrāntidarśana alabdhabhūmikatva anavasthitatvāni citta vikṣepāḥ te antarāyāḥ ॥30॥
व्याधि [vyādhi] doença* स्त्यान [styāna] incompetência, inépcia* संशय [saṃśaya] dúvida, hesitação* प्रमाद [pramāda] negligência, descuido* आलस्य [ālasya] apatia, preguiça* अविरति [avirati] licenciosidade, desejo* भ्रान्ति दर्शन [bhrānti darśana] percepção incorreta, ilusão* अलब्ध भूमिकत्व [alabdha bhūmikatva] falha em atingir estágio (de concentração)* अनवस्थितत्व [anavasthitatva] instabilidade em manter estágio* ते [te] essas* विक्षेप [vikṣepā] pertubações, distrações* चित्त [citta] da mente* अन्तराय [antarāya] (são os nove) obstáculos*
30- Doença, inépcia, hesitação, negligência, preguiça, licenciosidade, ilusão, falha em atingir estágio, e instabilidade em manter estágio; essas perturbações da mente (citta) são os (nove) obstáculos.

(Vyāsa): Existem nove obstáculos que causam as perturbações (vikṣepā) mentais. Estes aparecem junto com as flutuações (vṛtti) da mente. Na ausência dos obstáculos, os vṛttis não se manifestam. Doença (vyādhi) é desordem nos humores (dhatu), nas secreções (rasa) e nos órgãos do corpo (karaṇa). Apatia (styāna) ou indiferença é incapacidade de ação da mente. Dúvida (saṃśaya) é um tipo de pensamento que alterna entre opções, como: 'Pode ser assim, ou não pode ser assim. A negligência (pramāda) é a falta de reflexão sobre os processos de concentração. Preguiça (ālasya) é a falta de inclinação para a atividade física ou mental, apesar de ter a capacidade de agir ou se esforçar. Dissipação (avirati) surge do desejo ou dependência de objetos mundanos. Percepção errônea (bhrāntidarśana) é um pseudo conhecimento. Incompletude de qualquer estágio (do yoga) significa não estar firmemente estabelecido em nenhum dos estados de concentração. A incapacidade de permanecer em um estado refere-se à incapacidade de manter o estado atingido (de concentração). Quando a concentração é estabelecida, a mente (citta) permanece firme no estado atingido. Esses nove tipos de perturbação são chamados de inimigos do yoga ou obstáculos ao yoga.

31- दुःखदौर्मनस्याङ्गमेजयत्वश्वासप्रश्वासा विक्षेपसहभुवः ॥३१॥
duḥkhadaurmanasyāṅgamejayatvaśvāsapraśvāsā vikṣepasahabhuvaḥ ॥31॥
दुःख [duḥkha] dor* दौर्मनस्या [daurmanasya] depressão, desânimo* अङ्ग मेजयत्व [aṅga mejayatva] tremor dos membros* श्वास प्रश्वासा [śvāsa praśvāsā] respiração irregular* सहभुव [sahabhuva] acompanham* विक्षेप [vikṣepa] perturbações, distrações*
31- Dor, desânimo, instabilidade do corpo e respiração irregular acompanham as perturbações.

(Vyāsa): O sofrimento é de três tipos: relacionado ao self (ādhyātmika), causado por alguma outra criatura (ādhibhautika) e de causa supernatural (ādhidaivika). Sofrimento é o distúrbio que leva as criaturas à luta para sua remoção. Desânimo é causado pelo não cumprimento do desejo ou quando se deseja que as coisas não aconteçam. A perturbação do equilíbrio corporal ou da estabilidade resulta em tremores do corpo. Alteração no processo respiratório, de inspirar e exalar, também está associado à perturbação mental. Essas perturbações geralmente ocorrem em um estado de espírito distraído, e não aparecem em uma mente tranquila.

32- तत्प्रतिषेधार्थमेकतत्त्वाभ्यासः ॥३२॥
tatpratiṣedhārthamekatattvābhyāsaḥ ॥32॥
प्रतिषेध [pratiṣedha] prevenir, neutralizar* तत् [tat] essas (perturbações)* अर्थ अभ्यास [artha abhyāsa] realizar a prática (da concentração)* एक [eka] em um único* तत्त्व [tattva] objeto, princípio*
32- Para neutralizar essas (perturbações) deve-se realizar a prática da (concentração) em um único princípio (tattva).

(Vyāsa): Para a eliminação das perturbações, a mente deve ser fixada a um princípio (tattva). Para aqueles (como os budistas) que sustentam que a mente não é senão um estado limitado a um objeto e que não tem substrato - é apenas uma impressão momentânea e, portanto, transitória, a mente sempre será uni direcionada, pois então não pode haver uma mente distraída ou perturbada. Mas a mente torna-se uni direcionada apenas quando é retirada de vários objetos e colocada em apenas um objeto.

33- मैत्रीकरुणामुदितोपेक्षाणां सुखदुःखपुण्यापुण्यविषयाणां भावनातश्चित्तप्रसादनम् ॥३३॥
maitrīkaruṇāmuditopekṣāṇāṃ sukhaduḥkhapuṇyāpuṇyaviṣayāṇāṃ bhāvanātaścittaprasādanam ॥33॥
चित्त [citta] mente* प्रसादनम [prasādana] estabilização emocional, (torna-se) pacificada* भावनातस् विषय [bhāvanātas viṣaya] pelo cultivo* मैत्री [maitrī] amizade* करुणा [karuṇā] compaixão* मुदिता [muditā] satisfação, alegria* उपेक्षा [upekṣā] e pela indiferença, isenção* सुख [sukha] alegria, prazer* दुःख [duḥkha] sofrimento, miséria* पुण्यापुण्य [puṇya-apuṇya] mérito e demérito, vício e virtude*
33- A mente torna-se pacificada pelo cultivo da amizade, da compaixão, da alegria, e pela Indiferença à felicidade, à miséria, à virtude e ao vício.

(Vyāsa): Destes, um espírito de: amizade que deve ser dedicado àqueles que experimentaram a felicidade, compaixão aos que sofrem; alegria aos de caráter virtuoso; indiferença aos de caráter demeritório. Esse tipo de conduta dá origem ao dharma superior, assim, a mente torna-se pura. Uma mente íntegra, uni direcionada, atinge a serenidade.

34- प्रच्छर्दनविधारणाभ्यां वा प्राणस्य ॥३४॥
pracchardanavidhāraṇābhyāṃ vā prāṇasya ॥34॥
वा [vā] ou, (também a mente é pacificada)* प्रच्छर्दन [pracchardana] pela expiração* विधारण [vidhāraṇa] e pela retenção* प्राण [prāṇa] do prāṇa, respiração*
34- Também (a mente é pacificada), pela expiração e retenção da respiração.

(Vyāsa): Expirar é expulsar o ar interno através das aberturas do nariz, por um tipo especial de esforço. Prāṇāyāma é a retenção da respiração. A mente, também, pode ser acalmada ou estabilizada por esses métodos. ["... se prāṇāyāma for praticado sem dhyana (meditação profunda), a mente, em vez de se tornar calma, fica mais perturbada ... Os śastras dizem que a respiração deve estar sintonizada com o conceito de vazio. Em outras palavras, ao expirar, deve-se impor o vazio mental, sem pensamentos na mente. A exalação, assim, acalma a mente; caso contrário, não. O esforço da exalação tem três etapas. Primeiro, o esforço para exalar lentamente; em segundo lugar, o esforço para manter o corpo imóvel e relaxado; e terceiro, o esforço para manter a mente vazia ou sem pensar. Assim deve ser a exalação. Então, permanecer o máximo possível naquele estado de mente vazia é prāṇāyāma ... Para praticar este método, a respiração deve ser exalada com esforço prolongado e apropriado. O corpo inteiro e o tórax devem ser mantidos imóveis e a inspiração e a expiração devem ser feitas pelo movimento dos músculos abdominais. Quando isso é praticado assiduamente por algum tempo, um sentimento feliz de leveza se espalha por todo o corpo ... deve-se observar que tanto o corpo quanto a mente permanecem imóveis e vazios, especialmente no momento da inspiração natural, de maneira não muito rápida; Quando com a prática, ela pode ser continuada por um longo tempo sem interrupção, e pode ser feita sempre que quiser, então a mente se acomoda sem qualquer flutuação e isso pode levar ao estado de concentração (samādhi) ... ] (S. H. A.).

35- विषयवती वा प्रवृत्तिरुत्पन्ना मनसः स्थितिनिबन्धिनी ॥३५॥
viṣayavatī vā pravṛttirutpannā manasaḥ sthitinibandhinī ॥35॥
प्रवृत्ति विषयवती उत्पन्ना [pravr̥tti viṣayavatī utpannā] o desenvolvimento da percepção superior * वा [vā] também* निबन्धनिन् [nibandhanin] causa, traz* स्थिति [sthiti] estabilidade, tranquilidade* मनस् [manas] à mente*
35- O desenvolvimento da percepção superior também traz tranquilidade mental.

(Vyāsa): A percepção sutil do olfato que se obtém ao se concentrar na ponta do nariz é a mais alta percepção do olfato. Da mesma forma, a concentração na ponta da língua leva ao sabor super sensorial, e no palato, cor super sensorial; no meio da língua, tato super sensível; Na raiz da língua, som super sensorial. O despertar dessas percepções superiores estabiliza a mente com firmeza, elimina dúvidas e constitui a porta de entrada para a aquisição de conhecimento através do Yoga. As percepções do sol, da lua, dos planetas, joias ou lâmpadas, etc., também são consideradas percepções objetivas. Os śastras, inferência e instruções verbais dos preceptores podem sem dúvida produzir um conhecimento verídico das coisas, até que pelo método anterior um objeto é trazido à tona da própria percepção, tal conhecimento constituiria um conhecimento indireto, e não seria útil para produzir uma firme convicção em relação a coisas sutis como o estado de salvação, etc. É por isso que, para a remoção de dúvidas a respeito de instruções e conhecimentos adquiridos dos mestres ou dos śastras, ou por inferência, alguma característica específica do objeto deve ser definitivamente percebida. Se uma parte do conhecimento adquirido dos śastras é provada como verdadeira pela percepção direta, então aparece forte evidência em assuntos sutis como a salvação. Esta é a razão para a prescrição do treinamento para purificar a mente. No meio das modificações instáveis da mente, tal conhecimento especial do olfato, som, etc., surge da maneira acima mencionada, e vasikara-samjna, ié, renúncia completa daí decorrente, torna a mente capaz de atingir uma completa realização de tais assuntos. Quando isso acontece, fé, energia, memória e concentração vêm à mente sem qualquer interrupção.

36- विशोका वा ज्योतिष्मती ॥३६॥
viśokā vā jyotiṣmatī ॥36॥
वा [vā] (a estabilidade da mente pode ser alcançada) também* विशोक [viśoka] (pela percepção) viśokā (livre de sofrimento)* ज्योतिष्मती [jyotiṣmatī] radiante*
36- (A estabilidade da mente pode ser alcançada), também, (pela percepção) que é livre do sofrimento e é radiante.

(Vyāsa): As palavras "A estabilidade da mente pode ser alcançada por concentração" estão implícitas neste sutra. A concentração praticada no núcleo mais profundo do coração produz o conhecimento de buddhi. Esse buddhi é resplandecente e, é como ākāśa (ou vazio ilimitado). A habilidade em poder permanecer por muito tempo nessa contemplação desenvolve a percepção, por meio da qual buddhi é percebido como se assemelhasse ao sol resplandecente, à lua, a um planeta ou como uma joia luminosa. Da mesma forma, a mente absorta no pensamento do puro 'senso do Eu' aparece como um oceano sem ondas, plácido e ilimitado, que é o onipresente puro 'senso do Eu'. ''Esta percepção superior chamada viśokā é dupla, uma relativa aos objetos, o outra, relacionada ao puro 'senso do Eu'. São chamadas jyotiṣmatī (refulgente) e, através delas, a mente do yogin alcança a estabilidade.

37- वीतरागविषयं वा चित्तम् ॥३७॥
vītarāgaviṣayaṃ vā cittam ॥37॥
वा [vā] ou* विषय चित्त [viṣaya citta] objeto de percepção (meditando); mente* वीत [vīta] livre, sem* राग [rāga] apego, paixão*
37- Ou meditando sobre uma mente que está livre de paixão.

(Vyāsa): Se um yogin medita sobre uma mente livre de paixão, também, alcança a estabilidade mental.

38- स्वप्ननिद्राज्ञानालम्बनं वा ॥३८॥
svapnanidrājñānālambanaṃ vā ॥38॥
वा [vā] ou* आलम्बन ज्ञान [ālambana jñāna] suporte; conhecimento* स्वप्न [svapna] sonho* निद्रा [nidrā] sono profundo*
38- Ou (a mente do yogin fica estabilizada) quando é apoiada por conhecimentos obtidos do sonho e do sono profundo.

(Vyāsa): O yogin que adota como objeto de concentração as imagens dos sonhos ou o estado de sono (sem sonhos) também pode atingir a estabilidade mental.

39- यथाभिमतध्यानाद्वा ॥३९॥
yathābhimatadhyānādvā ॥39॥
वा [vā] ou* ध्यान [dhyāna] meditação* यथा अभिमत [yathā abhimata] qualquer (objeto) desejável*
39- Ou (a mente se torna estável) através da meditação sobre um objeto desejável.

(Vyāsa): Qualquer objeto considerado apropriado pode ser contemplado. Se alguém consegue estabilizar a mente com um objeto, também, poderá obter estabilidade com qualquer outro objeto.

40- परमाणु परममहत्त्वान्तोऽस्य वशीकारः ॥४०॥
paramāṇu paramamahattvānto'sya vaśīkāraḥ ॥40॥
अस्य वशीकार [asya vaśīkāra] (a mente fica sob controle quando desenvolve) seu (poder) de estabilizar* अन्त परमाणु परम महत्त्वा [anta paramāṇu parama mahattva] entre os limites, pequeno e extrema magnitude, grandeza*
40- A mente fica sob controle quando desenvolve seu poder de estabilizar da menor partícula à maior magnitude.

(Vyāsa): Contemplando coisas sutis, a mente pode alcançar a estabilidade no domínio do átomo. Da mesma forma, contemplando objetos extensos, ela pode se estabilizar no extremamente grande, que é ilimitado. Meditando entre os dois extremos, a mente adquire o poder de se fixar no objeto que desejar. Isso daria completo domínio à mente. Com isso, a mente alcança a perfeição e não há mais necessidade de adquirir estabilidade, nem de nova prática de purificação.

41- क्षीणवृत्तेरभिजातस्येव मणेर्ग्रहीतृग्रहणग्राह्येषु तत्स्थतदञ्जनता समापत्तिः ॥४१॥
kṣīṇavṛtterabhijātasyeva maṇergrahītṛgrahaṇagrāhyeṣu tatsthatadañjanatā samāpattiḥ ॥41॥
वृत्ति क्षीण [vr̥tti kṣīṇa] (quando as) flutuações diminuem* तत्स्थ [tatstha] fixando (a mente em um objeto)* इव मणि अभिजात [iva maṇi abhijāta] (ela se comporta) como uma joia transparente (que assume a forma e as cores dos objetos)* ग्रहीतृ [grahītr̥] (assim) o conhecedor* ग्रहण [grahaṇa] o conhecimento* ग्राह्य (grāhya] conhecido (objeto do conhecimento)* तदञ्जनता [tadañjanatā] (formam um estado de total) identificação* समापत्ति [samāpatti] (chamado) samāpatti*
41- Quando as flutuações diminuem, a mente, ao fixar um objeto, se comporta como uma joia transparente que assume a forma e as cores dos objetos. Assim o conhecedor, o conhecimento e o objeto do conhecimento formam um estado de total identificação, chamado de Samāpatti.

(Vyāsa): Flutuação atenuada refere-se ao estado da mente quando todas as modificações, exceto uma, desapareceram dela. O exemplo escolhido foi o de uma joia preciosa transparente. Assim como um cristal é colorido pelas várias cores das diferentes coisas acima das quais ele se encontra e aparece como tendo a forma da coisa colorida (upaçraya), então a mente repousando sobre um objeto, e absorta nele, parece assumir sua natureza.

42- तत्र शब्दार्थज्ञानविकल्पैः संकीर्णा सवितर्का समापत्तिः ॥४२॥
tatra śabdārthajñānavikalpaiḥ saṃkīrṇā savitarkā samāpattiḥ ॥42॥
तत्र [tatra] neste (o samāpatti)* संकीर्णा शब्द [saṃkīrṇā śabda] em que há a mistura da palavra* अर्थ [artha] do objeto (significado)* ज्ञान विकल्प [jñāna vikalpa] e do conhecimento conceitual* सवितर्का समापत्ति [savitarkā samāpatti] (é conhecido como) savitarka samāpatti*
42- O samāpatti em que há a mistura da palavra, do seu significado (objeto) e do seu conhecimento conceitual, é conhecido como savitarka samāpatti.

(Vyāsa): Explicando: a palavra "vaca", o objeto indicado pela palavra "vaca", a impressão mental criada pela palavra "vaca", que evoca sua forma, vários usos, etc. embora sejam diferentes, geralmente são considerados em conjunto. Mas, sendo diferenciadas, as características da palavra, do significado do objeto, e da ideação tornam-se distintas. Quando a mente de um yogin estiver absorta no pensamento de uma vaca, há a mistura da palavra (vaca), o objeto (o próprio animal) e a ideia da vaca, esse estado é chamado savitarka samãpatti.

43- स्मृतिपरिशुद्धौ स्वरूपशून्येवार्थमात्रनिर्भासा निर्वितर्का ॥४३॥
smṛtipariśuddhau svarūpaśūnyevārthamātranirbhāsā nirvitarkā ॥43॥
स्मृति [smr̥ti] (quando) a memória* परिशुद्दि [pariśuddi] (está) purificada* शून्य स्वरूप [śūnya svarūpa] (a mente) vazia de sua própria natureza (consciência reflexiva)* इव अर्थमात्र निर्भासा [iva arthamātra nirbhāsā] apenas o objeto de concentração brilha sozinho* निर्वितर्का [nirvitarkā] (isto é) nirvitarka (samāpatti)*
43- Quando a memória está purificada e a mente vazia de sua própria natureza (consciência reflexiva), apenas o objeto de concentração brilha sozinho. Isto é nirvitarka samāpatti.

(Vyāsa): "Quando, a memória do significado convencional das palavras desaparece, o conhecimento adquirido através do samãdhi torna-se livre de vikalpa. A verdadeira natureza do objeto contemplado é então revelada e esse estado é chamado nirvitarkã samãpatti ou absorção, livre de pensamento verbal. É a percepção mais verdadeira e é a raiz da inferência e do testemunho da qual derivam. Essa percepção não surge do testemunho ou da inferência. Consequentemente, o conhecimento adquirido por um yogin em um estado de nirvitarka-samãdhi não é influenciado por nenhum outro modo de cognição, apenas é pela percepção direta." - O objeto contemplado em Nirvitarka Samãpatti é conhecido como uma unidade única, como um objeto que é real e como um conjunto de átomos particulares. Tal reunião de todos os átomos constituintes representa suas características comuns e é inferido da sensação e do uso do estado grosseiro manifestado. Aparece em dependência de suas causas. Quando ocorre uma mudança nas características, o conjunto particular também desaparece. Tal conjunto de características é chamado de "todo", que é um, grande ou pequeno, tangível, mutante e transitório, que o torna utilizável na vida prática. Aqueles que não acreditam que essa composição é real e que seus componentes sutis também não são perceptíveis no nirvichara samadhi terão que concluir que, na ausência de um "todo", a cognição de um objeto é errônea porque não corresponde à realidade. Desta forma, quase todas as cognições se tornarão errôneas. Então, qual será o destino do conhecimento válido quando não se encontra nada como seu objeto? Pois tudo o que é cognoscível pelos sentidos é definido como "todo". Por estas razões, deve-se concluir que existe um "todo" que pode ser grande, pequeno, etc. e que forma o objeto do Nirvitarka Samapatti.

44- एतयैव सविचारा निर्विचारा च सूक्ष्मविषया व्याख्याता ॥४४॥
etayaiva savicārā nirvicārā ca sūkṣmaviṣayā vyākhyātā ॥44॥
एतया एव व्याख्यात [etayā eva vyākhyāta] da mesma forma são explicados* सविचारा [savicārā] (o samādhi) savicārā (com reflexão)* च [ca] e* निर्विचारा [nirvicārā] o nirvicārā (sem reflexão)* विषय सूक्ष्म [viṣaya sūkṣma] cujos objetos são sutis*
44- Da mesma forma, são explicados o samādhi savicārā (com reflexão) e o nirvicārā (sem reflexão) cujos objetos são sutis.

(Vyāsa): Destes, a absorção (samādhi) que ocorre na forma grosseira dos elementos sutis condicionados pelo espaço, tempo e causa é chamada savicārā com reflexão. Nele, o objeto de contemplação é reconhecido como uma unidade única de um elemento sutil com características manifestadas e seu conhecimento é adquirido no estado de concentração. Quando, no entanto, o samāpatti ou a imersão em elementos sutis não é afetado por qualquer mutação que possa ocorrer neles no tempo, ou seja, passado, presente e futuro, e se refere ao objeto apenas quando ele abrange todas as propriedades (possíveis) do objeto, e todas as suas posições espaciais (isto é, não são condicionadas pelo espaço), esse tipo de imersão envolvente é chamado nirvicārā. ou sem reflexão. Esse tipo de reflexão verbal colore o conhecimento adquirido em savicārā ou concentração reflexiva. E quando o conhecimento derivado dele está livre da consciência reflexiva e é somente do objeto da imersão, é o nirvicārā. Dos samāpattis, aqueles relacionados a objetos grosseiros são savitarka ou nirvitarka e aqueles relacionados a objetos sutis são savicārā ou nirvicārā.

45- सूक्ष्मविषयत्वं चालिङ्गपर्यवसानम् ॥४५॥
sūkṣmaviṣayatvaṃ cāliṅgaparyavasānam ॥45॥
च विषयत्व सूक्ष्म [ca viṣayatva sūkṣma] e o objeto sutil* पर्यवसान [paryavasāna] se estende* अलिङ्ग [aliṅga] aliṅga (prakṛti)*
45- O objeto sutil se estende até alinga (prakṛti).

(Vyāsa): A forma sutil do elemento kṣiti é o tanmātra (gandha) cheiro, do elemento ap é o tanmātra (rasa) sabor, de elemento tejas (agni) é o tanmātra (rupa) forma, do elemento vāyu é o tanmātra (sparsa) toque, do elemento ākāśa é o tanmātra (śabda) som. A forma mais sutil que tanmātra é ahamkara e a forma ainda mais sutil que ahamkara é o primeiro manifestado mahān ou mahat tattva. A forma mais sutil do primeiro manifestado (mahān) é a não manifestada (prakṛti). Não há nada mais sutil do que a não manifestada. Diz-se que Puruṣa é mais sutil do que isso, a resposta é: 'Isso é verdade, mas a sutileza do Puruṣa não é do mesmo tipo que a da prakṛti não manifestada'. Puruṣa não é a causa material do primeiro objeto manifesto, ié. mahat, mas sua causa eficiente. É por isso que se diz que a sutileza atingiu seu limite em pradhāna ou prakṛti (que é o estado de equilíbrio dos três guṇas).

46- ता एव सबीजः समाधिः ॥४६॥
tā eva sabījaḥ samādhiḥ ॥46॥
ताः [tāḥ] esses* एव [eva] de fato* समाधि सवीज [samādhi sabīja] (são) sabīja samādhi (samādhi com semente)*
46- Todos esses (savitarkā, nirvitarkā, savicārā e nirvicārā) são sabīja samādhis (samādhi com semente).

(Vyāsa): As quatro variedades de absorção descritas anteriormente têm a matéria externa como seus objetos; é por isso que, apesar de serem concentrações, precisam depender de algo para se desenvolver. Dois deles, savitarkā e nirvitarkā, se relacionam com objetos grosseiros, enquanto os outros dois, savicārā e nirvichārā, se relacionam com coisas sutis.

47- निर्विचारवैशारद्येऽध्यात्मप्रसादः ॥४७॥
nirvicāravaiśāradye'dhyātmaprasādaḥ ॥47॥
प्रसाद [prasāda] pacificação, estabilização (da mente)* निर्विचार [nirvicāra] nirvicāra (sem reflexão)* वैशारद्य [vaiśāradya] a lucidez* अध्यात्म [adhyātma] self interior (do intelecto é atingida)*
47- Ao obter a estabilização em nirvichara (samādhi), a clareza intelectual é atingida.

(Vyāsa): Quando as impurezas que obscurecem a natureza iluminadora de buddhi são removidas, há um fluxo inefável de tranquilidade, livre das impurezas de rajas e tamas, e isso é chamado de realização da competência. Quando o yogin obtém tal proficiência na concentração nirvicārā, ele alcança a pureza em seus instrumentos internos de recepção, dos quais ele obtém o poder de conhecer as coisas como elas são, simultaneamente, isto é, sem qualquer sequência de tempo e em todos os seus aspectos; ou em outras palavras, ele adquire a luz clara do conhecimento através do poder de realização. O Mahabharata diz: “Como um homem no topo da colina vê o homem nas planícies, assim alguém que subiu ao palácio do conhecimento e se libertou da dor vê outros que estão sofrendo. ["Esse conhecimento não é produzido como é o conhecimento comum, mas nesse estado todas as propriedades e variações do objeto a ser conhecido aparecem simultaneamente. A cognição direta relaciona-se com aspectos específicos, e atinge o maior desenvolvimento no samãdhi. É por isso que os detalhes últimos são conhecidos por este processo. Os sábios desenvolveram seu conhecimento dessa maneira e o comunicaram a outros na forma de srutis (escrituras). Estes formam a filosofia da salvação."] (S. H. A.).

48- ऋतंभरा तत्र प्रज्ञा ॥४८॥
ṛtaṃbharā tatra prajñā ॥48॥
तत्र [tatra] nesse (estado)* प्रज्ञा [prajñā] o conhecimento transcendente (obtido)* ऋतंभरा [ṛtaṃbharā] (é chamado) portador da verdade*
48- Nesse estado, o conhecimento obtido é chamado Ṛtaṃbharā (portador da verdade).

(Vyāsa): Quando os instrumentos de cognição são purificados, o conhecimento que aparece na mente 'absorta' é chamado Ṛtaṃbharā (literalmente cheio de verdade pura) justificando o nome dado a ele. Ele retém e sustenta a verdade sozinho, sem nenhum traço de equívoco. Diz-se sobre isso: "Conquista-se através do estudo das escrituras, por inferência e pelo apego à prática da meditação, desenvolvendo uma percepção intensa nestes três caminhos, o yoga perfeito (ou sem sementes, ou seja, a concentração sem objeto)".

49- श्रुतानुमानप्रज्ञाभ्यामन्यविषया विशेषार्थत्वात् ॥४९॥
śrutānumānaprajñābhyāmanyaviṣayā viśeṣārthatvāt ॥49॥
अन्य [anya] é diferente* प्रज्ञा [prajñā] do conhecimento (obtido) através* श्रुता [śruta] tradição oral, testemunho* अनुमान [anumāna] da inferência* अर्थत्व विशेष विषया [arthatva viśeṣa viṣayā] (porque) relaciona-se com característica particular, do objeto*
49- É diferente do conhecimento obtido através do testemunho ou da inferência porque relaciona-se com as características particulares dos objetos.

(Vyāsa): O que vem de outras fontes, como a derivada de instruções recebidas, diz respeito a generalidades. Tais instruções não podem descrever propriedades particulares completamente porque as palavras não podem descrever características particulares, uma vez que não se destinam a significar tais características. Assim também no caso de inferência como foi dito antes (Sutra I.7) que onde quer que haja mudança de posição infere-se que há movimento, onde não há tal mudança não pode haver inferência de movimento. Assim, por inferência, apenas conclusões gerais podem ser alcançadas. É por isso que nenhum objeto de comunicação verbal ou inferência pode ser particular. Além disso, uma coisa que é sutil, escondida da vista ou situada à distância, não pode ser conhecida pela observação comum. Ao mesmo tempo, não se pode dizer que não exista uma coisa particular que não pode ser obtida por comunicação verbal, inferência ou observações ordinárias. O conhecimento de detalhes relativos aos elementos mais sutis ou ao receptor semelhante ao Puruṣa (Mahat) é, no entanto, obtido pela iluminação adquirida através do Samadhi. Portanto, esse conhecimento particular é diferente do conhecimento (geral) derivado da comunicação verbal ou inferência.

50- तज्जः संस्कारोऽन्यसंस्कारप्रतिबन्धी ॥५०॥
tajjaḥ saṃskāro'nyasaṃskārapratibandhī ॥50॥
संस्कार [saṃskāra] a impressão latente* तद् जः [tad jaḥ] produzida por (ṛtaṃbharā prajñā)* प्रतिबन्धिन् [pratibandhin] bloqueia* अन्य [anya] outras* संस्कार [saṃskāra] impressões latentes*
50- A impressão latente nascida de (ṛtaṃbharā prajñā) bloqueia as outras impressões latentes.

(Vyāsa): As impressões latentes de insights obtidos pela concentração (samādhi) inibem as impressões latentes da vida empírica. Quando as impressões latentes da vida empírica são subjugadas, nenhuma modificação cognoscível pode emergir dela. Quando as modificações são restringidas, o samādhi; ou concentração é alcançado. Daí vem o conhecimento do samādhi que gera impressões latentes de tal conhecimento. É assim que novas impressões latentes crescem. Pode-se questionar por que tal profusão de latências não abre a mente para a mutabilidade. A resposta é que essas latências sendo destruidoras da aflição não criam uma disposição para a mutabilidade. Por outro lado, elas desviam a mente de suas tendências (de produzir modificações). O esforço mental existe até a aquisição do conhecimento discriminativo.

51- तस्यापि निरोधे सर्वनिरोधान्निर्बीजः समाधिः ॥५१॥
tasyāpi nirodhe sarvanirodhānnirbījaḥ samādhiḥ ॥51॥
तस्य अपि निरोध [tasya api nirodha] também com a supressão disso (das impressões causadas por ṛtaṃbharā prajñā)* निरोध सर्व [nirodha sarva] e da supressão (de todas outras impressões)* निर्बीज समाधि [nirbīja samādhi] (surge o) nirbīja samādhi (absorção sem semente)*
51- Com a supressão das impressões causadas por 'ṛtaṃbharā prajñā' e da supressão de todas outras impressões surge o nirbīja samādhi.

(Vyāsa): Essa concentração sem objeto não é apenas diferente do samprajñāta samādhi, mas também se opõe à formação de impressões latentes desse samādhi, porque as impressões latentes do nirodha, que é a completa paralisação da modificação, ou aquelas do supremo desapego, destroem as impressões latentes de samprajñāta samādhi. A partir do conhecimento da duração do tempo durante o qual a mente parou seu funcionamento, a existência da impressão latente daquele estado aprisionado pode ser inferida. Nesse estado, a mente se funde em sua causa constituinte, a sempre presente prakṛti, junto com as impressões latentes do samprajñāta samādhi, bem como com tais impressões latentes que levam ao kaivalya ou ao estado de liberação. É por isso que as impressões latentes de tal conhecimento destroem a disposição para a mutação e não contribuem para a continuidade da mente, porque com o término de tal predileção, a mente deixa de atuar à medida que as impressões latentes que levam à salvação se acumulam. Quando a mente deixa de funcionar, Puruṣa fica isolado em Si mesmo, e é por isso que Ele é então chamado puro e liberado.

(Aqui termina o Capítulo sobre Concentração com a primeira parte dos Comentários de Vyasa conhecida como Sāṃkhyapravacanasūtra sobre a filosofia do Yoga de Patañjali.)


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